Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
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P. S.: decifra-me ou devoro-te!

sábado, 28 de maio de 2011

A concepção de pessoa como indivíduo em Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes

A concepção de pessoa como indivíduo em Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes

Autor: Luís Fernando Carvalho Cavalheiro (contatoalunos@profcavalheiro.com)
Licenciado em Filosofia pela UERJ

Introdução


O fim da Idade Média trouxe consigo novas formas de examinar antigas questões e novas concepções de mundo que encontraram acabamento ao longo dos anos da chamada Idade Moderna. Muitos fatos importantes aconteceram nesta época, como as grandes navegações, o Renascimento, a Reforma Protestante, a formação das principais monarquias nacionais, e é defensável atribuir essas mudanças a uma nova postura filosófica, a uma mudança nos paradigmas aceitos durante o período anterior. Algumas mudanças foram mais lentas que outras, assim como as regiões mais periféricas não experimentaram o sabor dos novos tempos (vide, como exemplo, que a Rússia tornou-se uma nação considerada moderna apenas sob Pedro II, no século XVIII), mas o período foi marcante para a história do pensamento ocidental.

Uma dessas mudanças de paradigma foi com relação ao homem. Antes encarado como criatura dependente de seu Criador celestial, a Idade Moderna trará a "emancipação" do homem na medida em que cada vez mais vai trazê-lo ao centro de suas teorias e de seus paradigmas e colocá-lo como fator fundamental. Haja vista o cogito cartesiano, que subordina a existência de todas as coisas – inclusive a de Deus – ao "eu penso" do indivíduo. Mas é na filosofia política que a nova concepção de homem se mostra mais evidente. Pela primeira vez em séculos, o homem é analisado não como objeto de sua crença religiosa, tal como fez, entre outros, São Tomás de Aquino – isto é, não como um ser criado para ser naturalmente bom mas que perdeu inúmeras condições extremamente vantajosas por um deslize de seu progenitor – mas a partir de sua vida em contato com outros homem. A mudança se percebe até mesmo no linguajar empregado pelos pensadores, que passam a fazer uso das palavras cidadão e indivíduo, querendo indicar o vínculo intrínseco que o homem possui com a sociedade à qual pertence ou afirmar a singularidade de cada homem em comparação aos outros que são meramente seus semelhantes.

Apesar de o período ter sido bastante generoso com relação ao número de filósofos que se ocuparam de questões relacionadas ao homem, suas sociedades e seus Estados, neste escrito abordaremos os dois autores trabalhados ao longo do curso de "História da Filosofia Moderna II" ministrado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro pelo professor doutor Marcelo de Araújo: Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel. Será analisada que concepção de pessoa como indivíduo que pode ser extraída das mais conhecidas obras de cada um destes autores: O Príncipe, de Maquiavel; e Leviatã, de Hobbes. Após a apresentação da concepção de pessoa como indivíduo em cada autor, elas serão comparadas em uma conclusão de caráter pessoal sobre o tema.


O Príncipe: antes parecer justo sem o ser que prejudicar-se por ser justo


Nicolau Maquiavel escreveu O Prínicipe para Lourenço de Médici, chamado pela História de "o Magnífico", e o ofereceu como sendo um curso rápido sobre como se deve governar qualquer território. Ele analisa diversos exemplos, tanto históricos quanto atuais na época, acrescentando sempre sua opinião sobre cada fato observado. Não sem razão, O Príncipe é considerado por muitos como sendo até hoje um excelente manual que ensina como governar, e mais de um político famoso já admitiu ter o livro em sua cabeceira.

Mas o que nos interessa aqui não são diretamente as regras que Maquiavel estabeleceu, mas a concepção de pessoa que transparece ao longo da obra. Ele não se ocupa em escrever parágrafos ou capítulos dizendo o que é o homem, nem como entendê-lo – pelo contrário, ele assume isso como um fato já dado de antemão e muito bem conhecido pelo seu leitor. A maneira como ele compreende o indivíduo é bastante peculiar, e, ouso dizer, resultado direto tanto de sua "grande e contínua má sorte"1 quanto da situação política da Itália naquele período histórico. Talvez a visão de Maquiavel sobre o que é o indivíduo tenha contribuído, mais do que os conselhos dados ao governante ao longo da obra, para a caracterização do adjetivo "maquiavélico", presente em diversos idiomas com o significado de "inescrupuloso".

A partir da leitura de O Príncipe podemos admitir que Maquiavel figura o homem como mesquinho, covarde, egoísta e mau. Em vários trechos ele recomenda expressamente ao príncipe que é preferível parecer virtuoso a sê-lo, caso o exercício da virtude seja prejudicial ou oneroso a este. Em outras passagens, ele considera o homem naturalmente inclinado para o mau, e por isso mesmo praticar as virtudes aclamadas como boas por todos os homens fatalmente conduziria à ruína qualquer um que o fizesse. Percebe-se aqui uma retomada de algumas idéias dos sofistas e estóicas sobre a natureza humana, pois se abandona a concepção cristã de homem (ser criado à imagem e semelhança de Deus, portanto naturalmente bom e inclinado às boas virtudes) em favor de uma visão menos idílica: o homem é mesquinho e mau, e elogia a virtude apenas para que outros a pratiquem e se arruínem. Mas essas conclusões são bastante influenciadas pelas análises de Maquiavel, que demonstram como a prática de determinadas virtudes pode se voltar contra o príncipe, e que por isso mesmo é melhor parecer possuí-las sem de fato o fazer.

A partir dessa concepção de natureza humana podemos entender agora a visão de indivíduo empregada por Maquiavel em O Príncipe – ou melhor, a visão de cidadão, que é a palavra usada por ele ao longo da obra. Sendo o cidadão naturalmente egoísta e voltado para seus interesses particulares, o príncipe se quiser governar precisa ganhar os favores de seus súditos – isto é, dos cidadãos subordinados a ele – ou enfrentará conseqüências nada agradáveis. Ou seja: o poder do príncipe deixou de ter origem divina, como defenderam os filósofos medievais, mas advém dos cidadãos subordinados a ele, que podem destroná-lo ou chamar um poder estrangeiro para fazê-lo caso não se sinta satisfeito com o seu governo. O príncipe possui poder para governar apenas enquanto seus súditos fizerem a concessão de tal poder para ele – ou melhor: o cidadão é, em última análise, a fonte do poder do príncipe. Maquiavel não explica como se dá essa concessão, nem mesmo reconhece essa transferência de poder como sendo uma concessão: na verdade, ele afirma que enquanto os súditos sustentarem o poder do príncipe este será imorredouro – o vocabulário contratualista deverá esperar até Thomas Hobbes para consolidar-se.

O cidadão configura-se ainda como indivíduo dotado de direitos, assegurados a ele pelas leis, e em mais este ponto o príncipe deve ser cauteloso: leis injustas podem provocar uma reação por parte de seus súditos proporcional à injustiça da lei. Para Maquiavel isso é mais evidente nas repúblicas do que nos principados, mas mesmo um príncipe pode ter que encarar uma rebelião se seus súditos não se sentirem satisfeitos. O príncipe não governa senão pelo favor ou pelo temor de seus súditos, e deve ter isso sempre em mente – mais do que isso: Maquiavel deixa subentendido, em uma leitura possível de sua obra, que é preciso temer os súditos. Tudo fica mais complexo ainda se considerarmos que para o autor governar é ter que administrar os interesses individuais de cada cidadão, que nem sempre são os mesmos.

Em resumo: o cidadão em O Príncipe é um indivíduo mesquinho, egoísta e covarde, que concede ao príncipe o poder para governar enquanto lhe convier, e a qualquer momento em que sinta que seus interesses estejam sendo prejudicados o cidadão pode retirar esse apoio ao príncipe. O cidadão é, portanto, a base e o sustentáculo do poder do príncipe, que não poderá governar de forma alguma – a não ser muito dispendiosamente – sem o apoio deles. Sem o cidadão não há o principado, visto que príncipe nenhum durará em um território que lhe seja hostil a não ser pelo uso da força.


Leviatã: o homem é o lobo do homem


Thomas Hobbes escreveu o Leviatã como sendo um tratado de Filosofia em geral, desde as instâncias da razão até a teologia. Assim sendo, é natural que ele tenha se dedicado às questões relacionadas ao Estado, ao homem enquanto pertencente a uma sociedade e por que o soberano governa. Hoje em dia seu livro é reconhecido sobretudo por esta parte, já que ele foi o primeiro a falar abertamente em termos de um contrato social, um acordo entre indivíduos visando a obtenção dos objetos de desejo de cada um deles, e também por causa da visão extremamente pessimista de natureza humana que ele adotou.

Grande parte do reconhecimento de Hobbes se deve à metodologia empregada para explicar a origem do Estado e da sociedade: ele faz uma demonstração por indução sobre o indivíduo. Para ele, anteriormente ao Estado e à sociedade existem os indivíduos, sem nenhuma ligação entre si, dotados apenas de um direito, de fazer o que for preciso para manterem-se vivos, e obrigados a apenas uma lei, a de não fazer nada que prejudique seu bem-estar. Nestas condições é fácil imaginar como a vida de cada indivíduo deve ser penosa: ele deve fazer, construir ou criar tudo aquilo que for necessário para a sua sobrevivência e deve ainda se precaver do assalto ou de agressões de outros indivíduos que intentem lhe tomar as posses. É um estado de desconfiança generalizada, pois se qualquer um pode fazer o que for preciso para sobreviver isso pode incluir matar ou escravizar, entre outros fins menos agradáveis.

É interessante notar como Hobbes considera os indivíduos dotados das mesmas capacidades, ainda que ligeiramente diferentes entre si. Usando o exemplo do qual ele se vale no capítulo XIII do Leviatã, um homem mais fraco pode matar um homem mais forte se para isso recorrer a expedientes como a traição, a trapaça, a maquinação, etc. Os homens são iguais em potência (para usar um termo escolástico que, ainda que não apareça neste trecho da obra de Hobbes, serve muito bem), limitados todos pela mesma lei e dotados todos do mesmo direito. Ao mesmo tempo os homens são iguais nas fraquezas, pois se um indivíduo mais fraco pode matar um mais forte, o mais forte pode matar o mais fraco. Essa igualdade é importante na teoria hobbesiana, pois se porventura existisse um homem superior aos demais ele seria por natureza o senhor de todos os demais homens.

Mas um estado de coisas como esse, ao qual Hobbes chama de estado de natureza, não pode subsistir para sempre. Os indivíduos vivendo nesta guerra de todos contra todos percebem facilmente que se trata de uma situação com riscos em potencial bastante iminentes: basta eu desenvolver alguma coisa que me facilite minimamente a vida para que eu me torne alvo de agressores. É claro que aos homens interessa poder ser o agressor mas ninguém quer ser o agredido, e por isso surge a necessidade de alguma espécie de garantia que impeça agressões aos indivíduos. E é por esse simples egoísmo – não querer ser agredido – que os indivíduos chegam à conclusão de que precisam abdicar de parte de sua liberdade em agredir: se ninguém for o agressor, ninguém será agredido. No entanto é preciso haver uma instância superior que garanta a existência e o funcionamento de um contrato (posto que é mútuo, conforme Hobbes expõe no capítulo XIV da obra) dessa natureza, e para isso é criado o Estado: um poder acima dos indivíduos cuja função é garantir o bem-estar dos indivíduos que se tornaram seus cidadãos em detrimento de suas liberdades individuais2.

É interessante notar como os indivíduos abrem mão de parte de seu direito (agredir outros indivíduos) em troca da auto-preservação (não poder ser agredido por outros indivíduos), e como o Estado tem uma origem tão egoísta. Pois é do egoísmo e do medo dos indivíduos que surge a disposição de abandonar parte de seu direito, e é desse abandono que surge o Estado. Mesmo que não houvesse tal disposição seria vantajoso para os indivíduos firmarem o contrato social entre si, como mostram as diversas variantes deste dilema nas Teorias dos Jogos – notadamente o Dilema dos Prisioneiros. Ou seja: mesmo que não houvesse o medo de ser agredido, ainda seria melhor negócio aderir ao contrato social e fazer parte de uma estrutura capaz de prover o indivíduo daquilo que ele não é capaz de produzir sozinho.

A teoria contratualista depende da suposta igualdade entre os homens. Se porventura existisse um homem em algum aspecto superior aos demais ele se imporia sobre os outros homens ainda no estado de natureza e governaria em função deste aspecto em que é superior aos demais. Por exemplo, se existisse um homem tal que ninguém pudesse matá-lo e que facilmente matasse os outros homens, ele não iria participar voluntariamente do contrato, já que ele está em nítida vantagem sobre os demais e, portanto, pode dominá-los facilmente. Mas como não há meio de forçá-lo a aderir ao contrato, temos que ele subjugaria os demais homens antes mesmo que o contrato fosse proposto e se intitularia soberano sobre os demais homens.

Portanto, para Hobbes o homem é naturalmente egoísta e mau, pois depende dessas duas características para sobreviver: a primeira para não fazer nada contra seu bem-estar, e a segunda para fazer todo o necessário para garantir sua vida. Mas é graças a essas características que os indivíduos acabam se organizando em Estados: pelo egoísmo de não poder mais ser vítima de agressões e pela maldade de impedir os outros indivíduos de cometê-las.


Conclusão


Não é difícil perceber que os dois autores adotaram concepções bastante similares sobre o que é o indivíduo: um ser que, por seu egoísmo e maldade, acaba se tornando o sustentáculo do Estado do qual é súdito. Seja por sustentar ou apoiar seu príncipe, seja por abrir mão de parte de seu poder para que outros tenham que abrir mão de igual parcela de poder, os indivíduos aparecem sempre como sendo iguais tanto nas qualidades quanto nas fraquezas e que por isso mesmo não trabalhariam em conjunto se não houvesse um motivo superior para tal. Para Maquiavel, esse motivo superior seria o poder do príncipe, que todos os cidadãos apóiam e sustentam; já para Hobbes esse motivo é a sobrevivência, pois é esta quem gera a necessidade de um Estado.

O indivíduo nas duas obras aparece como um sujeito bastante peculiar, posto que possui grandes poderes dos quais os Estados em que vivem são derivados. Sem a anuência e o assentimento dele, o príncipe não poderá governar sem temer uma revolução ou uma traição. Sem o cumprimento do contrato por parte do indivíduo, toda a teoria hobbesiana colapsaria, e o Estado se mostraria um mau negócio para os membros que permanecessem fiéis ao acordo. Ao mesmo tempo, o indivíduo está sujeito aos poderes que se derivaram de seu poder: enquanto aceito como tal, o príncipe possui liberdade para governar; e pelo simples fato de viver em um Estado o indivíduo abre mão de uma parte de seu direito em troca da segurança e das comodidades existentes na vida em sociedade.

Independentemente das diferenças, trata-se de duas concepções de indivíduo que divergem bastante das que vigoravam na Idade Média. Sob novos paradigmas pôde a sociedade ocidental encontrar novos rumos e avançar rumo à era em que estamos agora.



1 Como ele confessou a Lourenço de Médici na carta-introdução de O Príncipe.

2 Esta é uma descrição bastante simplista da teoria hobbesiana do contrato social, mas contém todos os elementos necessários para visualizarmos o papel que o indivíduo apresenta na gênese do Estado – portanto, servirá perfeitamente para os propósitos deste escrito.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Momento "música que reflete meu humor" - As Profecias (Raul Seixas / Paulo Coelho)

Caro leitor, dando continuidade à série "música que reflete meu humor" temos "As Profecias"

As Profecias
Raul Seixas
Composição : Raul Seixas / Paulo Coelho

Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho em silêncio calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?

Está em qualquer profecia
Dos sábios que viram o futuro,
Dos loucos que escrevem no muro.
Das teias do sonho remoto
Estouro, explosão, maremoto.
A chama da guerra acesa,
A fome sentada na mesa.
O copo com álcool no bar,
O anjo surgindo no mar.
Os selos de fogo, o eclipse,
Os símbolos do apocalipse.
Os séculos de Nostradamus,
A fuga geral dos ciganos.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.

Um gosto azedo na boca,
A moça que sonha, a louca.
O homem que quer mas se esquece,
O mundo dá ou do desce.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.
Sem fogo, sem sangue, sem ás
O mundo dos nossos ancestrais.
Acaba sem guerra mortais
Sem glorias de Mártir ferido
Sem um estrondo, mas com um gemido.

Os selos de fogo, o eclipse
Os símbolo do apocalipse
A fuga geral do ciganos
Os séculos de Nostradamus.

Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia (3x)
Um dia...

Sim, sim, sim...

"Admirável Mundo Novo" vs "1984" -

Caro Leitor

Chegou ao meu Google Buzz a seguinte tirinha (não vou colocar aqui porque ela é meio grandinha, e vai pesar o site demais). Infelizmente aqueles não acostumados ao idioma do Tio Sam não vão entender a pertinência da análise contida nesse link, mas, para situar esses desafortunados, trata-se de uma comparação entre dois futuros possíveis e distópicos para a humanidade. Um desses possíveis é a sociedade da overdose de informação inútil e culto ao prazer de "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, enquanto o outro possível é a tirania de vigilância, controle e terror do IngSoc de "1984", de George Orwell. A tirinha nos convida, por fim, a uma profunda reflexão sobre os rumos que nossa sociedade tem tomado, e as conclusões não são nada bonitas.
Em meu juízo, opino que a conclusão final da tirinha é um pouco exagerada, pois se chegam a nós mais informação espúria do que o tempo nos permite reconhecer como tal (soterrando as poucas informações úteis que ainda existem) e a verdade é só mais um dado entre tantos dados, por outro lado é inegável a política de controle do fluxo de informações a que estamos submetidos (tipo a censura que o STF impôs ao Estado de São Paulo). "Admirável Mundo Novo" e "1984" descrevem as duas faces de nossa sociedade: o culto ao prazer e à ignorância e o controle rígido do Estado.
Que Deus nos ajude.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Momento "música que reflete meu humor" - Odiosa Natureza Humana (Matanza)

Caros leitores, neste momento estou iniciando mais uma série de postagens, o Momento "música que reflete meu humor". E, para começar com estilo, vamos de Matanza!

Odiosa Natureza Humana
Matanza

Se todo mundo fosse embora
E só eu ficasse aqui
Eu teria nessa hora
Um bom motivo pra sorrir
Se tudo desaparecesse
E não ficasse mais ninguém
Somente num dia desses
Eu passaria muito bem

Sonho que eu tenho por noites seguidas
Do mundo acabando num belo dia
Sem choro nem despedida
Mesmo porque ninguém se conhecia

Chame de misantropia ou como quiser
Mas você não me engana
Não perde quem desconfia
Culpa da nossa tão odiosa natureza humana

Se todo mundo fosse embora
E só eu ficasse aqui
Eu teria nessa hora
Um bom motivo pra sorrir
Se tudo desaparecesse
E não ficasse mais ninguém
Somente num dia desses
Eu passaria muito bem

Sonho que eu tenho por noites seguidas
Do mundo acabando num belo dia
Sem choro nem despedida
Mesmo porque ninguém se conhecia

Chame de misantropia ou como quiser
Mas você não me engana
Não perde quem desconfia
Culpa da nossa tão odiosa natureza humana

Sonho que eu tenho por noites seguidas
Do mundo acabando num belo dia
Sem choro nem despedida
Mesmo porque ninguém se conhecia

Chame de misantropia ou como quiser
Mas você não me engana
Não perde quem desconfia
Culpa da nossa tão odiosa natureza humana

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Da série Excertos de Livros Polêmicos - Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT

Eis como o governo PT vê o Estado:

A atuação do Estado, especialmente por meio da formulação e implementação de políticas, interfere na vida das pessoas, ao determinar, reproduzir ou alterar as relações de gênero, raça e etnia e o exercício da sexualidade. O Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT tem como compromisso e desafio interferir nas ações do Estado, de forma a promover a cidadania, com respeito às diversidades.

Desde quando é papel do Estado determinar ou alterar o exercício da sexualidade de uma pessoa? E depois há quem critique o deputado Bolsonaro...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Aria di Mezzo Carattere (SNES Version)

A Aria di Mezzo Carattere (Ária de Meio Personagem) é uma parte da ópera Maria e Draco encenada na Ópera de Jidoor. Se você não sabe do que eu estou falando, não perca seu tempo com o Google Maps: estou falando de uma das mais belas cenas de Final Fantasy VI, de 1994 (na minha opinião, a mais bela cena dos videogames de todos os tempos). Talvez muitos dos jogadores mais novos considerem a cena piegas, mas entre a galera da velha guarda não conheço um que não se emocione (ou mesmo chore) só de ouvir os primeiros acordes da canção. Pago um dólar pros veteranos que de lerem a letra não reconheçam a sincronia entre os versos e a música do FFVI!

Aria di Mezzo Carattere (SNES Version)

Oh my hero, so far away now.
Will I ever see your smile?
Love goes away, like night into day.
It's just a fading dream.

I'm the darkness, you're the stars.
Our love is brighter than the sun.
For eternity, for me there can be,
Only you, my chosen one...

Must I forget you? Our solemn promise?
Will autumn take the place of spring?
What shall I do? I'm lost without you.
Speak to me once more!

We must part now, my life goes on.
But my heart won't give you up.
Ere I walk away, let me hear you say
I meant as much to you....

So gently, you touched my heart.
I will be forever yours.
Come what may, I won't age a day,
I'll wait for you, always...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Eu acuso (autor: Igor Pantuzza Wildmann)

Minha opinião: este artigo é uma importante reflexão sobre os processos degenerativos que nossa sociedade vêm sofrendo, e trata-se de uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que queira ser considerada um homem ou mulher de bem. Para quem não lembra o que aconteceu, o professor Kássio foi morto por um aluno por causa de uma avaliação, conforme pode ser lido aqui. Onde esse Brasil irá parar?


A RESPEITO DO DESRESPEITO AOS PROFESSORES

 

J'ACUSE !!!

(Eu acuso !)

 

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

 

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)

Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)

 

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado "dano moral" do estudante foi ter que... estudar!). 

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

 O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

 Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática.

 No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que "era proibido proibir". Depois, a geração do "não bate, que traumatiza". A coisa continuou: "Não reprove, que atrapalha". Não dê provas difíceis, pois "temos que respeitar o perfil dos nossos alunos". Aliás, "prova não prova nada". Deixe o aluno "construir seu conhecimento." Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, "é o aluno que vai avaliar o professor". Afinal de contas, ele está pagando...

 E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de "novo paradigma" (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: "o bandido é vítima da sociedade", "temos que mudar 'tudo isso que está aí'; "mais importante que ter conhecimento é ser 'crítico'."

 Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

 Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que "o mundo lhes deve algo".

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

 Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a "revolta dos oprimidos"e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para "adequar a avaliação ao perfil dos alunos";

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu "tantos por cento";

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno "terá direito" de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um "novo paradigma", uma " nova cultura de paz", pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da "vergonha na cara", do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os  "cabeça – boa" que acham e ensinam que disciplina é "careta", que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição;

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam "promoters" de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de "o outro".

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: "Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo."

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor "nova cultura de paz" que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

 

Igor Pantuzza Wildmann

Advogado – Doutor em Direito.

Professor universitário.

 

"SUJEITO A SER MORTO A QUALQUER MOMENTO COMO FOI O PROFESSOR KASSIO"

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre o perfil do professor e a importância do ensino de Filosofia

Resumo: pertence à atividade docente pensar-se constantemente, refletir sobre suas práticas, definições, métodos e objetivos, e é com base nessas considerações que ela se torna capaz de adaptar-se ao momento histórico-social em que está inserida. Constantemente se pensam as questões de cunho filosófico ("o que é ensinar?", "é possível ensinar?", etc.) e as questões de cunho pragmático ("o que é ser professor?", "o que compete ao professor fazer?", "qual é o perfil esperado do professor?", etc.). O objetivo deste escrito é tentar responder algumas das questões pragmáticas relativas ao ensino de Filosofia com base nas respostas às questões filosóficas.

 

A atividade docente é, antes de tudo, uma atividade humana e, como tal, passa constantemente por ajustes e reformulações que visam torná-la mais adequada às necessidades da sociedade em que ela se dá. Ela acompanha os processos sociais de um ponto de vista bem privilegiado, a saber: transmitindo as conquistas da sociedade aos seus novos membros e preparando-os para a vida em sociedade, ou (como preferem alguns) adequando as pessoas ao modelo vigente de sociedade. Trata-se de uma tarefa basal e, por esse motivo, importante para não só a manutenção como a evolução da sociedade. O docente é ao mesmo tempo agente da manutenção da sociedade, pois ensina tudo o que esta acumulou aos seus novos membros, e agente da transformação da sociedade, pois provê (pelo menos em tese) seus novos membros dos meios necessários para imprimir a mudança na sociedade.

Dadas essas considerações, percebe-se a grande importância que as reformulações e ajustes da atividade docente não apenas para a sociedade enquanto estrutura mas para os membros da sociedade enquanto indivíduos. Se por um lado a prática docente prepara novos membros para a sociedade, por outro ela forma novos membros da sociedade e os permite (pelo menos em tese) realizarem suas potencialidades. Não se pode pensar em uma sociedade que não forme novos membros, nem em uma prática docente que capacite os membros da sociedade para a vida social. Assim a sociedade é provida dos materiais necessários para sua manutenção (novos membros adequadamente preparados) e esses materiais são adequadamente preparados para cumprir suas funções sociais.

Evidencia-se, portanto, o papel fundamental de algumas considerações sobre a questão da atividade docente. Uma prática que não se questiona não evolui, e com o tempo ela se torna ineficiente e, portanto, desnecessária à sociedade – tal como alguns ofícios que não existem mais, seja porque não evoluíram ou porque eles não puderam evoluir. A prática docente deve se levantar algumas questões se ela deseja permanecer no seio das atividades de uma sociedade.

Mas não só a prática docente deve evoluir, mas também quem a exerce: o professor. A prática e pessoa que a exerce são intrinsecamente ligados, e questões sobre um dos dois só podem ser respondidas considerando o outro. Não adianta ser capaz de se precisar o que é a prática docente se quem a pratica permanece na obscurantidade – é a mesma questão de não poder conhecer a arte sem o artista. Deve-se levantar questões sobre quem é o profissional que exerce essa prática para que se possa evoluir não apenas aquele, mas esta também.

O objetivo do presente texto é levantar algumas considerações não só sobre a atividade docente, mas também sobre o profissional que a exerce. Pretende-se iniciar com a tentativa de se obter algumas definições mais básicas para, a partir delas, chegar às considerações sobre a atividade e o profissional. A partir dessas conclusões, se fará uma breve análise relativa à importância do ensino da Filosofia no Ensino Médio e no Ensino Superior.

 

1. O que é ensinar?

 

Nesta parte do texto serão levantadas algumas questões sobre a capacidade humana de aprender e ensinar, analisando como esses conceitos se relacionam e como eles se relacionam com a prática docente e com o professor. No meu entender, um profissional docente que não questione a si mesmo sobre os fundamentos da sua atividade não está realmente apto a exercê-la. Um professor que nunca se questione sobre as práticas inerentes ao seu trabalho não será um professor capaz de ensinar – se ele não sabe o que é ensinar, como ele vai ser capaz de ensinar?

A pergunta mais fundamental (pelo menos no meu entender) relativa à prática docente é justamente "o que é ensinar?". Existem muitas respostas para essa pergunta, passando desde pontos de vista positivistas ("ensinar é preparar o ser humano para a vida em sociedade") até pontos de vista céticos ("não é possível ensinar, logo não tem sentido a pergunta 'o que é ensinar?'") ou pessimistas ("ensinar é formatar as pessoas nos moldes impostos pela sociedade"). Todas essas respostas trazem consigo uma dada concepção de homem, de psicologia e de epistemologia, que pode ser mais ou menos transparente a um ouvinte desavisado – mas que podem modificar toda a estrutura da formulação da Didática. Neste trabalho restringir-se-á as análises a esses três casos limites de possibilidades de respostas, por entender-se que os casos intermediários são formados por partes dos casos limites.

A resposta positivista alinha-se ao Iluminismo e ao naturalismo típicos dos séculos XVIII e XIX. Nessa concepção da prática de ensino o homem possui uma natureza essencial dotada de certas potencialidades que só podem ser desenvolvidas no âmbito da vida social – e para isso serve a prática docente. Por meio do conhecimento e da razão o homem se torna apto à vida social e, portanto, a ser um membro pleno da sociedade em que vive. Ensinar adquire, neste contexto, um caráter extremamente tradicionalista, em que os alunos são simplesmente "esponjas culturais". Para o ponto de vista positivista, ensinar é uma prática por meio da qual se desenvolve as potencialidades do homem, tornando-o um membro competente da sociedade.

O grande ponto negativo dessa resposta é a idealização do ensino praticado. Se os homens têm todos a mesma natureza, eles devem receber o mesmo ensino, independente das questões sociais e econômicas relacionadas não só à prática docente como também ao professor e ao aluno. Isso provoca uma padronização do ensino que desconsidera não apenas o que interessa ao aluno, mas que na maior parte dos casos não vence atingir os alunos – que em sua maioria diferem do modelo idealizado, como acontece com qualquer modelo. O ensino, sob a óptica positivista, desconsidera as diferenças e as particularidades os alunos, e isso propicia um ambiente desagradável para os mesmos.

O ponto de vista cético deriva-se de algumas teses centrais da filosofia analítica e do empirismo lógico do século XX. Ele surge a partir da resposta negativa à questão "é possível atingir o entendimento de uma outra pessoa?", e aplicando os silogismos "se não se pode atingir o entendimento de uma outra pessoa, não se pode atingir o entendimento do aluno", "se não se pode atingir o entendimento do aluno não se pode avaliar o aluno", "se não se pode avaliar o aluno, não há como saber se o aluno aprendeu alguma coisa", "se não há como saber se o aluno aprendeu, a prática docente é destituída de sentido", do que se conclui que "logo não é possível ensinar". É um argumento baseado em um sofisma, mas que ainda assim desperta algum interesse, pois desperta uma reflexão muito crítica acerca do ato de ensinar: será que se pode ensinar algo a alguém?

Outros autores chegam a essa mesma conclusão partindo do cotidiano escolar. Muitos professores em nossos dias sentem-se incapazes de ensinar alguma coisa aos seus alunos simplesmente porque eles não querem aprender o que se ensina – chamando a isso "impossibilidade". Para esses professores, como os alunos não querem aprender torna-se impossível ensinar-lhes algo – não se pode forçar o conhecimento a entrar na cabeça desses alunos, alegariam eles. Os alunos (e, a bem dizer – segundo esses educadores –, qualquer pessoa) aprendem não o que se lhes ensina, mas o que lhes interessa aprender. É claro que rotular essa situação como "impossibilidade" é altamente questionável – ainda mais se adotarmos uma metodologia tradicional na Didática –, mas essa atitude traz a tona uma outra questão que não se revela ao ponto de vista positivista: será que os alunos querem aprender?

É fácil contrapor o ponto de vista cético por uma simples questão pragmática: pergunte ao professor que sustente esse pensamento por que ele continua ensinando. A questão se torna mais interessante quando uma pessoa que não seja professor levante esse questionamento. As duas questões que o ponto de vista cético levantam devem ser consideradas por qualquer um que queira ser um professor, talvez antes mesmo de responderem à primeira pergunta ("o que é ensinar?"). Parece-me fato que não se pode avaliar o entendimento do aluno quanto ao que foi ensinado a ele, visto que não se pode atingir o entendimento do mesmo – apenas o que ele demonstra entender. Mas nada impede que se tente ensinar alguma coisa a alguém, mesmo que não se possa ter certeza se a pessoa entendeu algo do que lhe foi ensinado – os professores da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro que o digam. Quanto à questão dos alunos quererem aprender ou não, não penso que aprender seja um processo que dependa da vontade de aprender – embora funcionem muito melhor se essa vontade existir. Aprendemos muitas coisas pelo simples convívio social, mesmo que não queiramos aprender tais coisas. Desse fato eu concluo que, embora ajude, não é necessário haver a vontade, por parte do aluno, de aprender.

O ponto de vista pessimista é herdeiro do marxismo e da visão histórica dessa corrente filosófico-metodológica. No contexto de uma sociedade dividida em classes e movida pela luta destas, torna-se necessário que cada classe lance mão de todas as táticas necessárias para prevalecer sobre as demais. Isso significa que a classe dominante está em franca vantagem, pois ela dispõe de todos os meios de produção e do controle do sistema político, legal e jurídico, bem como controle dos sistemas de comunicação de massa e outras estruturas sociais que lhes permitem impor sua ideologia – e entre essas estruturas está o ensino. Por meio do ensino a classe dominante prepara os novos membros da sociedade da maneira que mais lhe interessa, efetivamente modelando esses novos membros para que se tornem mais eficientes dentro das necessidades da classe dominante. Isso significa, na prática, que o ensino é a maneira pela qual se formatam os novos membros da sociedade para servirem aos interesses da classe dominante.

A questão que surge neste momento do texto é: ensinar é mesmo apenas isso, quer dizer, ensinar é apenas formatar os futuros membros da sociedade? Uma saída proposta pelos defensores desse ponto de vista é ensinar tem que ser o processo por meio do qual as classes dominadas conseguiriam todo o instrumental teórico para revolucionar o estado de coisas social, mas a isso eu aponho a pergunta: "isso não provocaria uma simples mudança da classe dominante, e nada mais?". Parece-me que o grande problema desse ponto de vista é justamente propor uma revolução que não revoluciona nada, apenas altera os papéis de dominador e dominado. Simplesmente permitir que as classes dominadas tenham condições de substituir a classe dominante é alterar quem manda e quem obedece – tal como se verificou na União Soviética. Essa idéia de revolução permanente pode até agradar aos marxistas de plantão, mas sua aplicação na sociedade com certeza estaria fadada ao fracasso – nada se estabelece em situações em que haja conflito.

A partir dessas curtas análises arrisco esboçar um conceito de ensino – uma resposta para a pergunta proposta no início desta parte do texto: "o que é ensinar?". Parece-me inegável que a prática docente visa preparar o aluno para alguma coisa, ainda que essa coisa possa parecer obscura ou tenebrosa se não adotarmos um ponto de vista positivista. Ao mesmo tempo, percebe-se no ensino um interesse na manutenção da sociedade tal como ela é – e isso implica tanto na transmissão de conhecimentos quanto em alguma espécie de formatação dos novos membros da sociedade. No entanto, essa formatação diz respeito somente ao preparo para a vida social no tocante ao ensino sistemático. E as questões que o ponto de vista cético levanta são importantes, pois elas permitem ao professor se situar melhor dentro de suas próprias concepções. Portanto, ensinar é, no meu entender, transmitir o instrumental teórico necessário tanto para a manutenção da sociedade quanto para a adequação do indivíduo à sociedade.

 

2. O que é o professor?

 

Com base na resposta dada à pergunta "o que é ensinar?", podemos tentar esboçar uma resposta a essa pergunta – o que é o professor? É muito fácil – e por isso mesmo muito tentador – querer fazer uma identidade entre professor e ensinar, afirmando que "professor é aquele que ensina", mas isso, além de ser superficial, não compreende todo o espectro da definição da atividade docente. Essa simples definição seria deficiente por dois motivos simples: nem todo aquele que ensina é professor e o professor não apenas ensina. Com efeito, a sociedade é repleta de situações em que existe uma pessoa que ensina algo para alguém – mas apenas em alguns desses casos o que ensina é chamado professor. Uma criança aprendendo a falar dificilmente o fará sob supervisão de um professor, mas de seus pais, ou então dificilmente uma pessoa precisa de um professor para saber como se comportar em alguns ambientes. Ao mesmo tempo o professor não ensina apenas, mas também cumpre outros papéis que serão vistos mais à frente.

Mas ainda não se chegou a uma resposta para a pergunta "o que é o professor?" – para ninguém se sentir ofendido, pode se ler a pergunta como "o que define o professor?". Parece-me que o professor é aquele que ensina, mas com certeza não é apenas isso. O professor também educa seus alunos, transmitindo-lhe lições informais sobre como viver em sociedade – mas esse não é um papel exclusivo do professor: é um papel de todos os membros da sociedade. E nesse sentido – ser um educador – o professor é um dos exemplos nos quais os alunos podem vir a se influenciar para a formação do caráter, gostos e personalidades. Isso mostra a responsabilidade inerente à atividade docente – formar os futuros membros da sociedade. Portanto, podemos ficar com uma definição – talvez provisória – de professor: aquele que ensina e educa.

Sendo assim, quais as virtudes que um professor deve possuir para melhor realizar as atividades referentes à prática docente? Essa pergunta conduz a um campo muito mais polêmico do que a pergunta-tema da parte anterior deste escrito, "o que é ensinar?", visto que definições de pessoas são terras de ninguém – todos estão certos e todos estão errados. Quando se fala em virtudes a discussão simplesmente implode, impossibilitando qualquer conceituação em termos de "certo" ou "errado". Cada pessoa que pensa sobre o assunto parece ter uma opinião diferente sobre isso, e essas respostas podem modelar totalmente a Didática a ser proposta pelo pensador em questão.

Vou recorrer a duas situações extremas – o professor tradicional e o professor libertário – por compreender que qualquer variante a essas duas alternativas difere das mesmas apenas pela dosagem dos elementos pertinentes. Um professor tradicional acena como virtudes saber impor a disciplina e a autoridade sobre a turma, o domínio dos métodos didáticos tradicionais (geralmente positivistas ou, no caso do Brasil, escolanovistas), o objetivismo, formalismo e hierarquia. Suas aulas tendem a ser no tradicional esquema "eu-falo-você-escuta", e muitos têm como grande dificuldade ter sua autoridade questionada – independentemente de como concebam autoridade. Já o professor libertário pode ter suas virtudes definidas por oposição ao professor tradicional, e costumam se ver mais como ajudantes do aprendizado do que formadores de opinião.

Cada definição de professor adequa-se mais a uma forma de ver a questão do ensino. Enquanto o professor tradicional tende a ver o ensino por um ponto de vista positivista, o professor libertário define o ensino pelo ponto de vista pessimista mas concentra seus esforços para desvincular o ensino de sua função formatadora. Existem méritos nas duas definições de ensino, e isso é inegável. Mesmo o mais radical dos professores libertários deve dar o braço a torcer e afirmar que o professor tradicional atinge os objetivos a que se propõe atingir, e o professor tradicional deveria reconhecer que os alunos de um professor libertário são muito mais criativos e independentes do que seus alunos.

Para que não esquecer: a Carta do General Santa Rosa

Fala-se novamente na "Comissão da Verdade". O que seria em tese uma comissão para investigar os excessos dos militares durante os vinte anos nos quais estes estiveram no poder (ato louvável se assim fosse) não passa de um simples comitê petista para perseguir aqueles que foram contra o terrorismo disfarçado de luta social, isto é, perseguir aqueles que combateram os ideais mais profundos do Partido dos Trabalhadores, a saber: a implantação de um Estado comunista nos piores moldes soviéticos e cubanos e que em nada deveria à temida Oceania de George Orwell. Trata-se de puro e simples revanchismo, ainda mais injusto se lembrarmos das polpudas pensões que os altos dirigentes do PT recebem devido as suas participações nos atos de terrorismo que tanto assustaram o homem de bem, trabalhador honesto e respeitador das leis, durante o regime militar e que em nada contribuíram para a abertura democrática.

Nesse contexto lembro da Carta do General Santa Rosa. À época do Decreto de 13 de janeiro de 2010, que instituiu a tal Comissão, o Excelentíssimo Senhor General do Exército Maynard Marques de Santa Rosa escreveu uma análise simples e direta sobre os reais planos dos terroristas travestidos de governantes. Agora, que o assunto retorna a mesa graças à comissão da verdade peruana (que fez exatamente o que o General Santa Rosa previu que seria feito aqui no Brasil), não custa nada lembrar daquele texto advindo de uma das mentes mais brilhantes e corajosas das Forças Armadas Brasileiras, um dos últimos bastiões de defesa da democracia brasileira frente aos ímpetos chávo-petistas.

 

A COMISSÃO DA "VERDADE"?

 

A verdade é o apanágio do pensamento, o ideal da filosofia, a base fundamental da ciência. Absoluta, transcende opiniões e consensos, e não admite incertezas.

A busca do conhecimento verdadeiro é o objetivo do método científico. No memorável "Discurso sobre o Método", René Descartes, pai do racionalismo francês, alertou sobre as ameaças à isenção dos julgamentos, ao afirmar que "a precipitação e a prevenção são os maiores inimigos da verdade".

A opinião ideológica é antes de tudo dogmática, por vício de origem. Por isso, as mentes ideológicas tendem naturalmente ao fanatismo. Estudando o assunto, o filósofo Friedrich Nietszche concluiu que "as opiniões são mais perigosas para a verdade do que as mentiras".

Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.

A História da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar trinta mil vítimas por ano no reino da Espanha.

A "Comissão da Verdade" de que trata o Decreto de 13 de janeiro de 2010, certamente, será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder.

Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou.

Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma "Comissão da Calúnia".

General do Exército Maynard Marques de Santa Rosa"

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Minha mãe e eu - uma comparação de como vemos ou lembramos de nossas mães de acordo com a idade

Recebi ontem, mas só hoje estou repassando. Veja como é bonito!

5 anos: "Mamãe, te amo."
11 anos: "Mãe, não enche."
16 anos: "Minha mãe é tão irritante."
18 anos: "Eu quero sair de casa."
25 anos: "Mãe, vc tinha razão."
30 anos:" Eu quero voltar pra casa da minha mãe."
50 anos: "Eu não quero perder a minha mãe."
70 anos: "Eu abriria mão de TUDO pra ter minha mãe aqui comigo."...

Vc só tem 1 mãe.

Repasse se vc admira e ama a sua mãe"

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cruel sequestrador

Sequestraste meus melhores anos para ti
Prendendo-me em tuas melífluas promessas
Enquanto proibias meu mais íntimo regalo
Com olhar de proibição que a tudo atravessa

Queres de mim da tenra seiva a doce vida
Bebe de meu ser como insensível vampiro
Teu beijo, sedutor, ata-me aos teus dentes
Preenchendo-me com teu poder e meu suspiro

Por que não me libertas, maligno movimento?
Por que ainda me reténs em teu tenso laço?
Por que não me usas mais do que alimento?

Oh sono, tende piedade desta velha carcaça
Deixa-me enfim caminhar por meu próprio passo
Recuperar-me da insônia que me descompassa
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