Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carta Aberta de um Brasileiro em Apoio ao General Santa Rosa

Caro leitor

Acredito que você não me conheça pessoalmente e esteja se questionando sobre como esta carta foi chegar em sua caixa de entrada, portanto apresento-me antes de começar. Meu nome é Luís Fernando Carvalho Cavalheiro, 24 anos, cidadão brasileiro e professor de Filosofia formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É na qualidade de cidadão brasileiro que eu tomo a liberdade de me dirigir a você, caro leitor, para desabafar.
Eu há muito tempo jurei não falar ou escrever mais sobre política a não ser por exigência da profissão. Em minha adolescência tive meus ideais e participei de movimentos políticos, mas a decepção inerente ao amadurecimento conduziu-me a um exílio auto-imposto durante o qual tratei de cuidar de minha vida. Decidi escrever poesia ruim, literatura de má qualidade e outras coisas cuja função nada mais era que distrair minha cabeça do rumo político que nosso País vem tomando nos últimos dez anos. Ao leitor atento da História é possível perceber os muitos abusos aos quais nosso povo foi submetido, mas nunca se percebeu o requinte de crueldade e a sutileza verificada nos últimos tempos. Aguentei mudo muito mais que Atlas suporta em seus ombros de acordo com o poeta Homero, tudo em nome do meu bem-estar e, por que não dizer, aquela "consciência" covarde, passiva e inativa de que, para citar Aristóteles em sua Etica, "uma andorinha só não faz verão". Argumentos como "o povo tem o que merece" serviam para silenciar-me e cuidar de outras coisas, ou pelo menos me justificavam a minha inação.
Mas não posso mais suportar ver um governo democraticamente eleito manobrar a lei para instaurar um totalitarismo da pior espécie. O caso do general Santa Rosa (leia em http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1485711-5601,00-GENERAL+QUE+CRITICOU+PROGRAMA+DE+DIREITOS+HUMANOS+E+EXONERADO.html e http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/10/brasil,i=172690/GENERAL+DO+EXERCITO+E+EXONERADO+POR+CRITICAR+PROGRAMA+DE+DIREITOS+HUMANOS.shtml, só pra citar duas fontes) foi, para mim, a culminância de uma profunda indignação que se acumula desde que nós vimos um popular assumir o governo e limitar-se ao populismo e ao paternalismo getulista barato. Para os que não sabem, o general Santa Rosa foi exonerado da chefia do Departamento Geral de Pessoal do Exército Brasileiro por uma nota atribuída a ele (ver a nota no Anexo I a esta carta). Pesquisei a internet e não achei nenhum site que explicitamente fosse mantido pelo citado general e que contivesse a tal nota, mas admito que posso não ter procurado o suficiente e portanto não vou me estender sobre a veracidade da atribuição da autoria. Fato é que a exoneração foi feita a pedido do senhor ministro da Defesa, Nelson Jobim (um civil). Decidi ler a tal nota para descobrir o que de fato poderia ser considerado tão ofensivo ao ponto do senhor ministro pedir a exoneração do general.
Sabem o que eu encontrei? O texto de um homem culto apontando fatos históricos e questionando a idoneidade do atual governo para analisar os crimes cometidos pelo regime militar. A argumentação do general Santa Rosa parte de uma análise e de um paralelismo e encadeia logicamente proposições de tal modo a concluir que se os beneficiados da Lei da Anistia integrarem a Comissão da Verdade, esta não atingirá seus objetivos.
Vamos por parte. Não é segredo para o leitor atento da História de nosso País que muitos membros da alta cúpula do Partido dos Trabalhadores participaram de atos no mínimo suspeitos para combater o regime militar. Assaltos a bancos, sequestros e até mesmo atos de terrorismo e guerrilha foram usados pelos inimigos do regime então vigente. A Lei de Anistia, assinada pelo general Figueiredo (se me lembro bem), veio para corrigir algumas injustiças, mas acabou beneficiando também aqueles que lançaram mão da sedição e da violência para conseguir seus objetivos. Acabou-se o período do regime militar em 1984, e desde então a presença desses getulistas doutrinados pela foice e martelo de Moscou tornou-se praticamente um fator comum nos corredores do poder.
Na época eles se colocavam como defensores das liberdades individuais, coisa que supostamente não havia durante os governos militares, mas a prática deles hoje é diferente. Por dizer a verdade um general foi exonerado de seu cargo de chefia. Minorias barulhentas - quase todas coordenadas ou controladas por esses mesmos senhores que trocaram as AK-47 pelas Medidas Provisórias - impõem suas vontades até mesmo sobre o processo democrático, esquecendo que o Estado Brasileiro é um Estado de direito, plural, democrático e proponente da isonomia. A transparência dos atos públicos (outro ponto defendido por esses senhores hoje no poder) permaneceu no campo do discurso. Leis e medidas provisórias aprovadas na surdina implantam um chavismo declarado na administração pública, e quando um cidadão se insurge contra isso essa curriola lança a máquina pública (já devidamente controlada) sobre o pobre e indefeso coitado. Todos sabem como os principais cargos da administração pública são distribuídos entre os membros da camarilha ignorando o critério da competência mas o critério da participação nas lutas contra o regime - de outro modo, como alguns ministros chegaram às cadeiras que ocupam hoje? O que impede o governo de colocar ex-guerrilheiros, ex-terroristas e ex-criminosos de qualquer espécie, hoje membros das altas cúpulas dos princpais partidos de esquerda no Brasil, para chefiar a Comissão da Verdade?
Não posso me silenciar mais, caro leitor. Esse aviltre, esse achincalho aos direitos mais básicos de um cidadão sob governo democrático não pode ser bovinamente tolerado pelo povo de nosso País. Um homem, cidadão brasileiro, é punido severamente por dizer a verdade! Será que o governo tem medo de quem diz a verdade? Peço ao caro leitor que me diga em que parte da nota supostamente escrita pelo general Santa Rosa encontra-se uma inverdade? Vejo antes um texto arrazoado e muito bem fundamentado demonstrando que é preciso idoneidade para formar a tal Comissão, e que muitos membros do alto escalão do governo não a tem. Manifesto aqui, explicitamente, meu total apoio ao general Santa Rosa neste caso. Vejo-o aqui como um homem injustiçado, pois disse a verdade e foi duramente punido. Seu exemplo inspirou-me a sair de meu auto-imposto silêncio sobre política, e imploro ao caro leitor que também se mire nele, um homem que foi punido por dizer a verdade, por querer o melhor para o nosso País.
Ao caro leitor que acompanhou meu desabafo, peço muito obrigado por ter lido esta carta e peço também desculpas pelo tempo que lhe tomei. Sei que posso fazer pouco e que este texto não terá a amplitude que eu gostaria, mas autorizo ao caro leitor retransmiti-lo. Este é o pequeno esforço de um brasileiro para construir o País em que ele deseja sinceramente viver.

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2010
Luís Fernando Carvalho Cavalheiro

Anexo I

Comissão da calúnia.
A COMISSÃO DA “VERDADE”?

A verdade é o apanágio do pensamento, o ideal da filosofia, a base fundamental da ciência. Absoluta, transcende opiniões e consensos, e não admite incertezas.
A busca do conhecimento verdadeiro é o objetivo do método científico. No memorável “Discurso sobre o Método”, René Descartes, pai do racionalismo francês, alertou sobre as ameaças à isenção dos julgamentos, ao afirmar que “a precipitação e a prevenção são os maiores inimigos da verdade”.
A opinião ideológica é antes de tudo dogmática, por vício de origem. Por isso, as mentes ideológicas tendem naturalmente ao fanatismo. Estudando o assunto, o filósofo Friedrich Nietszche concluiu que “as opiniões são mais perigosas para a verdade do que as mentiras”.
Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.
A História da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar trinta mil vítimas por ano no reino da Espanha.
A “Comissão da Verdade” de que trata o Decreto de 13 de janeiro de 2010, certamente, será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder.
Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou.
Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma “Comissão da Calúnia”.
General do Exército Maynard Marques de Santa Rosa"

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