Manual de Instruções

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sexta-feira, 25 de março de 2011

OTAN acha que pode dar all-in com um par de dois...

A Líbia se transformou na mais recente pedra no sapato da política e do capitalismo dos países do Norte. A OTAN apostou tudo com um simples par de dois nas mãos (no pôquer, é a mão mais fraca possível), a França e a Inglaterra casaram as apostas e as três agora estão percebendo que só tem a perder nessa história. Enquanto isso, Obama veio pechinchar o petróleo brasileiro e Berlusconi deu a maior mostra de bom-senso nessa história toda (o que apenas contribui para deixar a OTAN, França e Inglaterra no ridículo, já que o premiê italiano é famoso por tudo, menos por ter bom-senso).

Mas por que a idéia de combater o regime de Muammar al-Gaddafi (como ele prefere a latinização de seu nome) é uma idéia ruim? Nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros argelino, Mourad Medelci, a intervenção estrangeira na Líbia vai validar futuras ações terroristas no plano ideológico. Al-Gaddafi pode não ser a pessoa mais popular no mundo árabe, mas caso ele morra ou caia será rapidamente alçado ao posto de mártir da guerra contra o Ocidente, e a jihad que ele tanto prega será exponencialmente impulsionada. Sua derrota fará com que grupos terroristas que ele financia ou que se sentem inspirados por sua retórica sintam a necessidade de vingar seu mentor.

Por outro lado, agora que a OTAN iniciou um estado de guerra contra al-Gaddafi (interessante que, apesar dos ataques militares contra os partidários do atual governante, ainda não houve uma declaração formal de guerra contra o regime líbio, o que é contra as convenções internacionais sobre o assunto) ela não poderá simplesmente virar as costas e deixar tudo como estava – ou pior, ela não pode sequer ser derrotada. Retirar-se da luta ou perder para as tropas pró-al-Gaddafi significa assumir incompetência – talvez por isso que os EUA, traumatizados pelo "sucesso" no Vietnã e no Afeganistão, tenham tirado o corpo fora. Pior ainda: se al-Gaddafi sair vitorioso todo o seu discurso, toda sua retórica e todo o seu exemplo serão validados, dando um fim aos vários levantes democráticos que aquela região do mundo tem experimentado.

Eis o cenário: se al-Gaddafi morrer ou for deposto, vira mártir; se ele vencer ou a OTAN e companhia se retirarem do conflito, farão papel de palhaços e adeus aspirações democráticas no Oriente Próximo. De qualquer maneira, a OTAN e aliados vão perder nessa história toda, e de quebra ou teremos um aumento dos atentados terroristas ao Ocidente, validados por uma retórica que exigirá vingança, ou os sonhos democráticos dos moradores daquela região serão varridos do mapa. Tudo bem que não é a primeira vez que eles metem os pés pelas mãos, mas desta vez apostaram alto demais.

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