Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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segunda-feira, 9 de abril de 2007

Da realidade do medo

Sentir-se com medo ou deprimido não é demonstrativo de loucura - até bem porque quase nunca se vê um louco que não seja a pessoa mais alegre do mundo particular em que vive. São sentimentos até normais no mundo caótico e degenerado de nossos dias, ainda que ninguém goste de admiti-los. Não sabemos como será nosso dia de amanhã, e isso nos preenche com medo. Não sabemos as conseqüências de nossos atos, e isso nos inunda com o medo. Desconhecemos causas para sermos felizes, e isso nos deprime. Coisa normal demais, tão normal que todos em algum momento de suas vidas passam por fases em que sentem muito medo ou depressão.
O problema nessas horas é quando nos deixamos dominar por esses sentimentos. Sim, pois eles sempre parecem mais fortes do que nós, ainda mais nas situações em que tipicamente eles costumam aparecer: nos nossos momentos de fragilidade. Eles surgem como uma sombra aparente inofensiva, mas que vai tomando um vulto tão grande e intimidador que parece querer esmagar-nos com sua simples presença. Eles surgem nos meandros da mente e lentamente vão caminhando para o subconsciente e para o consciente, fazendo-se sentir mesmo quando não pensamos em nossos problemas ou mesmo não estamos acordados.
Isso acontece porque a maioria de nós se esqueceu do grande poder que a mente e a vontade possuem sobre a realidade tal como ela aparece aos nossos sentidos. Em outras palavras, o mundo é para nós tal como queiramos que ele seja. Como a maior parte das pessoas se esqueceu disso, elas deixam essa função no automático, e o mundo passa a aparecer para essa pessoa nos padrões pré-estabelecidos pelo consenso. Isto é, se eu não usar a minha vontade para perceber o mundo tal como eu queria, eu perceberei o que a maioria está percebendo. A isso eu chamo realidade consensual.
Mas o mundo é diferente para as pessoas que se lembram ou aprenderam o potencial da vontade sobre a aparência da realidade. O mundo deixa de aparecer tal como a maioria das pessoas o percebe e passa a aparecer tal como esse iluminado quer percebê-lo. A mente possui muito mais poder sobre a aparência da matéria do que se possa imaginar. Quando uma pessoa se apercebe desse potencial dela, ela se torna senhora de seu destino, pois o mundo passa a aparecer da maneira que essa pessoa deseja que seja. Essa é uma das chaves para a felicidade: perceber que nossa vontade pode modelar a aparência do mundo.
Mas neste ponto aparece uma questão muito mais freqüente do que se possa imaginar: mas por que se fala na aparência da realidade, e não na realidade mesma? A resposta parece trivial, mas mesmo uma pessoa não acostumada com a filosofia existencialista percebe que tem muito mais coisa na frase "não atingimos a realidade, apenas a aparência dela". Explicando em poucas palavras: não podemos chamar de realidade aquilo que nossos sentidos alcançam perceber, ou então realidade seria um conjunto de impulsos nervosos recebidos e interpretados pelo cérebro. Além disso, não temos como saber se os nossos dados sensoriais coincidem com a realidade, visto que não temos como nos afastar de nossas percepções para averiguar isso. Portanto, o que existe de realidade para cada um de nós é apenas a aparência dela, e é com essa aparência que se deve trabalhar.
Quero ressaltar um ponto muito importante aqui: em nenhum momento estou reduzindo ou negando a importância dos dados empíricos. Pelo contrário: estou afirmando que tudo o que chamamos realidade se define por eles e chegam a nós por intermédio deles. Essa posição não é uma refutação ao empirismo, mas sim um empirismo muito radical que subordina toda a realidade aos dados empíricos. Diferentemente do racionalismo clássico, formulado por nomes como Aristóteles e Descartes, que afirmam existir uma realidade universal e idêntica para todas as pessoas ao mesmo tempo, esse empirismo radical afirma que existem tantas aparências de realidade quantos são os seres capazes de perceber alguma aparência de realidade, desde a bactéria unicelular até gênios como Descartes ou Einstein.
Agora a pergunta "se a realidade existe para o homem apenas como uma aparência, recebida pelos órgãos sensoriais e interpretada pelo cérebro, podemos interagir com outras pessoas?" se mostra muito mais preocupante, pois, pelo o que vimos nos parágrafos anteriores, não temos como saber como a realidade é e, por extensão, não temos como saber como a realidade aparece para as outras pessoas. Mesmo uma resposta negativa não seria muito satisfatória, pois ela aparentemente negaria um dado que nossos sentidos recebem e nosso cérebro interpreta continuamente. A despeito de qualquer análise, essa pergunta admite duas respostas apenas: ou sim, ou não. Mas, como toda boa questão filosófica, a justificativa para essas respostas é que complicam todo o assunto. Analisemos o drama: se respondermos sim, devemos explicar como podemos interagir com outras pessoas sem ter como saber se elas estão percebendo o mundo (isto é, o não-eu) da mesma maneira que nós; se respondermos não, devemos explicar por qual motivo nossos dados empíricos afirmam gritantemente que interagimos com outras pessoas.
Parece-me que a justificativa para ambas as resposta passa pelo mesmo caminho: considerar que não podemos atingir a realidade, mas sim sua aparência. Mas por conta disso torna-se impossível responder "não" à pergunta proposta anteriormente, visto que essa negativa negaria, por extensão, a existência de outras coisas no mundo que não seja eu. Isso torna simplesmente impossível qualquer forma de conhecimento ou comunicação objetiva, já que simplesmente não existe nada no mundo; em outras palavras, qualquer conhecimento ou comunicação não passaria de especulação ou divagação particular. Seríamos como pessoas enclausuradas em ambientes herméticos a sonhar acordadas que existe um mundo ao nosso redor. O problema dessa resposta, e por isso que vou rejeitá-la, pelo menos por enquanto, é que seria uma imensa coincidência que quase todas as pessoas considerem que os objetos caem depois de serem atirados para cima, ou que a mordida de um cachorro cause dor, ou outros dados empiricamente aceitos como verdadeiros. Ou seja, responder "não" força que exista uma configuração bastante improvável de mundo.
Por outro lado, responder "sim" à pergunta proposta traz a seguinte questão: "então, como saber se as outras pessoas estão entendendo o que eu digo da mesma maneira que eu?" Simplesmente não há como, visto que o que se passa no cérebro das outras pessoas não é acessível aos nossos sentidos. Mas devemos concordar as respostas, comportamentos ou outras manifestações que possam ser percebidas empiricamente permitem ao falante perceber de alguma forma se o ouvinte aparenta ter compreendido, e assim pelo menos se salvam as possibilidades de comunicação e conhecimento positivos.
Após essa ligeira discussão sobre a natureza da realidade voltemos ao que realmente interessa. Tendo entendido essa pequena exposição, fica fácil perceber que existe como não se deixar dominar por esses sentimentos de medo ou depressão. Agora parece muito trivial dizer que esses problemas existem porque você quer que eles existam, embora dizer isso de início pudesse parecer grosseria de minha parte. Agora você conhece um dos segredos da felicidade: você constrói sua felicidade a partir daquilo que você pensa, daquilo que sua vontade direciona sua vida. Você é aquilo que se projeta ser, e você projeta seu ser por meio do seu pensamento e sua vontade. Isso implica você é aquilo que você projeta sua vontade, e que sua vida é como seus pensamentos são. Por isso eu sempre digo: pensamento positivo! Se você pensa coisas boas, coisas boas virão ao seu encontro; se você pensa em justiça, a justiça virá. Mas se o medo e o desespero estão em seu pensamento, o medo e o desespero serão atraídos para sua vida.
Com isso tudo eu quero dizer algo muito simples e, como toda coisa simples, complexa demais para ser vista sem a ajuda de uma outra pessoa: você e a aparência de realidade são tais como sua mente e sua vontade projetam. Há uma diferença muito importante entre você e a aparência de realidade serem projetos da mente e da vontade e você e a aparência de realidade serem tais como a mente e a vontade desejam. No primeiro caso se verifica um processo de construção, um encadeamento lógico de causas que culminam em uma única conseqüência derivada logicamente das causas dadas; no segundo caso se verifica uma manifestação direta (e, portanto, sem bases lógicas) de uma opinião ou um querer que nem sempre é possível. Por exemplo, toda criança um dia quis ser astronauta, caubói, o Super-Homem, ou qualquer outra coisa do tipo – e quase nenhuma delas realizou seus desejos. Somos projetados por nós mesmos, e assim o é, também, a aparência de realidade.
Concluindo essa pequena amolação, digo simplesmente que não são os males que nos atingem, mas nós que nos cercamos deles. Para eliminá-los, devemos antes reconhecer que um dos segredos da felicidade está nessa capacidade de projetar a si mesmo e a aparência de realidade em que vive, capacidade essa inata a qualquer ser capaz de perceber a realidade. Só a partir disso seremos capazes de projetarmos a nós mesmos e um mundo tal como quisermos.

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