Manual de Instruções

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terça-feira, 29 de junho de 2010

Acerca do Clima Fascista - A Indústria da Fabricação de Culpados (originalmente postado em listas de discussão diversas)

Nota: o artigo a seguir foi originalmente divulgado nas listas de discussões a seguir: Intercessões - Transdisciplinaridade e Crítica do Sentido - Grupo do Google Groups <intercessoes-transdisciplinaridade-e-critica-do-sentido@googlegroups.com>, Intercessões - Grupo do Curso de Filosofia - Grupo do Google Groups <intercessoes---grupo-de-filosofia@googlegroups.com>. Retransmito por ser a devida continuidade do texto anterior e uma perfeita descrição, ainda que se afirme ficcional em alguns pontos, do que acontece no ambiente universitário do Rio de Janeiro.

[Acerca do Clima Fascista] Criando o Inimigo - A Indústria da Fabricação de Culpados

Homero Fraga Bandeira de Melo[1]

 

 " Qualquer história sobre consciência é relativa à conectividade que existe entre todas as coisas do universo. Por isso, mesmo que de forma inconsciente, alegramo-nos frente à natureza gentil dos atos de amor". (SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: O Psicopata Mora ao Lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 20).

 

O fascismo é antagônico às formas de bem viver em sociedade na medida em que para se firmar necessita, artificialmente, construir seu inimigo. O inimigo é sempre aquele que não tenha capacidade efetiva de defesa e sobre o qual se possa imputar todas as mazelas possíveis. Essa classe, eleita inimiga da comunidade, torna-se o "inimigo comum".
Deve fazer uns três meses, revi O Conformista, de Bernardo Bertolucci, de 1970, e percebi, no filme, um clima muito parecido com o fascismo que hoje vivemos no ambiente universitário. A idéia que o filme passa – o filme acontece no instante da queda e execução de Mussolini e se outorga para o cargo, por parte do Rei Vitório Emmanule III, do Marechal Badoglio – é que o fascismo está em todos os lugares. Não são somente os que se dizem fascistas que o são; mas, que há aqueles que esperam um determinado momento, um determinado instante no tempo, para afirmar seu fascismo. Isso é o que estamos vendo, pois que ressentidos, os sábios de todos os cursos do cabaré começam suas manobras a fim de saber, afinal, "quem devemos eleger para inimigo comum de nosso movimento?".
Os movimentos supremacistas, tanto os "incubados" dois andares abaixo quanto os "legalmente territorializados" na atmosfera do cabaré são, ambos, detestáveis. Necessário se torna avaliar os tipos psicológicos com os quais se está a lidar. Necessário é observar meridionalmente se não se está a tratar com seres entificados que sofram de transtornos mentais ou até mesmo psicopatas. É normal que na vida comum, na societas christiana, ou na communitas, que os sentidos de solidariedade, compaixão e caridade estejam presentes nas almas de quase todos os cidadãos. Digo quase, pois que estava a conversar a tempos idos com um confrade que me disse: "por incrível que possa parecer, os indivíduos lesivos à sociedade são poucos". Porém, temos a tendência, até o último momento, a crer em julgamos auferidos a partir de nossa experiência no senso comum e de acordo com a educação católica que quase todos receberam: "não, não é possível que venham a me fazer mal"; "esse movimento? Não! Afinal estão a expressar o pensamento e este é ambiente democrático da masmorra do pensamento. Não, não me farão mal"; "haverá quem me defenda"; "não é possível que as pessoas estejam apenas antenadas com seus próprios interesses"....
Infelizmente não é bem assim. Necessitamos para aclarar a mente do leitor que reside na Cidade dos Espelhos e participa do Departamento de Teologia e Ciências Afins de alguns fatos ficcionais que ocorreram nessa Cidade e que não constam do livro. Antes de minha entrada na bastilha do nono andar, segundo relatos de pessoas que foram testemunhas da história fictiva, já havia a tentativa de implantação do clima fascista... Porém, convenhamos, nessa época o curso de Teologia da masmorra tinha professores que moviam estudantes de todos os andares e campus. As aulas do Filósofo e de um certo professor de Filosofia da Religião eram concorridíssimas! A malta ainda preparava seus primeiros movimentos e se defrontava com uma linha de frente, com uma máquina de guerra incrível! Porém, sabemos: nunca e sempre correspondem ao incontável. No mundo dos fenômenos obedecemos a Chronos e mesmo que o movimento seja a mais pura ilusão, o senso comum nos faz crer que há a mobilidade...
Aparentemente, a Terra parecia se mover, saia de sua imobilidade chocada com professores de Teologia que afirmavam, já em 2002, em suas brilhantes aulas que "aluno que pega trem e anda de ônibus não pode estudar". Na aula seguinte ouvimos outra incrível proposição filosófica: "aluno que anda de trem e de chinelo de dedo não deveria entrar na universidade". Óbvio que tais colocações não saiam do ambiente de aula e alguns, pelo regular proletários e pessoas sensíveis às mazelas correspondentes ao humano – dentro que há de melhor nos termos da experiência e verdadeiramente apiedadas e enojadas com o desprezo ao humano, saiam e nunca mais retornavam às aulas do douto heideggeriano nazista. Porém, "eppur si muove" e as durações começam a atravessar, com violência, o tecido da imanência. Por volta de 2005, já são conhecidas em uma certa faculdade católica, situada na Gávea, as "peripécias" dos analíticos, tais como: tentar acabar com o turno da noite da Faculdade de Teologia, desprezo por alunos pobres, apadrinhamentos e outras coisas mais graves. As coisas ganham uma certa notoriedade, mas nada que venha a abalar o prestígio do Departamento de Teologia e Ciências Afins da fictícia Cidade dos Espelhos. E devo ressalvar, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, pois que se sabe que professores de filosofia sem qualquer apreço por qualquer coisa que não seja o confisco ao erário e locupletação às custas da res publica – tornando-a imediatamente res privada – não pode existir. Afinal, os professores de filosofia da bastilha são pessoas de bom coração, excelentes seres humanos. E temos que admitir: todos erram, embora a grande maioria da população seja incapaz de se apropriar de algo que além de não ser seu é produto do recolhimento de impostos pesados que oneram pesadamente o contribuinte brasileiro. A consciência desses senhores não lhes pesa, pois somente aquele que é incapaz de amor por si é capaz de odiar tudo o que lhe pareça diferente.
O tempo parece continuar a passar e outros fatos fictícios se somam a observação que seguindo o velho Freud não pede conclusões e fica residindo em uma circularidade analítico-deleuziana: uma série de alunos, proto-nazistas ficcionais, começam a se identificar com os professores de filosofia nazistas ficcionais da masmorra. A esses são conferidas bolsas de R$ 190,00 (Cento e Noventa Reais) e com esse valor se lhes compram a alma onde há um único compromisso: o de não esboçar, sequer, uma linha de pensamento. A partir desse dia, com a venda da alma ao professor ficcional nazista, o aluno proto-ficcional-nazista abdica de alguns valores: amor ao próximo (que ele já não tinha), amor a vida, compaixão, caridade, benevolência, fé no humano, empatia e outros tantos valores integrantes do ser.
Não se esperava, porém, que os movimentos supremacistas chegassem a ser o que são hoje. O teatro de absurdos começa. A pequena provocação do dia-a-dia se intensifica. Erros são respondidos com outros erros. O estado de intolerância se apresenta. Porém, onde estão os culpados em um regime sem rosto e onde apenas se apresenta um "certo clima" indefinido onde os supremacistas não dão a cara a tapa? Necessário fabricar o inimigo; necessário plantar o mesmo. O incêndio ao Reichstag da masmorra já se deu, necessário agora fortificar a idéia de que uma determinada classe, sem poder e sem defesa, ocupe o lugar de inimigo da supremacia. Os alunos e ex-alunos do imaginário curso de Teologia da Cidade dos Espelhos não podem pagar por uma meia-dúzia de três professores e alunos que pregam o ódio ao semelhante. Necessário avaliar quem são os verdadeiros inimigos, pois um tiro dado indevidamente contra pessoas às quais se gostaria de eleger inimigos preferenciais – por seguirem a tipologia de Kehl ao contrário – pode sair cruelmente pela culatra. Necessário é lembrar que o grupo independente que se planta no desterritório nada deve a ninguém e se está lá é por direito próprio e adquirido. A universidade é nossa alma matter. A ela devemos nossas homenagens – e se a queremos homenagear todos os dias, assim exercemos um direito previsto constitucionalmente de liberdade de associação e de publicizar nossas ações por serem conformes a Lei vigente no país. A universidade é pública. Ninguém tem o direito de privatizar os seus espaços. Hoje o capital privado responde por parte das operações da fictícia Universidade dos Espelhos. Nada contra o capital privado. Nada contra possíveis ajudas oriundas do capital. Tudo contra a entrega do patrimônio do povo aos interesses escusos do capital. Tudo contra a franquia de espaços públicos, sejam quais sejam, a grupos supremacistas que pregam o ódio ao semelhante. Necessário refletir acerca do estado de coisas que vivemos na fictícia universidade – que sabemos jamais poderia existir.

 



[1] Homero Fraga Bandeira de Melo - Professor de Filosofia e Bacharel pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. E-mail de contato: homerofraga@holosinformatica.com.

Acerca do Clima Fascista: o fascismo diário (originalmente publicado em http://vmastaroth.blogspot.com/2010/06/o-fascismo-diario.html)

Nota: o artigo a seguir foi originalmente publicado em http://vmastaroth.blogspot.com/2010/06/o-fascismo-diario.html. Trata-se de uma interessante reflexão sobre a maneira pela qual as liberdades individuais, tão caras ao Estado de Direito, estão sendo sumariamente ignoradas ou mesmo atropeladas por certos "ideólogos" que se apossaram das máquinas desse mesmo Estado de Direito. Mais do que nunca, estamos cercados por escuros oceanos de pura infinitude - o que, é importante dizer, não significa que iremos longe. Estamos, sim, adentrando uma nova era, uma nova Idade das Trevas, escolhida voluntariamente por esta humanidade para não sucumbir ao peso de sua própria mediocridade.

[Acerca do Clima Fascista] O Fascismo Diário
Por Homero Fraga Bandeira de Melo[1]


"Boas casas, boas roupas, bom padrão de vida, boas leis e liberdade são melhores que penúria, anarquia e escravidão. Os que estão infelizes em Londres podem ir para as Órcadas; lá viverão como se vivia em Londres no tempo de César. Comerão pão de cevada, cortarão a garganta um ao outro por um pedaço de peixe seco e uma cabana de palha. E quem dá esse conselho deveria também dar o exemplo."
VOLTAIRE, François Marie Arouet de, 1674-1788. O ABC: Sétima Conversação: A Europa Moderna é Melhor do que a Antiga.


Estávamos, como quase sempre, (e após deixarmos a "mesa"), no Rio 40 Graus, a confabular, "encerrando o expediente filosófico" do dia.
Éramos três e chegando o quarto cidadão, este, (após tragada profunda em um Dunhill Carlton), e, também após sorver meia taça do honesto vinho do lugar, desabafou: "não se pode fumar mais em lugar algum desta cidade! [vociferou] Hoje, na barca, retirei-me para fumar distante dos outros cidadãos, e, mesmo assim, fui vítima de olhares odiosos. E quase a terminar o devotado ofício da ingestão necessária de nicotina, que torna meu espírito cheio de deuses, aproximo-me do guichê onde comprei minha passagem de encontro ao Rio de Janeiro, à labuta, e, posteriormente, à universidade, onde venho a ter com os meus, quando uma senhora comenta acerca de mim com um senhor em tom de profunda reprovação: "ele é fumante". Atordoei-me; pois, afinal, que fiz àquela criatura? O homem com quem ela comentara isso já, em mente, investia-se do uniforme dos Carabinieri. Estava pronto para avançar contra um inimigo do Estado, contra um ente, que graças a Vitório Emanuelle III já não era mais um nacional da Itália, e, portanto, destituído de cidadania, a mim se poderia fazer o que se aprazia. E assim, tenso, aviltado, humilhado e agredido sem razão alguma; pois que se fosse, realmente, proibido fumar seria da forma como é na França, atualmente o país mais nazista de todo o mundo – saudoso do governo de Vichy – que tira a beleza de seus cafés, onde nenhuma filosofia é mais possível; pois que imaginemos Sartre sem seus Gauloises e a terna imagem de Deleuze sem a fumaça, inocente, ao fundo? Dirigi-me ao balcão de passagens perguntando: por que?".
A pergunta colocada àquela mesa, naquele dia da semana onde as pessoas laborais vão direto para suas casas descansar e cuidar de seus afazeres, pois que acreditam que podem dominar a Chronos, (deus impiedoso para com àqueles que nele acreditam), reverberava. Afinal, é possível a filosofia em um ambiente sóbrio, equilibrado, cheio de leis e regulamentos?
E é por isso que a filosofia não é possível na nazi-fascista academia! Homens bem vestidos, mulheres idem, cheios de si mesmos, certos de seu saber! Pessoas de conduta aparentemente reta, a citar John Rawls, Alasdair Chalmers MacIntyre, Immanuel Kant, Hans Kelsen! Defensores do Estado de Direito! Pessoas que optaram por crer em um Estado em que não se pode e nem se deve fumar (se bem que dentre esses senhores um padre jesuíta deles destoa, fumando alegremente seu Hollywood e também vociferando contra o estado de coisas – que diz creditar aos comunistas, mas isto é outra estória – ou seria história?); porém que se locupletam com verdadeira felicidade quando lhes aparece uma oportunidade delituosa. O erário, então, é o principal freguês destas pessoas tão retas, tão éticas e que viajam quase todo o ano à Alemanha com a finalidade de serem vítimas do ódio daqueles que se dizem verdadeiramente arianos! Lá tem suas carteiras roubadas e se o dinheiro do CNPq atrasa, a primeira coisa que se lhes corta é a calefação... Voltam ao Brasil saudosos, celebrando um possível IV Reich, sonhando com o fim do turno da noite da faculdade... A grande parte deles, nem de longe, corresponde a tipologia ariana. Esquecem que se subir o IV Reich aqui no Brasil, nem eles, nem 70% da população brasileira, se se pensar em termos das Leis de Nuremberg ou dos Protocolos de Wannsee, ficarão para contar história! Talvez os sulistas, por serem descendentes, restem para re-colonizar esta Terra Brasilis!
O antigo Rei dos Sucos, hoje MateMix, também aderiu a imagética nazi-fascista (não esqueçamos Hitler era vegetariano e anti-tabagista – a favor de uma dieta saudável, da leitura de livros edificantes; essas coisas...), com cartazes com o famoso: "é proibido fumar, portar, acender...". Curiosamente, o cartaz mais uma vez resta no esquecimento. De dia, os homens do direito, da lei, do Estado, que citam Hans Kelsen, Immanuel Kant, John Austin, não permitem que se descumpra a lei. De noite necessário é descumprir a "lei" (se é que ela se instaura em uma atmosfera onde só há possíveis, paisagens, atravessamentos voltaicos gigantescos) e nosso café vai até a mesa, bem como os pratos – e os indivíduos defensores da moral (?), da ética (?), do Estado, da probidade administrativa (?), descansam em seu ódio, pois o MateMix sabe bem o velho mandamento dos restaurantes: expulsar os fumantes é decretar falência, pois que são eles que mais tempo passam nas mesas e são os que mais consomem. Seu dinheiro é sempre bem-vindo. Por isso, o restaurante que fica perto do Rio 40 Graus, ao lado da Igreja, fica vazio e o nosso novo ponto na noite universitária se transversalisa apinhado de pessoas cheias de vida, pulsão e vontade de observar a "linha do horizonte" (Marlboro) onde não há limites ("No Limits" – Hollywood, entre 1997 e 1998 – chavão criado para os últimos comerciais que o nazi-fascismo deixou ir ao ar).
A grande questão na proibição do fumo, fora os temas elencados nesta mais acima, é simples (e ninguém quer muito prestar atenção nisso): trata-se de coibir a liberdade de expressão. Na medida em que o Estado inicia um processo deste (o Brasil tem 22 milhões de fumantes, que pagam 74% de imposto em cada Box de cigarro), ele elege um grupo, que está em minoria, e que não pode apresentar velocidade e/ou potência de defesa suficientes, e aponta a este como o "inimigo número um da nação". Mas, não é só esse o espelho do fascismo diário. Hoje vivemos mais (fumantes e não-fumantes) devido ao avanço da medicina. Porém, não temos nenhum direito de envelhecermos. A velhice é vista como doença. Os próprios velhos a renegam! Cena um: Rua 24 de maio, uma senhora faz sinal a um ônibus, muitas pessoas no ponto. O ônibus não para. Trata-se de um idoso. Idosos podem esperar... Cena dois: mesmo lugar, outro dia, outro horário... A mesma senhora. Faz sinal. O ônibus para distante. Era o suficiente para que um ágil jovem arremessasse a guimba de seu cigarro ao longe, corresse e entrasse no coletivo. A senhora tentou, porém "ficou na pista"... Isso, também, é fascismo no sentido em que todos, independente de credo, raça, cor ou qualquer outro item, contanto que estejam na posse de seu direito de cidadãos, tem direito de ir e vir, conforme lhes convier.
O fascismo começa a tomar vulto em nossa nação, na medida em que o povo, de forma geral, tem, (cada vez mais), menos acesso a informação de qualidade, a cultura e a educação formal. Desde o início do milênio notamos queda absurda na qualidade do aluno do curso. Nesse período ministrei aulas a alunos de outro curso. Lembro como se fosse hoje: os sujeitos desconheciam Galileu, Copérnico, Kepler e Newton! Vinham do antigo Segundo Grau. Não sabiam. Seriam, daqui a cinco anos, "cientistas"! E são esses que passam para o amestrado, depois para o adoutorado, tornam-se professores, compram uma pasta marrom e vestem roupa social. Depois "se arruma" um "pós-doc" em algo nebuloso como "derivação quinta da hipótese sétima presente na organicidade do discurso real e verdadeiro em...". Mas, se você estudar o que interessa para você, para a vida, para a composição dos afectos, festejar a vibração que é viver cada dia de forma diferente, gostar de assistir o nascer e o por do Sol, cultivar amigos e interlocutores, se esmerar por estar sempre aprendendo algo novo lendo de tudo, se você tentar burlar o sistema, se você não aceitar as regras, então... E eles sabem quem é você! Você não se esconderá deles. É o velho truque do nome com asterístico, é o famoso telefonema das três da manhã.
É fácil saber quem está vivo e quem não está; pois os vivos tem a face corada e seu corpo pesa mais. Eles presentificam uma forma substancial onde alma e corpo se confundem aparentando ser uma coisa só – como o velho Leibniz nos diz no Discurso de Metafísica.
Se em uma universidade pública o nível das pessoas é tão baixo, ao andar na rua, conversar com elementos do povo e tentar, de alguma forma, entender o movimento social, nos deparamos com os fascismos de cada dia. Porém, essa falta de educação formal não é desculpa para as atitudes fascistas. As pessoas que as tomam sabem e tem consciência plena delas. Elas não são dignas de perdão, nem de ódio, nem de indiferença. É a velha estória dos dois monges Zen e a mesma do Zaratustra de Nietzsche: "não devemos carregar cadáveres nas costas" (estou citando de memória e parafraseando – sei que há cá pessoas versadas em Nietzsche, porém, não vou parar de escrever agora para ir a estante ver na Werke tal ou qual se isto é assim mesmo – definitivamente, não sou homem de acordos).
Por tudo isso sei que você leitor já está cansado de minhas circularidades e tenho apenas mais algo a dizer: "cuidemos de nosso jardim" e que estes que insatisfeitos com a resistência que a Filosofia está a proporcionar deixem a ágora virtual. E deixarão. Isso é apenas questão de tempo, pois uma nova força está nascendo de dentro dos bueiros, nas ruelas escuras, e empunhando espadas de puro sentido, assaltarão. E que estes que hoje nos oprimem, assistam e ouçam o barulho opressor do silêncio, tal qual estrondo a quebrar todas as barreiras. A Filosofia não veio para costurar alianças e assinar contratos, e, só podemos vencer em sociedade, angariar algum respeito dela, se nos apresentarmos como um soldado que não deseja viver; pois, como diz o velho ditado chinês: àqueles que desejam morrer, viverão; àqueles que desejam viver, morrerão.

[1] Homero Fraga Bandeira de Melo - Professor de Filosofia e Bacharel pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. E-mail de contato: homerofraga@holosinformatica.com.
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