Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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segunda-feira, 11 de junho de 2007

A Diferença entre o Significado e o Valor de Verdade de uma Proposição: Como Dizer o Não-Ser

Caros amigos e inexistentes leitores, hoje eu retorno a postar aqui no Tarja Preta temas um pouco mais sérios. Tomei essa decisão inspirado em uma das comunidades do orkut da qual participo, Filosofia da Linguagem – mais precisamente, um tópico em que eu desenvolvi uma breve demonstração da distinção entre o significado de uma proposição e seu valor de verdade. Observando essa diferença, ignorada desde Parmênides e seu célebre "pois pensar e ser é o mesmo", podemos afirmar que é possível sim afirmar proposições falsas, isto é, que possuam valor de verdade negativo, mas que ainda possuam sentido. Na comunidade (clique aqui para ler a discussão em seu contexto original) eu desenvolvi os argumentos com pressa e resumidamente, como deve ser em uma discussão no orkut; aqui eu pretendo explicar com mais calma essa questão e, quem sabe, clarear um pouco essa questão na mente dos senhores.
A primeira coisa que temos que ter em mente quando falamos em linguagem é o conceito de proposição – e assim eu devo, também, proceder para que meu raciocínio seja claro e inteligível. Por proposição estou entendendo uma figuração verbalizável de um estado de coisas possível, não necessariamente atualizado, isto é, uma representação do tal estado de coisas que pode ser transcrita para algum meio de expressão verbal. Por sentido de uma proposição eu estou entendendo como sendo o estado de coisas que a proposição figura. Por estado de coisas eu estou entendendo qualquer possível combinação de objetos do mundo, quer essa combinação aconteça factualmente ou não. Por objetos eu estou entendendo as entidades que compõem o mundo e lhe conferem substância, sejam eles materiais ou não. Não cabe, no âmbito desta discussão, apontar quais são os objetos do mundo – isso é tarefa para aqueles que desejam ver utilidade prática e imediata em tudo aquilo que lêem, e, sinceramente, não é do meu interesse desvelar todo o jogo das caixinhas para vocês.
Bem, agora que foi estabelecido o sentido das expressões que serão muito usadas ao longo deste texto, vamos ao argumento – ele é simples em sua aparência, mas requer dos leitores algum conhecimento de lógica para compreender os passos que estejam sendo dados. Tomemos uma proposição p qualquer que figure um estado de coisas a qualquer. Se ela possui sentido (isto é, se ela é inteligível para qualquer falante competente do idioma no qual p é proferida), então p é uma figuração de a, quer a seja apenas possível, quer seja atualizado. O valor de verdade de p não depende de seu sentido, isto é, da configuração de a, mas sim do fato de a ser apenas possível ou ser atualizado. Por exemplo, é patente que a proposição "o Lula é um político honesto" seja falsa, mas somos capazes de compreendê-la porque conseguimos juntar os objetos Lula, político e honesto em um mesmo estado de coisas – o que prova que esse estado de coisas é possível, embora não atualizado. Assim sendo, temos que o sentido de uma proposição é independente do seu valor de verdade.
Aí entramos no famoso paradoxo de Russell, aquele que diz que não se pode determinar o sentido da proposição "eu estou mentindo", pois se ela for verdadeira, o falante estará mentindo e se ela for falsa o falante estará dizendo a verdade. Mas em conformidade com o que eu estabeleci anteriormente eu digo que é possível, sim, determinar o sentido desta proposição, e ele vai depender única e exclusivamente do fato do falante estar mentindo ou não – e independe do valor de verdade dessa proposição. Qualquer um consegue compreender essa proposição, isto é, imaginar um estado de coisas que seja descrito por ela. Para se determinar o valor de verdade de "eu estou mentindo", é preciso olhar para este estado de coisas e verificar se ele é apenas possível ou é atualizado. Para "eu estou mentindo" ser verdadeiro, o falante deve estar falando algo verdadeiro.
Nesse ponto temos o "pulo do gato": apelando para a significação da proposição, se esta for verdadeira de fato o falante vai estar mentindo, e se a proposição for falsa ele vai estar dizendo uma verdade. Assim, se a proposição "Eu estou mentindo" é verdadeira, o sentido da proposição - o falante estar mentindo - se realiza: ele mente ao dizer que mente, logo o estado de coisas descrito pela proposição se realiza e, por isso, a proposição é verdadeira. Se a proposição é falsa temos que o sentido da proposição não se realiza: o falante não mente ao dizer que mente, logo o estado de coisas descrito pela proposição não se realiza e, portanto, a proposição é falsa.

Um comentário:

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado

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