Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quarta-feira, 21 de março de 2007

Esotérico ou Exotérico?

Descobri a utilidade do pessoal do serviço social: incitar-me o pensamento ou me lembrar de coisas que há muito eu dizia mas tinha esquecido. Trata-se da questão do conhecimento esotérico e do conhecimento exotérico. De acordo com o dicionário Aurélio, "exotérico" é relativo a um ensinamento que pode ser aberto ao público, enquanto "esotérico" é relativo a um ensinamento que não o pode. Essas palavras foram mais usadas no passado sobre o ensinamento de ordens e fraternidades secretas, mas hoje reaparece em um outro contexto: a academia, ou melhor dizendo, o meio acadêmico.
Tem gente dentro de uma universidade (principalmente nos cursos de humanas) pensando que as discussões que ali se levantam são apenas para os "iniciados", isto é, para aqueles que a academia reconheça serem seus membros plenos: graduados, pós-graduados, professores e intelectuerdas de plantão. É fácil reconhecer esse povo: reúnem-se em grupos para discutir cinema francês, arte contemporânea e o "pós-modernismo" (seja lá o que raios queiram dizer com essa expressão absurda), fazem caras de desprezo quando olham para pessoas que não pertençam a grupos como os deles e possuem um comportamento um tanto afetado. Quando você pergunta o que quiseram dizer, apelam para pessoas como Deleuze, Sartre, Heidegger e outros filósofos de difícil compreensão apenas para transmitir a aparência de erudição. Eu me pergunto se eles realmente leram esses autores ou apenas citam porque acham os nomes bonitinhos - e, se eles leram, me pergunto se eles realmente entenderam...
O resultado dessa prática estapafúrdia é o isolamento do pensador com relação ao objeto pensado. Como os monges medievais, esses "santos doutores" versados no alemão e treinados no exterior se enclausuram nos muros de um estado de coisas irreal chamado universidade e esquecem que a realidade, que o mundo, está lá fora e não tem mais nada a ver com o que se está fazendo. De que me adianta ser capaz de definir com precisão o que Sartre disse sobre a responsabilidade do homem se eu não sou capaz de por isso em prática e tentar fazer alguma coisa pela sociedade? São seres que não devem ter coragem de expor-se ao mundo, e por isso construíram um mundo só para eles. Isso seria admirável se esse mundo novo fosse para todos e fosse melhor do que este aqui de fora.
Na Antigüidade, as humanidades eram ensinadas de uma maneira muito diferente do que é feito hoje. Nada de prédios ou salas fechadas, mas sim um passeio pela cidade ou por um jardim. Nada de um professor todo-poderoso que se vale do princípio da autoridade (eu sou professor, logo o que eu falo está certo) para ensinar, mas uma conversa informal entre amigos. Nada de uma pauta rígida e calcificada que atende a muitos interesses menos os do aluno, mas uma conversa inspirada por algo que fosse visto na hora. Nada de diplomas, títulos e toda essa parafernália, mas sim os singelos títulos de mestre e discípluo. Mesmo Platão, o primeiro reitor e administrador escolar de toda a História, teria um ataque cardíaco só de ver em que a instituição que ele idealizou se tornou. Até Aristóteles (um dos santos desse povinho esquisito) ricularizaria a academia, a universidade dos dias de hoje.
Não adianta nada termos muitos pensamentos bonitos e coloridos se eles ficam trancados e enclausurados nos mosteiros de nossos tempos. O Pensamento é uma força viva, capaz de mudar a vida de qualquer um com quem entre em contato. Muitos amigos meus se tornam outras pessoas depois que lêem alguma bobagenzinha que eu escrevo ou digo ou então lêem algum dos livros que eu citei, e percebo que o mesmo se dá com todas as pessoas que eu conheço e partilham a opinião que diz que "o conhecimento quer ser livre". O Pensamento é capaz de permitir a pessoa melhorar de vida, pois mostra a ela que uma condição melhor está ao seu alcance e ensina como proceder para atingi-la. O Pensamento permite a pessoa a compreender melhor a si mesma e ao mundo que a cerca, e a aproveitar melhor esse conhecimento.
"Qual seria a tarefa dos estudiosos de todas as áreas?" é uma pergunta que pode ser feita agora, e a qual eu respondo com muita certeza (ainda que essa senhora seja caprichosa e enganosa): "leve o Pensamento às pessoas, pois elas precisam muito mais dele do que nós." Principalmente os acadêmicos das ciências humanas, bases necessárias para todas as outras, mas todos os acadêmicos deveriam se tornar peripatéticos, isto é, ensinar ao povo enquanto anda pelo meio dele. Só assim poderíamos vencer a inércia do nosso mundo e aspirar a realidades melhores.

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