Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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domingo, 9 de maio de 2010

Por que devemos meditar?

Caro leitor

O texto que se segue é uma reflexão que escrevi há um ou dois anos atrás. Ela dialoga com outras duas reflexões minhas, uma delas intitulada "Como ser feliz?" (disponível em http://tarja-preta-e-alucinogenos.blogspot.com/2009/04/como-ser-feliz.html) e a outra intitulada "O eu-infantil e o eu-adulto: como reaprender a ser quem se é" (disponível em http://tarja-preta-e-alucinogenos.blogspot.com/2007/04/o-eu-infantil-e-o-eu-adulto-como.html). Será preciso ler as duas para compreender a reflexão abaixo. Boa leitura.

Um dos caminhos para a sabedoria é a meditação. Os místicos antigos chamaram-na de transe, enquanto alguns filósofos usaram a expressão "suspensão do juízo". Prefiro este termo à meditar, pois ele indica mais precisamente o que temos que fazer.
Meditar, ou suspender o juízo, é contemplar o mundo sem querer entendê-lo. É na simples contemplação, sem o anteparo do entendimento, que podemos enxergar aquele Ser em Sua Unidade. É parar de aplicar a racionalidade e entregar-se à Unidade com aquele Ser. Por isso que a meditação é um caminho que conduz à sabedoria.
Aquele que quer se tornar sábio precisa se entregar a essa contemplação com quietude de mente e de alma. Se não apartar sua mente e sua alma da contemplação elas o atrapalharão, pois já estão mais do que acostumadas a impedir o homem de atingir a sabedoria. Para meditar é necessário reeducar a mente e a alma, para que elas possam ajudar em nossa busca pela sabedoria. O sábio não precisa de tanto esforço, pois ele já reeducou sua mente e sua alma. O sábio vive em constante suspensão de juízo.
Quando meditamos com seriedade de propósito e com pureza de coração aquele Ser se revela a nós. Devagar e aos poucos vamos reconhecendo nas coisas a Unidade entre elas e entre elas e aquele Ser. Essa contemplação vai nos guiando lentamente para cada vez mais próximo daquele Ser, até nos abandonarmos de tal forma a Ele que seremos uma Única coisa com Ele.
Mas como meditar? Primeiro precisamos reeducar mente e espírito. Isso é necessário porque mesmo se estivermos concentrados uma mente e um espírito rebeldes nos atravessarão com pensamentos totalmente alheos ao nosso propósito, se não estiverem sintonizados com nossos propósitos. Infelizmente a mente é mais fácil de ser reeducada do que o espírito, pois este nos atravessa com pensamento mais fortes e mais involuntários do que aquela.
Para reeducar a mente e o espírito existem muitos métodos, alguns deles incorporados pelas diversas religiões ao redor do mundo. O mais usado é a repetição de preces ou mantras de acordo com uma seqüência pré-determinada. Assim, os católicos romanos e ortodoxos, os budistas e outras religiões têm seus colares de contas de meditação, ou terços, ferramentas poderosas para a reeducação da mente e do espírito porque possuem um foco material para a atividade. Os mantras, comuns ao longo da Ásia, trabalham mais com a alma do que com a mente, e por isso muitos ocidentais acham-nos tediosos e impraticáveis. Mas o propósito é o mesmo, não importa a ferramenta: reeducar mente e espírito.
Para aqueles que têm dificuldades com esses métodos ou não conhecem outros, pode ser bastante difícil meditar. Essas pessoas podem experimentar sentar-se confortavelmente em um lugar calmo e tranqüilo, fechar os olhos e escutar o som ao seu redor sem tentar identificá-los. Ambientes naturais pouco movimentados, como reservas florestais ou montanhas, são os ideais, mas não estarão disponíveis para todos; o próprio quarto de dormir, no horário em que todas as pessoas dormem, serve suficientemente bem se você deixar as janelas abertas. Se o ambiente escolhido for silencioso ao extremo não haverá problemas, pois não importa estar ouvindo algo mas estar se concentrando em ouvir; se mesmo isto for difícil repita uma prece, mantra ou frase em voz baixa incessamente e concentre-se na sua própria voz. É importante concentrar-se nos sons mas não em entendê-los. No início será difícil ouvir os sons e ativamente não os entender, pois a mente e o espírito são traiçoeiros, mas aqueles que perseverarem consiguirão.
Após conseguir concentrar-se nnos sons sem procurar entendê-los ou identificá-los experimente fazer a mesma coisa mas de olhos abertos e procurando não entender ou identificar o que se vê. Isso é bastante difícil, e por isso recomenda-se que seja feito em ambientes pouco familiares à pessoa. Quando você conseguir deliberadamente não entender ou identificar o que você vê e o que você escuta, o que pode levar anos, você terá reeducado a mente e o espírito tão eficientemente que conseguirá fazê-lo sem esforço no meio de sua vida cotidiana. Você pode até fazer isso como um exercício, pois a mente e o espírito precisam ser exercitados da maneira correta, como os músculos, para não atrofiarem.
Quero ressaltar que isso é apenas um meio entre muitos pelos quais a mente e a alma podem ser reeducados.
Depois de reeducar mente e espírito seremos capazes de meditar. Na verdade a transição entre reeducação da mente e do espírito e meditação de fato é tão sutil que você já estará meditando sem perceber. Pois meditar nada mais é que permitir que as coisas falem de si mesmas para nós ao invés de querer atribuir a elas significados, intenções, rótulos, identidades, etc. Quando você deliberadamente não entende ou identifica as coisas você abre espaço para apreendê-las de um outro modo, que as revelará em sua Unidade com aquele Ser que É o que É.
Quando no silêncio da mente e da alma olhamos para as coisas vemos os elos que interligam tudo, mas não vemos esses mesmos elos nas coisas. Ao meditar olhamos para dentro de nós mesmos e aí encontramos todos os elos que interligam todas as coisas e vemos, também, a Unidade e a Unicidade de todas as coisas com aquele Ser. É quando atingimos esse momento que Ele fala conosco, que Ele se mostra a nós. Acabam-se os medos, as incertezas, pois deixamos nossa individualidade, nossa identidade, nos despimos dessas coisas como as roupas velhas que são e recebemos vestes novas, que são aquele Ser em Sua totalidade. Nós nos abandonamos a Ele, e passamos a ser Ele.
Por isso devemos meditar, pois apenas assim aquele Ser pode nos tornar sábios. Apenas assim nós nos abandonamos a Ele, deixamos de ser nós e somos Unos com Ele, que Tudo É. A meditação, pois, nos leva à sabedoria, que é reconhecer que todas as coisas são uma só.

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