Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

terça-feira, 29 de março de 2011

Série "Excertos de Livros Polêmicos" - Parte 2

A Série Excertos de Textos Polêmicos continua com mais um trecho do Livro Verde, de Muammar al-Gaddafi. Desta vez, veremos o que o polêmico governante da Líbia (governante pelo menos até o momento no qual este testículo está sendo escrito) pensa sobre a questão da imprensa. Mais uma vez, recorro a um arquivo em inglês, disponível em http://www.mathaba.net/gci/theory/gb.htm (falha minha em não citar a fonte anteriormente), e a tradução do trecho que interessa no momento fica mais ou menos assim:

 

Um jornal possuído por um indivíduo é propriedade daquele indivíduo, e expressará somente seu ponto de vista. Qualquer afirmação de que o jornal representa a opinião pública é sem fundamento porque na realidade ele expressa o ponto de vista daquele indivíduo particular. Democraticamente, indivíduos particulares não deveriam ser permitidos de possuir nenhum meio de comunicação ou informação pública. (...) A imprensa democrática é aquela que é publicada por um Comitê Popular, compreendendo todos os grupos da sociedade.

 

Esse trecho aparece após uma longa discussão em defesa da liberdade de expressão, por mais contraditório ou estranho que isso possa parecer. Ao que parece, al-Gaddafi reconhece que as pessoas têm o direito de expressar sua opinião (mesmo que seja uma expressão louca de suas próprias loucuras, como ele mesmo fala), mas não têm o direito de possuir os meios de comunicação necessários para o exercício dessa liberdade de expressão. Ao subordinar a imprensa aos Comitês Populares (instituição criada por al-Gaddafi para que, pelo menos em teoria, o povo, e não representantes, fosse de fato a fonte do poder político), na prática o que se tem é uma forma bastante refinada de se estabelecer a censura: o próprio povo, por medo de represálias, silenciaria qualquer opinião incômoda.

Sinceramente, dispensa comentários... E pensar que o ex-presidente Lula considerava-se aliado desse sujeito...

sexta-feira, 25 de março de 2011

OTAN acha que pode dar all-in com um par de dois...

A Líbia se transformou na mais recente pedra no sapato da política e do capitalismo dos países do Norte. A OTAN apostou tudo com um simples par de dois nas mãos (no pôquer, é a mão mais fraca possível), a França e a Inglaterra casaram as apostas e as três agora estão percebendo que só tem a perder nessa história. Enquanto isso, Obama veio pechinchar o petróleo brasileiro e Berlusconi deu a maior mostra de bom-senso nessa história toda (o que apenas contribui para deixar a OTAN, França e Inglaterra no ridículo, já que o premiê italiano é famoso por tudo, menos por ter bom-senso).

Mas por que a idéia de combater o regime de Muammar al-Gaddafi (como ele prefere a latinização de seu nome) é uma idéia ruim? Nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros argelino, Mourad Medelci, a intervenção estrangeira na Líbia vai validar futuras ações terroristas no plano ideológico. Al-Gaddafi pode não ser a pessoa mais popular no mundo árabe, mas caso ele morra ou caia será rapidamente alçado ao posto de mártir da guerra contra o Ocidente, e a jihad que ele tanto prega será exponencialmente impulsionada. Sua derrota fará com que grupos terroristas que ele financia ou que se sentem inspirados por sua retórica sintam a necessidade de vingar seu mentor.

Por outro lado, agora que a OTAN iniciou um estado de guerra contra al-Gaddafi (interessante que, apesar dos ataques militares contra os partidários do atual governante, ainda não houve uma declaração formal de guerra contra o regime líbio, o que é contra as convenções internacionais sobre o assunto) ela não poderá simplesmente virar as costas e deixar tudo como estava – ou pior, ela não pode sequer ser derrotada. Retirar-se da luta ou perder para as tropas pró-al-Gaddafi significa assumir incompetência – talvez por isso que os EUA, traumatizados pelo "sucesso" no Vietnã e no Afeganistão, tenham tirado o corpo fora. Pior ainda: se al-Gaddafi sair vitorioso todo o seu discurso, toda sua retórica e todo o seu exemplo serão validados, dando um fim aos vários levantes democráticos que aquela região do mundo tem experimentado.

Eis o cenário: se al-Gaddafi morrer ou for deposto, vira mártir; se ele vencer ou a OTAN e companhia se retirarem do conflito, farão papel de palhaços e adeus aspirações democráticas no Oriente Próximo. De qualquer maneira, a OTAN e aliados vão perder nessa história toda, e de quebra ou teremos um aumento dos atentados terroristas ao Ocidente, validados por uma retórica que exigirá vingança, ou os sonhos democráticos dos moradores daquela região serão varridos do mapa. Tudo bem que não é a primeira vez que eles metem os pés pelas mãos, mas desta vez apostaram alto demais.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Série "Excertos de Livros Polêmicos" - parte 1

Na falta do que fazer eu decidi reler alguns livros considerados polêmicos e citar por aqui trechos que eu considere interessantes, relevantes, ou pelo menos curiosos. Não que eu concorde com o ponto de vista do autor, mas o direito à liberdade de expressão é sagrado e mesmo fascínoras como Hitler ou Stalin o possuem.

 

O primeiro trecho da série pertence ao Livro Verde, escrito por Muammar al-Gaddafi da Líbia (ou Kadafi, como é mais conhecido pela mídia brasileira), que se propõe a ser um tratado sobre como funcionaria a democracia perfeita. Eu tenho o arquivo em inglês, mas traduzindo o trecho que me interessa por enquanto temos:

 

A religião contém a tradição, e a tradição é uma expressão da vida natural das pessoas. Destarte, a religião é uma afirmação das leis naturais que estão ali descritas. As leis que não se derivam da religião ou da tradição são tão-somente invenções humanas para serem usadas contra seus companheiros humanos. Consequentemente, tais leis são inválidas porque elas não emanam da fonte natural da tradição e da religião.

 

Este trecho aparece após uma longa crítica ao funcionamento da democracia nos países ocidentais, fundamentalmente laicas. Tentar relacionar religião com as leis de seu próprio Estado parece ser uma tática comum a todos os governantes absolutistas que se pretendem supremos e inquestionáveis. Na Idade Média isso era muito comum, o chamado Direito Divino para governar. Hoje, alguns governantes do mundo islâmico lançam mão constantemente de interpretações mais, digamos, "liberais" do Alcorão para justificar seus plenos poderes – entre eles, al-Gaddafi. Falta aparecer escrito, com todas as letras, que ele é o enviado de Allah para o mundo árabe.

Este testículo não é uma crítica a nenhuma religião, mas ao mau uso que certas pessoas fazem dela. Al-Gaddafi tenta desarticular o conceito de democracia misturando aspectos do socialismo científico com elementos de uma sociedade tribal, e recorre a um poder em tese inquestionável (o divino) para fundamentar sua tese. Complicado, no mínimo...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Hora de colocar as barbas de molho...

Os eventos ocorridos recentemente em solo nipônico certamente me deixaram com a pulga atrás da orelha. No dia no qual escrevo, por exemplo, li em um jornal (sou adepto da informação impressa, haja o que houver) que os níveis em radiação em Tóquio estão mais altos do que deveriam estar, e que é bem possível um acidente nuclear de proporções comparáveis apenas às de Chernobyl ou Three Mile Island (link pra quem não conhece o caso: http://en.wikipedia.org/wiki/Three_Mile_Island_accident), evento com o qual, em minha opinião, o drama dos japoneses mais se assemelha. O pronunciamento do Imperador Akihito em rede nacional, uma quebra do protocolo religiosamente seguido pela família imperial japonesa, apenas confirma que o estado geral das coisas é, na melhor das hipóteses, muito grave.

Mas por que me preocupar com isso, já que existem pelo menos 21Mm de superfície terrestre separando o Brasil do Japão? Vamos começar pelas semelhanças entre o cenário antes da tragédia e o cenário brasileiro atual. Um país acostumado a eventos naturais traumáticos, o Japão tem por hábito construir prédios resistentes a quase toda sorte de cataclismo natural ao qual eles estão sujeitos. A usina de Fukushima, por exemplo, foi planejada para resistir a terremotos (e subseqüentes tsunamis) de até 7,0 graus na escala Ricther – só que as estruturas tiveram que enfrentar um tremor fortíssimo de 9,0 graus, 100 vezes mais poderoso (se minha memória sobre funcionamento de escalas logarítmicas estiver correta) do que estavam preparadas para suportar. Com relação às usinas nucleares é preciso que eles sejam tão cautelosos, pois mais de um quarto da energia elétrica consumida pelo país é gerada por elas.

Aqui no Brasil temos quase três usinas nucleares e um centro de beneficiamento de urânio, todos no Rio de Janeiro, embora não precisemos delas: nossas hidrelétricas são, seguramente, a fonte mais confiável de energia elétrica que teremos pelos próximos trezentos anos. Nós não temos o hábito de construir nossos prédios de modo a resistirem às tragédias naturais, ainda que estejamos expostos a elas (os tornados no Sul e uma previsão de tornado para Angra dos Reis – justamente onde ficam as usinas – mostram que a frase "no Brasil não acontecem tragédias naturais" é mito). Pior do que isso: nós armazenamos nosso lixo radioativo em contêineres selados em blocos de concreto e estocados em armazéns de superfície como aqueles que vemos em qualquer cais de porto. Imagine um tornado passando pela região dos armazéns – ah, eu disse que há um tornado que possivelmente esteja indo para lá?

Não quero fazer discurso contra usinas nucleares, até mesmo porque há países que dependem quase que exclusivamente dessa forma de geração de energia elétrica, mas são eventos como esses do Japão que nos levam a pôr as barbas de molho – exceto os russos, que confiam demais no próprio taco e anunciaram um aumento no seu programa nuclear pacífico. É preciso repensar muita coisa, principalmente aqui no Brasil se quisermos lançar mão de um recurso do qual não precisamos. Será que se Fukushima fosse no Brasil, teríamos esperança de algum dia conter o desastre? Será que se tudo aquilo que aconteceu no Japão tivesse acontecido por aqui, teríamos um número tão baixo de mortos (nota: olhando apenas pelo ponto de vista impessoal dos números, em um cenário de dez ou quinze milhões de pessoas, trinta mil mortos é um pequeno número, inferior a um por cento do total)?

Esperemos bom senso dos lobbystas da energia atômica no Brasil. Talvez esperar o inferno esfriar seja mais viável, mas ainda assim, esperemos. Do contrário, bem, Fukushima está aí para nos contar o que acontecerá.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Falando ao Sono (ou "Sono, por que não me abandonas?")

Sono, por quem me tomas pois que nunca me abandonas?
Serei eu teu eterno amado daquelas pueris brigas de maio
Que entre tapas e romances e gritos trocamos beijos afetados
E saímos juntos perante a multidão que nos acusa de soslaio?

Serei eu aquele teu sonho que insistente te persegue à noite
Com carícias e regalos nunca antes provados por seres mortais?
Pois que seja eu a te dar carinhos e delícias proibidas aos outros
Que por desprezo zombam mas no frio âmago desejam ser iguais...

Aninha-te solene em meu cansado seio pleno de ti, sagrado Sono
E cantemos aquelas velhas modinhas que ainda ecoam para nós
Aquecidos e alentados pelas já esquecidas fogueiras de outono

Durmamos aquela que pode ser desta Eterna Noite sublime algoz
Versificando nosso fortuito caso em soneto e poema alexandrino
Abandonados um ao outro, profunda verdade que não se põe em voz
Powered By Blogger