Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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terça-feira, 5 de junho de 2007

Matando as saudades falando de saudades

Faz um tempo que eu não publico nada aqui no Tarja Preta, e isso tem um motivo: eu ando sem tempo até para respirar, e brindar os meus inexistentes leitores com material que valha a pena ser lido é algo que não é tão simples assim de fazer. Mas hoje eu resolvi tirar um tempo e aproveitar a minha lendária falta de sono para rabiscar algumas coisinhas e compartilhá-las com vocês. Estou com saudades de escrever aqui, e nada mais natural que eu fale um pouco sobre a crise de saudade sem motivo que estou sentindo hoje.
De vez em quando me bate umas saudades de eu não sei o que nem sei por quê. É uma sensação de ter perdido algo que não se conhece, ou de estar longe de lugares em que nunca se esteve, ou de amar alguém que há muito não se vê e nunca se conheceu - eu sei que é alguma coisa muito estranha, mas é assim que eu me sinto de vez em quando. Hoje, por exemplo: estou voltando de uma comemoração de aniversário, o que aumenta ainda mais a estranheza dessa sensação sem motivos. Na verdade não é estranho não, pois sempre que eu vou a algum lugar em que em tese eu deva me divertir eu acabo voltando com essa crise de saudades sem motivos, mais ou menos forte de acordo com o lugar ou com o que eu vi nesse lugar. É como se eu não pertencesse mais a este mundo e sentisse falta dele, e esses momentos alegres mostrassem com determinação o que eu estou perdendo por estar do outro lado. Eu sei que quando eu bater na cama e dormir eu esquecerei tudo isso, mas não sei se isso me serve de consolo.
Mas o que é esse sentimento que chamamos de saudade? De acordo com os dicionários, é a sensação de falta gerada pela ausência ou privação de algum objeto ou pessoa estimado. Dizemos que sentimos saudades de um lugar quando não visitamos por muito tempo, ou que estamos com saudades de uma pessoa quando ela desaparece de nossas vidas. Mas isso não explica casos como o meu, isto é, sentir saudades de coisas que não se conheceu, lugares em que não se esteve, pessoas que nunca
se conheceu. Tudo bem, tem o sentimento de falta, mas tem algo a mais aí que não está aparecendo claramente aos meus olhos. Saudade é isso, sentir falta? Sendo assim eu vivo com saudades do dinheiro e do conforto, por exemplo - e eu tenho a certeza que isso não se aplica aqui. Será que o emocional entra nessa história de saudade, quer dizer, saudade é sentir falta de algo que se estima muito? Pode ser, mas ainda eu continuaria sentindo saudades do meu dinheiro. Será que envolve amor? Pode ser, saudade pode ser sentir falta daquilo que se ama.
Só que agora eu não engoli bem essa minha definição: como eu posso amar uma coisa que eu nunca vi, um lugar no qual eu nunca estive, uma pessoa que eu não conheço - e melhor, que eu seria incapaz de dizer qual é. É amor ao vazio? - pois apenas amor ao vazio explicaria esse aparente paradoxo. Isso é estranho, definitivamente. De acordo com uma amiga minha, tem um cara chamado Jung, e ele era mais louco que a maioria dos filósofos: ele afirmava, entre outras coisas, que um sentimento pode ter sua origem no futuro da pessoa, e ele pode ser sentido de maneira retroativa. Isto é, sofremos pela falta de coisas que amaremos no futuro - mas que não amamos agora. Esquisito... para isso ser possível eu teria que ter uma concepção do tempo que permitisse viagens temporais ou alguma coisa do tipo.
Só sei que minha saudade não passa.

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