Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

You can't kill me

Caríssimos

Pouca gente consegue definir meu gosto musical - afinal, vocês conhecem alguém além de mim que aprecia ponto de umbanda com o mesmo prazer estético de Der Ring des Nibelungen? Acho que vocês nem sabiam disso, mas pouco importa. A música é uma arte libertária e transcendente por excelência, e é o mais eficiente caminho (eu diria atalho, se isso não fosse irritar os nietzschianos de plantão) para o sublime - não apenas a sensação, mas apreciação, a contemplação e a experiência do indizível. Ela pode ser vista como o grito silencioso da condição humana, e o gosto musical diz muito sobre uma pessoa.
Falando sobre dizer muito sobre alguém, apresento a vocês um companheiro meu da Igreja dos Subgênios, Mojo Nixon. Esse camarada é um músico velho de guerra cujas canções são um apelo para aquele sentimento que nasceu e morreu nos anos 70 e 80, quando o politicamente correto era apenas ser anti-comunista e a violência era encarada como parte ruim da vida ou entretenimento garantido se mostrada em filmes de ação, e não como algo feio a ser escondido debaixo do tapete e afastado dos noticiários (e eu sei que vou ser muito mal-interpretado por conta disso, mas que se foda - isso mesmo, falo de uma época que palavras de calão inadequado não eram censuradas!). Cigarros, bebida, carne vermelha e comida gordurosa nessa época não faziam tão mal - ou pelo menos não eram os monstros devoradores de almas que vemos na mídia oficial dos dias de hoje. Éramos senhores, e não escravos (na acepção que Nietzsche confere a essas duas palavras em seu, na minha opinião, melhor livro, Genealogia da Moral).
Infelizmente Mojo não é muito conhecido no Brasil. Também, pudera. Nossa mentalidade de colonizados, de escravos de poderes econômica e políticamente superiores a nós não nos permite ter a mente aberta para uma mensagem como a desse cara. A titulo de curiosidade, leiam a letra de Plastic Jesus e me digam se esse cara vai ser divulgado entre nós. Enfim, leiam You can't kill me, e se possível escutem a música também - não apenas as letras são geniais, o som é muito bom.


You can't kill me
Mojo Nixon

You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
Time has come
We will not wait
We storm the gates at dawn
Busting out of here
In the world
Sing our victory song
You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
(Aim-A-Flame Johnson)
I stand alone
Out on the road
I know flesh will rot
But the renegade and crazy free
Will not forget
You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
(Ya know, there's people out there who want to ban books
they want to ban my records
they want to tell me what I can drink
and where I can drink....
And a bunch of pissed off people
pontificating about the evils of rules and regulations
Mc Donalds, politics, etc.)
You can shoot my body full of holes
but you can't kill the spirit of rock 'n roll

A BRASILIZAÇÃO DO OCIDENTE! (retransmissão do Ex-Blog do Cesar Maia)

Fonte: Ex-Blog do Cesar Maia, edição de 01/06/2012
Nota: quando sou eu quem fala essas coisas, trata-se de besteira, de paranóia, de "complexo de Cassandra". Quando é um sociólogo europeu que fala, todos aceitam. Mas não importa quem leva o crédito, em breve eu estarei em "complexo do 'eu não disse?'" quando finalmente os palermas de nossa nação entenderem o recado.

A BRASILIZAÇÃO DO OCIDENTE!

(Ulrich Beck sociólogo, professor emérito da Universidade de Munique e professor da London School of Economics - Referência da esquerda alemã e europeia- El Pais, 27).

1. A consequência involuntária da utopia neoliberal é uma brasilização do Ocidente: são notáveis as semelhanças entre como está se configurando o trabalho remunerado no chamado Primeiro Mundo e como é o do Terceiro Mundo. A temporalidade e a fragilidade do trabalho, a descontinuidade e a informalidade estão alcançando as sociedades ocidentais, até agora baluartes do pleno emprego e do Estado de Bem Estar.

2. Assim, no núcleo duro do ocidente, a estrutura social está começando a se parecer com uma espécie de colcha de retalhos que define a estrutura do sul, de modo que o trabalho e a existência das pessoas se caracteriza agora pela diversidade e insegurança.

3. Em um país semi-industrializado como o Brasil, aqueles que dependem do salário de um trabalho em tempo integral representam apenas uma pequena parte da força de trabalho; a maioria ganha a vida em condições precárias. São representantes comerciais, vendedores ou artesãos, e oferecem todo tipo de serviços pessoais ou alternam entre diferentes tipos de atividades, empregos ou cursos de formação.

4. Na Europa, na década de 1960, apenas 10% dos trabalhadores pertenciam a esse grupo. Na década de 1980 esse número ficava em torno de um quarto, e agora é cerca de um terço do total. Se as mudanças continuarem nesse ritmo - e existem muitas razões para acreditar que será assim - em outros dez anos apenas a metade dos trabalhadores terá empregos em tempo integral, enquanto a outra metade será, por assim dizer, empregos à brasileira.

5. Assim, a política econômica da insegurança está diante de um efeito dominó. Fatores que nos bons tempos iriam se complementar e se reforçar mutuamente - o pleno emprego, as pensões garantidas, as elevadas receitas fiscais, a liberdade para decidir a políticas públicas - agora enfrentam uma série de perigos em cadeia. O trabalho remunerado está se tornando precário, os fundamentos do Estado de bem-estar estão se desfazendo, as histórias atuais de vida desmoronam, a pobreza dos idosos é algo programado com antecedência, e, com os cofres vazios, as autoridades locais não podem assumir a demanda crescente de proteção social.

6. Enquanto o capitalismo global dissolve nos países ocidentais os valores essenciais da sociedade do trabalho, rompe-se um vínculo histórico entre o capitalismo, o Estado de bem estar e a democracia. Não se engane: um capitalismo que não busque mais do que o benefício, sem levar em conta os trabalhadores, o Estado de bem-estar e a democracia, é um capitalismo que renuncia a sua própria legitimidade.
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