Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Como ser feliz?

Caríssimos, este é um dos outros textos que prometi. Abraços!

Certas vezes acreditamos precisar de muitas coisas para sermos felizes. Natural em uma sociedade que associa o ter com o ser. Mas falhamos sobremaneira em perceber que precisamos de muito menos do que acreditamos para realmente sermos felizes.
Um bom exemplo é dado por uma estória que ouvi, ou li, faz algum tempo. Nela um homem começava a viver acreditando que precisaria de muito para ser feliz, mas conforme ia envelhecendo percebia que não precisava de tantas coisas quanto acreditava. No final, em seu leito de morte, ele realizou que precisava apenas dele mesmo para ser feliz, e que havia desperdiçado sua vida inteira nessa busca inútil. Inútil porque ele procurara nos lugares errados, fora e longes de seu coração. Pois em verdade digo que a felicidade está no coração do homem.
Por que não percebemos isso? É uma pergunta válida, visto que algo tão próximo assim deveria revelar-se imediatamente ao homem. Há dois motivos para isso. Um deles, facilmente comprovado pela experiência de vida, é que falhamos em perceber as coisas mais óbvias. Prova disso é que as pessoas hoje procuram remédios ou psicólogos para resolver os problemas de sua alma. Preferem ser clinicamente loucas a ouvirem a voz de seus íntimos quando esta diz coisas que não se encaixam no esquema da sociedade.
O outro motivo é justamente a sociedade, que entulha o homem e sua alma com inumeráveis detritos. Ao alimentar no homem certos desejos ela o cega para suas reais necessidades, e assim o homem jamais atinge a felicidade. Pois ao homem basta a si mesmo, não precisa de carros, jóias, estudo ou o que quer que valha. Essas coisas são, na melhor hipótese, ficcções úteis; mais realisticamente, cadeias para a alma. Muito conhecimento não dá no homem sabedoria, como apontara Heráclito certa vez; tampouco um carro o levaria até ela, e jóias o preparariam para recebê-la.
A sabedoria conduz o homem à felicidade, e, insisto, o homem basta a si mesmo apra ser feliz, pois ele basta a si mesmo para ser sábio. Quando o homem é verdadeiramente sábio ele saberá como ser feliz, ou melhor: o homem sábio necessariamente se conduz à felicidade.
Mas em que consiste essa sabedoria, verdadeira panacéia para a alma humana? Sábio é o homem que reconhece que todas as coisas são uma só. O ignoranta vê indivíduos; o instruído vê gêneros; mas o sábio vê apenas uma única e mesma coisa. Descartes acertou sabiamente quando disse que matéria é extensão, mas errou em admitir a multiplicidade dos entes. Por existe apenas um Ser, Aquele que É o que É, e tudo o que existe, que um tolo diz serem coisas distintas umas das outras, nada mais é que Sua extensão.
O sábio, que é quem reconhece em todas as coisas a Unidade e unicidade com aquele Ser que É, não tem mais preocupações. Sua mente se aquieta, porque ele vê em tudo todas as coisas. O homem que é sábio basta a si mesmo para conhecer, porque em um grão de areia está escrita toda a Criação, em um sopro de vento aquele Ser que É o que É se mostra em Sua totalidade e, assim, todo o resto se revela. O sábio vê aquele Ser em sua plenitude, intui Sua Vontade e age de acordo. O sábio não passa necessidades porque sabe como evitá-las. O sábio não encontra dificuldades porque em uma única coisa, que é única com aquele Ser, ele já conhece o que tem que conhecer e sabe tudo que precisa saber. O sábio não luta contra vida, que ele sabe ser o movimento que aquele Ser imprime em toda a sua extensão.
Em que consiste a felicidade e por que apenas o sábio a atinge? A esta altura mesmo um adulto conseguiria responder, pois uma criança já sabe a resposta. O sábio, que partilha mística e ativamente a Unidade com o Ser que É, vence as ilusões do mundo artificial da sociedade, ele enxerga diretamente para o Ser, que se mostra nas coisas, e sabe que ele e Ele são a mesma coisa. O sábio então atinge a verdadeira felicidade: a total Unidade como esse Ser, de tal modo que o sábio perde sua identidade e sua individualidade e funde-se à desse Ser, e então ele e Ele são a mesma coisa.
Nossa sociedade luta ativamente contra isso, da mesma forma que um parasita mantém seu hospedeiro vivo enquanto lhe convém. Nós não precisamos da sociedade, assim como a célula não precisa do organismo. A sociedade não vive ou sequer existe sem nós, assim como o organismo precisa de suas células. Por isso ela fecha os olhos dos homens para a sabedoria e para a felicidade, oferecendo simulacros destas para aquele.
O homem basta a si, e dessa verdade, que não é a maior mas é a primeira, a sociedade e os homens têm muito mesmo. Aquela porque a verdade seria o golpe fatal; estes porque aquela lhes incultiu o medo. Mas é preciso libertar-se, e isso foi o que o Grande Mestre quis dizer com "Segue-me". Nós podemos ser felizes, mas precisamos nos tornar sábios antes.

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