Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A verdade sempre liberta (José Serra)

Nota: restransmito o artigo a seguir do sr. José Serra por considerá-lo equilibrado, importante e pertinente ao momento histórico em que vivemos. Há os que discordem das visões políticas desse senhor, mas não há como discordar da validade de seus argumentos neste artigo.

A verdade sempre liberta
José Serra
Disponível em http://www.joseserra.com.br/archives/artigo/a-verdade-sempre-liberta e publicado em O Globo em 25/10/2011.

"Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página – não para esquecê-lo, mas para não deixá-lo aprisionar-nos para sempre." – Desmond Tutu

Está na reta final o debate no Congresso sobre a Comissão da Verdade, cuja missão será também elucidar o destino dos brasileiros que desapareceram na resistência, armada ou não, à ditadura. É justo que suas famílias e amigos recebam do Estado a explicação definitiva sobre os fatos, a ser registrada pela história. Pois, se governos mudam, o Estado é um só, há uma linha de continuidade institucional.

O projeto da Comissão da Verdade ficou empacado por um bom tempo, por causa de erros cometidos pelo governo anterior. Misturaram-se três assuntos: o direito à verdade propriamente dita, o sacrifício de pessoas inocentes em ações das organizações armadas que contestavam o regime e o desejo de responsabilizar criminalmente os agentes desse regime envolvidos na violência contra a oposição da época. Um desejo que não encontra sustentação legal. Neste caso, o impasse só foi superado depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela vigência da Lei de Anistia de 1979, considerando que ela foi recepcionada pela Constituição.

A Lei de Anistia foi uma conquista das forças democráticas, foi arrancada do regime militar após uma ampla mobilização política e social. E é também produto da sua época e da correlação de forças daquele momento. O STF julgou bem, ao não desfazer aquele acordo, que, no balanço final, foi positivo para o Brasil, permitindo uma transição menos atribulada para a democracia. No trade-off, o país saiu ganhando.

A anistia acabou permitindo uma reconciliação verdadeira. Diferentemente de outros países, evitamos aqui alargar o fosso entre o corpo militar e a sociedade. E Forças Armadas respeitadas, coesas e integradas à institucionalidade democrática são um pilar fundamental da estabilidade e da afirmação nacionais. É importante que a Comissão da Verdade, agora em debate no Senado, com a competente relatoria do senador Aloysio Nunes, do PSDB, cujo substitutivo melhora o projeto saído da Câmara, parta das premissas certas.

Seu objetivo não deve ser promover um ajuste de contas parajudicial com personagens do passado. Isso, aliás, cairia facilmente na Justiça. Muito menos deve se deixar atrair pela tentação de produzir uma história oficial. Ou uma narrativa oficial. Precisará, isto sim, concentrar todas as energias na investigação isenta e objetiva. E não na interpretação.

Para tanto, é preciso garantir a ela uma composição pluralista, o que deveria ser de interesse do próprio Executivo, pois seria péssimo se a Comissão da Verdade tivesse seu trabalho questionado por abrir as portas ao facciosismo, à parcialidade e ao partidarismo. É ilusão imaginar que um assunto assim poderia ficar livre de olhares político-partidários, mas é importante minimizar o risco. E para isso a pluralidade é essencial.

Tampouco será o caso de transformar a comissão em órgão certificador de papéis históricos. Não caberá a ela fazer o juízo de valor sobre cada personagem. Seria uma espécie de crueldade pretender realizar a posteriori o julgamento histórico-político de cada ator da época. Sabe-se que o homem é ele mesmo e suas circunstâncias. O comportamento sob tortura, apenas como exemplo, jamais poderá ser objeto de juízo moral posterior. Sob pena de estimular a inversão de papéis e a execração das vítimas.

No fim dos anos 60 e começo dos anos 70 do século passado, o Brasil foi palco de variadas formas na luta contra o regime. Cada um de nós é livre para olhar aquele período e concluir o que foi certo e o que não foi na resistência à ditadura. É um olhar político. E é natural que cada um enxergue o passado à luz de suas convicções atuais. O complicador aparece exatamente aqui: as convicções atuais são também fruto da experiência acumulada, incluindo os erros passados.

Não se trata aqui de ceder ao relativismo, mas deixar cada um com o seu papel. As instituições fazem o seu trabalho e os historiadores fazem o deles. Parece-me uma boa divisão de tarefas.

Por último, reitero uma convicção que já expressei em público. É fundamental para qualquer país não ter medo do passado. A transparência sobre acontecimentos recentes é importante para construir uma sociedade ainda mais democrática. O exemplo a seguir poderia ser o da Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul. As palavras do grande bispo Desmond Tutu, presidente dessa comissão, deveriam servir de guia para todos que queiram, com sinceridade, enfrentar os desafios do presente.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma estrofe livre e solta

Às vezes sinto saudades daquilo que não faço mais
Quando palavras fluíam soltas pela alma que se apraz
Do carinho que um dia rosas dividiram na paz
De dois corações que jogaram a felicidade na aguarraz

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Versos (primeira parte)

Versos (primeira parte)
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

A alma que canta
Com seus versos encanta
A tristeza que decanta,
A felicidade que suplanta,
E o temor que se espanta
Com a dor que ali se conta

E em seu cantar triste
Com o refrão em riste
A alma muito insiste
No verso que conquiste
O sonhar que persiste
Ao acordar que se desiste

E ao pássaro suspira
Ao sonho roubado inspira
À imagem que se despira
E chorando logo partira
Com o canto que insistira
Viver o verso de mentira

Louco, muito louco
Pobre poeta que canta pouco
Com versos de deus rouco
À musa de ouvido mouco
Sem vida n'alma tampouco
Imagem de seu sonho oco


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ao meu mestre, sobre o Amor

Ao meu mestre, sobre o Amor
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Ah, mestre... Finalmente te entendi
Quando disseste que o amar é louco
E podemos ser fiéis a duas pessoas
A uma amaremos com a mente em si
Enquanto à outra o coração canta rouco
E aos dois amores o bom Deus abençoa

Custou-me crer em tua santa sapiência
E em teu domínio sobre nossos segredos
Guardados fundo no sombrio da alma
Mistérios negros para os quais a ciência
É eficiente como um barco aos rochedos
Soçobrado indefeso pelas águas calmas

Sei agora da verdade de teu Ensinamento
Quando a loucura iluminou meus olhos
E removeu as viseiras cegas do vulgo
Agora meu amar não jaz solto ao vento
Mas devotado às musas como espólio
Testamento poético do sentir fecundo

À Dama da Noite, minha Marília eterna
Peço que não me negues teu doce beijo
Se discordares do que aprendi do Amor
Pois teus olhos guiam-me como lanternas
Levando-me pela estrada do teu desejo
Que contemplo como à tua rosa em flor

Permita-me amar-te como o Mestre diz
Tu, que já viste em meus olhos o espírito
Que anima minha pena a esta canção
Para nós dois a moralidade não condiz
Pois, bravio, o sentimento causa frêmitos
Que guardam o segredo da pura emoção

E a ti, bom Mestre que amar me ensinou
Agradeço como nunca por ter respondido
O enigma que me conduzia à demência
Agora posso dormir, a mente se acalmou
Amar sem da felicidade ter me evadido
E ter a Dama da Noite em minha essência

--
Que a Paz esteja contigo,
Luís Fernando

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Despedida

Despedida
por Nada (http://cancoesdeupoetamorto.blogspot.com)

Queria ter me despedido melhor de ti
Antes de rumar para o reino dos mortos
Terra de uivos agudos e céus cinzentos
Onde não há espaço pro amor, pro sorrir

Não há como fugir do chamado de Uriel
Que ceifa os mortais para o eterno sono
Onde existe o ranger de dentes uníssono
Daqueles que, confiantes, fugiram do céu,

Não me dói ser condenado pelos pecados
Punição justa a um homem desencaminhado
Que não se importou com a graça do alto

Não - o que me pena é não ter me despedido
E assim tão furtivo e esquivo ter partido
Apenas com teu amor para tão duro fado

Caminho do Poeta Morto

Caminho do Poeta Morto
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Jovens, por que vos contentais com tão pouco
Se está em vossas mãos a força para tudo ser?
Custa tanto assim às vossas idéias perceber
Que falo como os sonhos de um profeta louco?
Será preciso que gritemos até ficarmos roucos
Berrando as verdades até que possais entender
Cristalinas como são, é só apenas olhar e ver...
Ou realmente canto versos aos ouvidos moucos?

Se pudesse levar-vos ao mundo em que eu vivo
Ou contar a vivacidade da poesia que lá flui
E que em toda sua força para a vida contribui
Torná-la una, puro devir sem não-ser reativo...
Entenderíeis, talvez, meu chamado tão aflitivo
A clamar por tal água que minha força restitui
E pelo doce perfume que lá minha alma usufrui
Embriagada naquele pacato remanso tão festivo

Sei que não proponho um caminho fácil de ir:
Muitos tentaram por seus próprios pés caminhar
Por uma senda que eles não sabiam onde ia dar
E nada encontraram a não ser como se destruir...
Mas não caminhareis só se decidirdes me seguir,
Mostrarei as fendas à frente que fazem tropeçar
E distraem os viajantes do pouso ao qual chegar
Prendendo-os em duras ilusões de nada conseguir

Aos que perseverarem até o fim receberam muito
Grande é o mérito e a recompensa do dedicado
Aquele que sempre andou firme e disciplinado
Sem provar da impetuosidade ou do passo afoito
As Portas do Céu se abrem para os bons acólitos
E os Anjos de Deus acolhem os servos dedicados
Que humildes aceitaram o ensinamento reservado
E de toda a sua sabedoria farão bom proveito

À Musa

À Musa
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

A Musa, a Dama da Noite, ainda me inspira.
Certo como o teu hálito que me sustenta firme
E o fulgor de teus olhos que aquece meu viver
Com um amor tão forte que ameaça partir-me

Mesmo que me abandones ao cruel desterro
Guardarei em meu coração tua pura imagem
Consolo divino a apaziguar-me de meus erros
E libertar meu sofrer de tão rude carceragem

Não queres mais as ofertas de minha alma
E respeito tua vontade mais que minha vida
Para querer tua volta pela dor que reclama

Se é na distância que cantarei meus versos
Isolar-me-ei para sempre em minha ermida
Para declamar Tua Majestade ao Universo

Buquê

Buquê
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Em cada uma destas rosas escrevi teu nome
Com letras d'ouro nascidas do mais nobre coração
Que aqui se transforma por ti em verso e canção
O desejo que o sonho povoa a meu espírito consome

Com estas rosas ergo para ti um altar em tributo
À venerável Afrodite, oh minha Princesa da Noite
Por quem este teu coração clama tão feliz sorte:
Amar-te, mesmo sendo eu, pobre poeta, tão poluto

Se tu me agraciares com teu amor, oh doce dama
Verás que não é vazio o verso que teu poeta declama
Mas sincero como o brilho de tua Lua sobre nós

Mesmo que tu não me escolhas como teu bardo
Saiba que de ti nenhum ressentimento eu guardo
Se me permitires apenas viver do mel da tua voz

terça-feira, 4 de outubro de 2011

À Lua

À Lua
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Sorriso que se abre entre as nuvens da noite
És tu, oh Dama da Lua que tanto me aviva o ser
Crescendo trigueira em teus solenes mistérios
Ocultas em teus olhos toda a magia do aparecer

Quando tu me mostras tua meia-face alva no céu
Aquece-me com tua beleza pura de astro argênteo
A crescer mui majestosa entre as estrelas fixas
Única poesia possível para este teu poeta vadio

E nos dias em que te tornas cheia de tua magia
Completas meu coração com o fulgor da alegria
De amar-te como jamais poderia sem te conhecer

Mas quando tua imagem evanesce da minha visão
Roubas minhas forças e me privas de toda pulsão
E caio morto e sem vida, esperando teu renascer

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Solitude

Solitude
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Nas trevas chamo por teu nome
Dama de todas as minhas Noites
Liberta-me da dor que consome
Minhas forças até a dura morte

Acolhe-me no silêncio do beijo
Doce que guardas em teu lábio
E me aquece com incasto desejo
Cuja busca me tornou mais sábio

Mas viraste teus olhos ao largo
E me abandonaste ao vil estupor
De perder a ti, sabor tão amargo

Sábia como és, soberana princesa
Ignoraste minha oferta, meu amor
E condenaste minh'alma à tristeza

Tua ausência

Tua ausência
por Nada (http://cancoesdeumpoetamorto.blogspot.com)

Sinto a ausência de teu perfume em meu paletó
E a falta que tua presença faz em minha vida
Ergue-se como um vazio disposto a tudo drenar
Triste dimensão negra por teu partir erguida

Ao menos o que deixaste em meu coração aquece
O que restou deste teu pobre cantor combalido
Pelo peso de um amor que jamais poderá viver
Junto aos teus alvos pés em teu jardim florido

Jurei não magoar mais a alma que pesada chora
Com versos meus nascidos para a majestosa Dama
A quem este mau poeta, submisso, tanto adora

Mas não posso calar essa força que jaz em mim
E silenciar a música que a teu doce ser aclama
Mesmo que nós dois tenhamos encontrado o fim
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