Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Como uma tarde sem graça de sexta-feira...

Caros amigos e inexisentes leitores e visitantes desta cela virtual no manicômio chamado "Casa de Saúde e Repouso Realidade", faz algum tempo que eu não brindo vocês com alguma reflexão espontânea sobre o mundo. Eu digo espontânea porque a que eu escrevi faz uns dias sobre seres perfeitos nada mais foi que um exercício de filosofia analítica - insípida demais para a alma humana, que nunca é pequena. Faz um tempo que eu não paro para cuidar de meu jardim, e sempre quando faço isso saem alguns pensamentos interessantes (ou diarréias mentais, de acordo com algumas pessoas que não saberiam distinguir rebimboca da parafuseta de rebimbeta da parafusoca...), e este faço questão de compartilhar com todos vocês.
Passei a tarde de sexta-feita, dia 21 de dezembro de 2007, na companhia de uma pessoa que me é muito querida, e nesse meio tempo fomos para Ipanema passar a tarde em uma pracinha muito agradável que existe por lá. Não me perguntem o nome da praça, nem o nome da rua em que ela se encontra: só sei dizer que é em frente à igreja de Nossa Senhora da Paz (ou da Glória). Mas o nome não importa nada: como diria o Sábio e Filósofo Antoine de Saint-Exupéry, nós não conhecemos uma pessoa por saber o nome dela. Não é uma praça muito grande, para ser exato... ela é do tamanho de um quarteirão, ou pouca coisa menor do que isso. Mas ela tem um jeitão de pracinha de cidade interiorana, com crianças brincando, um laguinho decorado para o Natal, jardinzinhos, pipoqueiros e floreiros. Enfim, trata-se de um reduto de paz no meio do caos urbano, um lugar especial no qual ainda dá para se entregar ao exercício da suprema vagabundagem que é chamado pelos intelectuerdas de plantão de "filosofar".
Ali eu sentei em um dos muitos banquinhos e me entreguei à vadiagem suprema que é o exercício do pensamento. Fiquei absorto observando algumas crianças jogando futebol, aproveitando uns coqueiros como traves, os casais passando de mãos dadas pelos passeios da praça e o céu nublado, meio cinzento, nem quente nem frio. Uma tarde que pra muitos mortais seria extremamente sem graça para mim e para as crianças estava sendo fantástica. Isso porque nós (eu e as crianças) sabíamos o valor daquela tarde, em que nada importava senão o momento em que se estava. Vivíamos o hoje, sem pensar no ontem e no amanhã. Eu sempre soube que as crianças sabiam viver, e tento resgatar isso em mim o máximo que der - pra isso serve a Filosofia, não a filosofia das academias, mas a Filosofia.
Os dias poderiam transcorrer como tardes sem graça de sextas-feiras. Não todos os dias, senão seria enjoativo demais... um pouco de agitação faz bem pro espírito, e uma espada que fica tempo demais na sua bainha termina por enferrujar. Mas alguns dias, a maioria dos dias, quase todos eles, poderiam ser como essas tardes que passamos nas pracinhas da vida, se soubermos apreciar a graça desse divino presente com olhos de criança. Lembrei-me de Lulu Santos, que diz em um de seus clássicos: "Tudo o que se vê não é/Igual ao que a gente viu há um segundo/Tudo muda o tempo todo/No mundo", ao perceber o quanto era importante aproveitar aquele momento que nunca mais aconteceria neste mundo possível.
Então eu me percebi ali como o único cidadão que estava parado de alguma forma, contemplando aquilo tudo tal como fazemos com os animais no zoológico, mas isso não me incomodou. Os casais estavam passeando, as crianças brincando, tinha até um babaca filosofando e tudo isso estava compondo o belíssimo instantâneo daquele momento de vida. Aquela sensação nunca será esquecida, pois pertence ao mesmo tipo de sensação que eu tive quando parei para ouvir o Samu em Ilha Grande. Hoje eu entendi o que raios eu senti entre as delícias e os regalos de ver aquele camarada dizendo, ao seu próprio modo, que nós, ditos homens letrados, estamos muito longe de qualquer coisa que se possa chamar "vida" ou "verdade" ou qualquer merda que estejamos procurando como nossa principal questão espiritual. Hoje eu posso dizer pra vocês o que eu senti lá e o que eu senti nessa pracinha: a própria presença do Absoluto, ou pelo menos a forma com que ele se mostra aos homens nas mais simples e fundamentais verdades da vida.
Preocupem-se menos. Trabalhem menos. Essas duas coisas gastam o seu tempo de vida, que é mínimo, com assuntos que não lhes farão bem nenhum. Estudem apenas aquilo que vocês quiserem estudar, pois nenhuma erudição do mundo revelará essas grandiosas verdades do Universo (ou, como diria Mestre Heráclito - eu acho -, "muito conhecimento não ensina sabedoria"). Amem mais e brinquem mais, pois essas atividades são as mais sublimes expressões do espírito, e Deus se manifesta na vida de quem se abre para elas. Plantem uma árvore, já que um dia elas vão acabar. Façam mais essas pequenas coisas, elas é que importam. Divirtam-se mais. Escutem os loucos como eu, pois às vezes o que eles dizem pode ser de alguma valia.

Essa é a mensagem de Natal e Ano Novo do louco que escreve aqui no Tarja Preta. Muita Paz Profunda para todos vocês!

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