Manual de Instruções

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quinta-feira, 17 de março de 2011

Hora de colocar as barbas de molho...

Os eventos ocorridos recentemente em solo nipônico certamente me deixaram com a pulga atrás da orelha. No dia no qual escrevo, por exemplo, li em um jornal (sou adepto da informação impressa, haja o que houver) que os níveis em radiação em Tóquio estão mais altos do que deveriam estar, e que é bem possível um acidente nuclear de proporções comparáveis apenas às de Chernobyl ou Three Mile Island (link pra quem não conhece o caso: http://en.wikipedia.org/wiki/Three_Mile_Island_accident), evento com o qual, em minha opinião, o drama dos japoneses mais se assemelha. O pronunciamento do Imperador Akihito em rede nacional, uma quebra do protocolo religiosamente seguido pela família imperial japonesa, apenas confirma que o estado geral das coisas é, na melhor das hipóteses, muito grave.

Mas por que me preocupar com isso, já que existem pelo menos 21Mm de superfície terrestre separando o Brasil do Japão? Vamos começar pelas semelhanças entre o cenário antes da tragédia e o cenário brasileiro atual. Um país acostumado a eventos naturais traumáticos, o Japão tem por hábito construir prédios resistentes a quase toda sorte de cataclismo natural ao qual eles estão sujeitos. A usina de Fukushima, por exemplo, foi planejada para resistir a terremotos (e subseqüentes tsunamis) de até 7,0 graus na escala Ricther – só que as estruturas tiveram que enfrentar um tremor fortíssimo de 9,0 graus, 100 vezes mais poderoso (se minha memória sobre funcionamento de escalas logarítmicas estiver correta) do que estavam preparadas para suportar. Com relação às usinas nucleares é preciso que eles sejam tão cautelosos, pois mais de um quarto da energia elétrica consumida pelo país é gerada por elas.

Aqui no Brasil temos quase três usinas nucleares e um centro de beneficiamento de urânio, todos no Rio de Janeiro, embora não precisemos delas: nossas hidrelétricas são, seguramente, a fonte mais confiável de energia elétrica que teremos pelos próximos trezentos anos. Nós não temos o hábito de construir nossos prédios de modo a resistirem às tragédias naturais, ainda que estejamos expostos a elas (os tornados no Sul e uma previsão de tornado para Angra dos Reis – justamente onde ficam as usinas – mostram que a frase "no Brasil não acontecem tragédias naturais" é mito). Pior do que isso: nós armazenamos nosso lixo radioativo em contêineres selados em blocos de concreto e estocados em armazéns de superfície como aqueles que vemos em qualquer cais de porto. Imagine um tornado passando pela região dos armazéns – ah, eu disse que há um tornado que possivelmente esteja indo para lá?

Não quero fazer discurso contra usinas nucleares, até mesmo porque há países que dependem quase que exclusivamente dessa forma de geração de energia elétrica, mas são eventos como esses do Japão que nos levam a pôr as barbas de molho – exceto os russos, que confiam demais no próprio taco e anunciaram um aumento no seu programa nuclear pacífico. É preciso repensar muita coisa, principalmente aqui no Brasil se quisermos lançar mão de um recurso do qual não precisamos. Será que se Fukushima fosse no Brasil, teríamos esperança de algum dia conter o desastre? Será que se tudo aquilo que aconteceu no Japão tivesse acontecido por aqui, teríamos um número tão baixo de mortos (nota: olhando apenas pelo ponto de vista impessoal dos números, em um cenário de dez ou quinze milhões de pessoas, trinta mil mortos é um pequeno número, inferior a um por cento do total)?

Esperemos bom senso dos lobbystas da energia atômica no Brasil. Talvez esperar o inferno esfriar seja mais viável, mas ainda assim, esperemos. Do contrário, bem, Fukushima está aí para nos contar o que acontecerá.

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