Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FHC X LULA! "SE"! COMO SERIA? (Retransmissão do Ex-Blog do Cesar Maia publicado em 25/02/2010)

Nota: o texto a seguir foi originalmente publicado no Ex-Blog do Cesar Maia na edição de 25/02/2010. Tomo a liberdade de retransmiti-lo por conta da análise da conjuntura política atual de nosso país implítica no texto.

FHC X LULA! "SE"! COMO SERIA?

1. Embora o "SE" não caiba em política, como aprendizado teórico, pode ensinar muito. Fora do calor pré-eleitoral e das redes na internet tentando demonstrar com números e estatísticas a superioridade de um sobre o outro governo, qualquer raciocínio razoavelmente isento, concluirá que as ações dos governos adotadas dentro das duas últimas décadas, desde o governo Itamar Franco, produziram uma curva sustentável de indicadores positivos em nível econômico e social.

2. A começar pelo Plano Real, no governo Itamar, quando FHC era seu ministro da fazenda. Seus desdobramentos foram políticas -fiscal, monetária e financeira- consequentes. A própria abertura da economia, iniciada um pouco antes, foi reforçada e ampliada pelas ações seguintes. O comércio exterior brasileiro saiu de 52 bilhões de dólares em 1990 para 370 bilhões de dólares em 2008. A política de valorização do real começou com o Plano Real e atingiu igual intensidade nos anos Lula, com efeitos sobre o salário real e o controle da inflação.

3. As ações de inclusão social focalizadas, dispersas, começam ainda nos anos 80, com bolsas-alimentação, ticket-leite, etc. Mas como política orgânica, começam no governo FHC, com o bolsa-escola, enquanto renda mínima com condicionantes. A bolsa-família, agregando bolsas, foi sua continuidade ampliada. Os tratamentos dados aos ministérios de educação e saúde, desde FHC, abriram caminhos para a universalização do ensino fundamental, expansão do ensino médio, avaliação de desempenho, melhoria dos indicadores de saúde...

4. As curvas que traduzem todos estes indicadores tornaram-se ascendentes e auto-sustentáveis, desde que se desse, como se deu, continuidade às diversas políticas constituintes, cuja aceleração dependeria do ambiente externo, como ocorreu negativamente com as crises asiática e russa de 1997/98 e depois com o ciclo de forte expansão internacional de 2004 a 2008.

5. E é aqui que entra o "SE". FHC, como o mais qualificado político brasileiro, com o saber que lhe dá lastro, com a experiência parlamentar e as experiências de ministro de relações exteriores e de fazenda, agregadas à campanha de 1994, chega ao governo sabendo as medidas a adotar. Com sua maioria parlamentar, eliminou amarras constitucionais em relação ao capital privado e externo. E projetou cenários que antecipavam esse ciclo sustentável econômico e social.

6. Para garantir a gestão do mesmo e o usufruto futuro de seu trabalho, alterou para seu próprio mandato as regras constitucionais de re-eleição. Mas as condições mudaram no final de 1997 e durante 1998. A reeleição exigiu plasticidade fiscal e cambial (tanto quanto Lula agora na pós-crise de 2008). E o segundo governo impôs a FHC sacrifícios políticos para garantir a sustentabilidade da curva que lançou. O resultado é que o segundo governo, para a percepção da população, não veio traduzido pela complexidade das medidas, mas pelos resultados, produzindo uma memória de baixa popularidade.

7. "SE" FHC tivesse tido paciência democrática e confiança na irreversibilidade de suas medidas fiscais, monetárias, financeiras e sociais, a emenda constitucional da reeleição só seria aplicável ao próximo governo. Lula carregaria entre 1994 e 1998, como presidente, com a baixa popularidade que FHC carregou e talvez mais, por sua menor experiência, maior ansiedade e pressão de sua base social e política. "SE" isso tivesse ocorrido, provavelmente FHC teria voltado como salvador em 2006 e, agora em 2010, estaria -de carruagem- concorrendo à reeleição. Para o bem do Brasil, que não estaria digerindo os riscos de uma candidatura improvisada do PT, sob a pressão lúdica e incerta de seus pares.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desfecho do caso João Hélio: prova cabal de que o crime no Brasil COMPENSA!

Caro leitor

Acredito que você deva se lembrar do caso João Hélio. Para os que não lembram, João Hélio morreu aos seis anos após ser arrastado por sete quilômetros por ruas do Rio de Janeiro quando um bando assaltou o carro de seu pai. Para ser sincero, não acredito que muita gente fora da família se lembre do caso. Houve muita comoção pública na época, mas depois de alguns meses a única demonstração pública de lembrança do fato que eu vi foi uma pichação em Benfica (Rio de Janeiro, RJ) com os dizeres "Saudade do menino João Élho (sic)". Entre o grupo de assaltantes havia um menor de idade, que recentemente completou seus dezoito anos.
Você por acaso soube o que aconteceu com esse menor de idade? Beneficiado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), esse menor (agora maior) foi posto em liberdade. Para completar, o menor foi posto sob proteção judicial por ter sofrido ameaças de morte por causa do crime hediondo que cometera. Achou pouco? Tem mais ainda: uma Organização Não-Governamental (ONG) chamada Projeto Legal (http://www.projetolegal.org.br/) providenciou uma moradia para ele no exterior, em um "dos países mais desenvolvidos do mundo" com direito à nova identidade! Se você não acredita leia em http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=283629&modulo=967, http://www.htforum.com/vb/showthread.php?p=2207024, http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4271252-EI5030,00.html, http://jorgeluizfiqueinformado.blogspot.com/2010/02/caso-joao-helio-jovem-que-participou-do.html, http://www.estadao.com.br/noticias/geral,jovem-envolvido-na-morte-de-joao-helio-ganha-protecao,513369,0.htm e http://www.midiaamais.com.br/brasil/2461-menor-solto-acusado-de-matar-menino-joao-helio-estaria-protegido-por-ong-e-prestes-a-ganhar-qvida-nova-no-exteriorq. Nesse último é possível ler o depoimento dos pais desse menor infrator agradecendo à ONG pelo o que fizeram. Cito um trecho: "só Deus pode abençoa-los (sic) por tudo o que fizeram pelo meu filho. Não é por acaso que a Organização de Direitos Humanos Projeto Legal é reconhecida internacionalmente. Muito obrigado, vocês nasceram com o dom da defesa".
Antes de continuar, pretendo deixar uma coisa bem clara aqui: não sou contra o trabalho de ONG's sérias. Mas sou contra aberrações como essa. Colocando em termos claros: esse menor infrator, que durante seu período de reclusão participou de uma rebelião, detido por ter participado de um assassinato hediondo e a sangue-frio, recebeu como PRÊMIO uma casa em um dos países mais desenvolvidos do mundo - pois não concebo se isso pode ser entendido de outra maneira. Colocando de outra forma: o "castigo" desse menor infrator por matar uma criança foi receber uma casa no exterior! Melhor ainda: esse menor infrator, um "pobre coitado" e indefeso perante às ameaças de morte recebidas em função do assassinato bárbaro cometido sem hesitação, ganhou uma casa para morar e uma vida nova. Pergunto: quanto dinheiro - que poderia ser usado para amenizar a pobreza de algumas famílias, ou para levar algum conforto para os realmente necessitados, como as vítimas das enchentes em São Paulo - foi gasto para dar casa e identidade novas para um assassino?
Vamos fazer uma comparação muito estúpida, mas que vai servir para figurar o tamanho da minha indignação. Vamos supor que entre casa, identidade e transporte a tal ONG tenha gasto R$ 300 mil para premiar um dos executores dessa barbárie - acredito que se tenha gasto muito mais do que isso, mas vamos manter o número baixo para conceder o benefício da dúvida. O salário mínimo nacional é R$ 510, e muitos trabalhadores precisam sustentar suas famílias com ele. Fazendo as contas por alto, vemos que aqueles R$ 300 mil supostos são quase seiscentos salários mínimos nacionais. Considerando que um salário é o pagamento recebido em troca de um mês de trabalho, e admitindo o arredondamento da divisão para seiscentos salários mínimos nacionais, um trabalhador que recebe um salário mínimo por mês precisa trabalhar por cinquenta anos para ter recebido R$ 300 mil. Supondo que esse trabalhador tenha começado a trabalhar aos 20 anos, temos que ele se aposentaria antes de receber tantos salários quanto o necessário para totalizar o dinheiro que supomos que a ONG gastou com o menor infrator. Outra comparação: aceitemos que uma casa financiada pelo programa Minha Casa, Minha Vida custa em média R$ 60 mil. Acredito que ninguém irá negar que uma casa própria representa uma grande conquista para uma família, e que esse é um dos primeiros passos rumos a uma vida melhor. Pois bem, com o que essa ONG gastou com um menor infrator cinco famílias honestas poderiam ter sido beneficiadas.
Conclusão: no Brasil não existe vantagem em ser um cidadão honesto. Enquanto um cidadão honesto arca com salários indignos e uma carga tributária absurda (se bem que algumas mentes brilhantes em Brasília acham que pagamos poucos impostos, pois pretendem criar novos), um criminoso é mantido pelo Estado ao custo de pelo menos dois salários mínimos por mês (esse é o valor que o Estado gasta com um detento em uma penitenciária) e quando sai ainda tem a chance de ganhar uma casa em um dos países mais desenvolvidos do mundo. Será que isso está certo? SERÁ ESSE O PAÍS NO QUAL QUEREMOS VIVER?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AUMENTA A IMPORTÂNCIA DE ELEGER DEPUTADOS E SENADORES COMPROMETIDOS COM AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS! (Ex-Blog do César Maia, 22/02/2010)

Este texto foi publicado no Ex-Blog do César Maia em 22/02/2010. Retransmito pois o considero importante e pertinente ao atual cenário político brasileiro.

AUMENTA A IMPORTÂNCIA DE ELEGER DEPUTADOS E SENADORES COMPROMETIDOS COM AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS!

1. O Congresso do PT reiterou as teses básicas e históricas do partido em relação ao controle dos meios de comunicação, o revanchismo atropelando a lei de anistia, a inobservância do direito de propriedade, a gula fiscal com aumento de impostos, a agressão aos valores da família... Era natural e esperado. Isso não quer dizer que Dilma abra o jogo e assuma essas teses em suas propostas eleitorais. Claro que não. Alegará que uma chapa pluripartidária e um governo de coalizão exigirão assumir parcialmente as propostas dos parceiros.

2. Os sinais de sua vontade íntima estão dados pela escolha de seu coordenador de programa, o chavista Marco Aurélio Garcia. Dilma terá dois programas de governo: um aberto ao distinto público, repleto de moderações econômicas, políticas, jurídicas... E outro, no cofre, bem guardado. Qual dos dois será aplicado?

3. Isso depende da futura composição do Congresso Nacional. Se as forças da esquerda autoritária, somadas ao clientelismo/patrimonialismo e aos interesses especiais, tiverem maioria no Congresso, o programa de verdade será retirado do cofre e aplicado. E obter esta maioria com esta composição não será tão difícil, com os fornecedores das estatais federais e do governo federal pressionados a patrocinar seus candidatos, vale dizer os que garantirão pela ideologia, passividade ou interesse, aquela maioria.

4. E isso já começou, segundo comentam alguns fornecedores. Em 2010, teremos, no Brasil, uma derrama de recursos para os "aliados", como "nunca antes neste país". Por isso tudo, as eleições para deputados federais e senadores ganham uma importância estratégica. É fundamental que aqueles comprometidos com as instituições democráticas, a liberdade de expressão, a estabilidade política, a defesa do contribuinte, do direito de propriedade, dos valores da família componham mais de 60% do Congresso.

5. Hoje é assim, já que na dita "base aliada" uma parte dela não aceita votar qualquer coisa, como terceiro mandato, controle dos meios de comunicação, ruptura com os valores da família, abandono da lei de anistia, atropelo ao direito de propriedade... Mas se a composição dessa base aliada for alterada, com proporção maior dos parlamentares do clientelismo/patrimonialismo e dos interesses especiais, isso pode ocorrer.

6. É verdade que Serra é favorito, e que isso só poderia ocorrer se Dilma vencesse, o que é pouco provável. Mas há que se prevenir para uma surpresa eleitoral. E a composição do futuro Congresso é a muralha que se anteporá a situações imprevistas.

7. Precaução e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Adrian

Atenção: o texto a seguir é um trabalho puramente ficcional. Quaisquer afirmações ou fatos contidos neles não apenas não condizem com a verdade como também não expressam a opinião do autor. Repito: este é um trabalho de fantasia.

Quando eu conto isso para você, meu filho, não tenho esperanças de que acredite em mim. Muitas outras pessoas já ouviram esta história antes – sim, meu filho, história e não estória – e todas prontamente recomendaram que eu procurasse ajuda especializada. Talvez devesse. Mesmo hoje, anos depois dos eventos sobre os quais escrevo relutantemente, penso que realmente poderia ser uma simples alucinação. Porém quando o meu cérebro já está suficientemente convencido para passivamente se ajustar a essa idéia vêm das sombras as provas de que não estou alucinando, embora eu já não tenha tanta certeza de que lado da fronteira da sanidade eu me encontre.
Isso aconteceu há uns dez anos, naquele hospital em que eu trabalhei e que desabou devido a algum erro estrutural. Foi no dia em que seu padrasto morreu. Devia ser umas dezesseis horas, mas não sei precisar porque o céu estava negro da tempestade que impiedosamente castigava prédios e desabrigados desafortunados o suficiente para terem sido pegos pelo dilúvio. Pensei, na hora, que as ruas estariam cheias e o médico que me substituiria em algumas horas no serviço de psiquiatria provavelmente se atrasaria. Você sabe que eu gosto de atuar como psiquiatra, pois nunca temi tanto os loucos como temo os sãos. Eu estava convencida que a loucura era apenas uma forma diferente de lidar com as informações do mundo exterior. Por isso, não me incomodava a perspecitiva de permanecer no serviço por quatro, oito ou quaisquer horas adicionais. Eu conversava com os internos que não precisavam de sedativos, e isso apenas reforçava minhas crenças sobre a loucura.
Havia um deles, Adrian se eu me recordo bem, que fora internado e posteriormente abandonado pela família. Adrian era um rapaz jovem, bastante bonito e bem falante, e se não fosse as alucinações que constantemente o reduziam a um estado inferior ao de um cervo amendrontado seria um membro não apenas funcional mas fundamental para a nossa sociedade. Seus conhecimentos de matemática, engenharia e eletrônica eram surpreendentes, e mais de uma vez ele consertou alguns equipamentos médicos no hospital. Por esse motivo os demais médicos permitiam que ele andasse livremente pelo hospital, desde que acompanhado por uma enfermeira que o auxiliaria caso sofresse uma crise de alucinações. Alguns médicos iam mais além, e traziam livros, jornais e outras formas de mantê-lo em contato com o mundo exterior. Lembro-me também que ele escrevia muitas cartas, mas nenhuma delas era respondida.
Nesse dia de chuva Adrian se aproximou de mim e perguntou se poderíamos jogar xadrez. Eu não sou muito boa, mas acredito que Adrian, percebendo a situação imposta pela chuva, estava tentando ser gentil e ajudar a me distrair. Fomos para um canto mais afastado onde poderíamos jogar, e dei ordens aos enfermeiros para que me procurassem caso algum interno saísse do controle. Iniciamos algumas partidas, e pude perceber que Adrian estava muito distraído – algo decididamente anormal, pois ele era uma das pessoas mais atentas que conhecia até então.
- Você nunca perguntou quais eram minhas alucinações, doutora – disse Adrian ao mesmo tempo em que marcava um xeque-mate.
- Sua família descreveu que você vê grandes objetos faiscantes enquanto alucina, Adrian. O doutor Mark disse que isso poderia ser devido ao seu talento com eletrônica, mas que precisaria ser tratado até que desaparecesse.
- Eu sei disso. Como eu sei que o doutor Mark mentiu em seu diagnóstico.
Larguei o peão que eu estava ajeitando no tabuleiro, derrubando mais algumas peças no processo. Adrian, percebendo meu choque, ajeitou-as, pôs os cotovelos sobre a mesa, apoiou o queixo nas mãos e disse:
- O que você sabe sobre o mundo, doutora? Melhor dizendo, o que é a realidade para a senhora?
Fui poupada de responder pela interrupção de um enfermeiro dizendo que o médico que me renderia acabara de chegar. Despedi-me cordialmente de Adrian, e ele disse que eu deveria pensar sobre tudo aquilo que eu acreditava ser verdade. Ao sair do hospital pude perceber que se passaram quase seis horas – algo impossível considerando que joguei apenas duas ou três partidas curtas com Adrian. Ao chegar em casa decidi não me ocupar com a questão, estava cansada demais para isso. Eu aproveitei que seu padrasto não estava em casa e tomei um copo de uísque depois do banho. Foi quando tudo começou.
Escutei alguma coisa batendo nas janelas da sala, e como morávamos no vigésimo andar isso me assustou muito. Abri as cortinas e não havia nada lá. Voltei para a poltrona e ao copo de bebida, tomando o cuidado de deixar as cortinas abertas e ficar olhando para a janela. Quando me convenci que nada demais acontecera e que o barulho certamente foi invenção de uma mente cansada e levemente alcoolizada, fui para a cozinha lavar o copo, preparar um sanduíche para não dormir com fome. Quando eu pus o copo no armário houve um apagão de energia elétrica. Pensei que fosse algo normal após uma tempestade, então peguei uma vela, acendi e decidi ir dormir com fome.
Quando eu passei pela sala vi pelas janelas que apenas eu havia sofrido com a interrupção de energia elétrica. “Deve ser o fusível”, pensei, e liguei para o síndico. Nunca te contei isso, mas da última vez que tentei trocar um fusível foi em um equipamento de eletrochoque e quase morri eletrocutada. O síndico, porém, não atendeu o telefone. Quando eu pus o aparelho no gancho escutei a porta se abrindo e a voz de seu padrasto invadindo aquela escuridão assustadora. Ele estava pálido demais, e isso me deixou muito preocupada. Olhei pelas janelas novamente, procurando algo que na hora eu não sabia bem o que era, e quando eu volto os olhos para o local no qual seu padrasto estava vejo que as luzes retornaram ao apartamente e que ele não estava mais lá. Supus que ele havia ido verificar o fusível, então no momento não me incomodei.
No entanto, as horas passavam-se e seu padrasto não retornava. Às duas da manhã recebi um telefonema do corpo de bombeiros, dizendo que o corpo de seu padrasto foi achado às dez da noite completamente mutilado. Isso me chocou profundamente, pois certamente era mais de dez horas da noite quando ele apareceu para mim e as luzes retornaram. Eu não sabia se chorava a perda ou tremia de medo, mas era certo que havia alguma coisa muito estranha acontecendo comigo. Eu conhecia relatos de pessoas que alegavam ser médiuns, capazes de falar com os mortos ou mesmo de prever quando um ser vivo morreria. Preferir descartar isso e creditar a experiência à combinação de cansaço com medo e álcool. Joguei-me na cama como estava e fui dormir.
Alguns dias depois eu retornava ao hospital onde Adrian estava internado. Meu plantão começou com um incidente desagradável: um dos enfermeiros foi pego abusando sexualmente de uma das internas, e o médico ao qual rendi decidiu transferir a responsabilidade do problema para o médico que viesse depois dele no plantão. Tive que chamar a polícia, prestar testemunho, preencher relatórios e cumprir o ritual burocrático que tomou quase oito das minhas doze horas de plantão.
Quando me vi desembaraçada do mar de papéis que a luxúria de um enfermeiro atirou sobre mim vi que Adrian estava em pé ao lado da porta do meu escritório. Fiz sinal para que ele entrasse e se sentasse. Adrian apoiou os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos da mesma maneira que ele fizera no dia das partidas de xadrez, assobiou baixinho e disse:
- Eu sei o que você viu. Isso não é loucura, mas é algo que desafia aquilo que a ciência humana chama de “racionalidade”.
Aquilo me deixou muito incomodada. Eu não havia comentado com ninguém sobre aquela experiência no apartamento, e, a bem dizer, ainda estava chocada demais com a morte de seu padrasto para ser capaz de agir fria e racionalmente à situação imposta a mim por Adrian. Ele, por sua vez, continou a falar:
- “Existe mais coisas entre o céu e a terra do que supõe tua vã filosofia, Horácio!”, disse Shakespeare. Dizem que eu alucino, e ninguém mais do que o doutor Mark tem interesses nisso, mas a verdade é outra. Descobri um meio de entrar em contato com dimensões jamais imaginadas pelo homem, universos paralelos nos quais repousam as explicações para os fenômenos estranhos que se escondem nas sombras e nos rincões deste mundo. Aprendi com os seres nativos dessas dimensões, e pelo pouco que sei posso afirmar, com certeza, que não passamos de cobaias sendo analisadas em algum experimento cuja amplitude não podemos compreender, conceber ou mesmo entender caso víssemos e esses seres nos explicassem.
- Adrian, você tomou seus remédios hoje?
- A senhora não pode entender, não poderia mesmo sem ter visto o que eu vejo. Mas então como explicaria que seu marido, morto há algumas horas, aparecesse para você e trocasse o fusível?
Adrian tocou em um ponto muito sensível. Eu não tinha como explicar aquilo. Adrian pareceu não ligar para a confusão que obviamente se estampava em minha face e continuou a falar.
- Existem seres muito poderosos nessas dimensões, seres que em comparação a nós são deuses. Como explicar os astecas, os incas, os maias e os egípcios, a cultura deles, todo o conhecimento que eles tinham? Como justificar que eles adorassem deuses cruéis que pouco se importavam com eles a não ser como objetos de adoração? Doutora, o que eu estou falando aqui deve ser mantido em segredo, mesmo que não possa haver segredo para esses seres e seus servos humanos.
- Servos humanos?
- Algumas pessoas são como meus pais ou o doutor Mark. Eles servem esses seres em troca de poder, e eu, que quero acabar com a ameaça que eles representam para a humanidade, sou um alvo em potencial. Não foi por acaso que minha família viajou quase duzentos quilômetros para me internar aqui. Ignore o prontuário, doutora! O doutor Mark registrou muitos dados falsos ali, justamente para enganar um eventual leitor ao qual eu viesse a contar essa história.
- Você vê que eu não tenho como acreditar em sua história, Adrian. Quer dizer, eu não sei como você sabe que eu tenha alucinado com meu falecido marido, tampouco como você sabe sobre o fusível, mas ainda assim isso não prova nada sobre suas afirmações.
- Seu marido era um deles, doutora. Ele não foi trocar o fusível, ele foi vigiá-la de perto até que a hora de sacrificá-la para seus mestres chegasse.
- Adrian, você está passando dos limites!
- Quer provas da verdade do que eu falo? Peça para o doutor Mark para que a senhora se torne responsável pela indicação e aplicação da minha medicação. Em duas semanas não estarei alucinando mais, e aí poderemos conversar fora deste hospital sobre esse assunto.
- Vou dar essa chance para você, Adrian, mas saiba que se você estiver mentindo não terei dó em mandá-lo para o isolamento na solitária.
- Você não vai ter esse trabalho.
Adrian se levantou e saiu, e pude perceber que ele parecia muito aliviado de ter ido falar comigo sobre aquilo. Entrei em contato com o doutor Mark e pedi a responsabilidade sobre o caso de Adrian, mas surpreendentemente o doutor Mark disse que o caso era dele e de ninguém mais – surpreendentemente porque o doutor em questão é a encarnação do estereótipo do funcionário público que agradece quando o livram do trabalho. Apelei à direção do hospital, que prontamente transferiu o caso para mim. Assim que peguei o prontuário, vi que o doutor Mark estava administrando alucinógenos pesados em Adrian, e confesso que isso me deixou próxima a acreditar na história dele. Suspendi as medicações e em menos de duas semanas pude diagnosticá-lo como pessoa normal e saudável.
No dia em que recebeu alta Adrian veio me visitar. Vestia um terno branco, camisa lilás e chapéu de feltro branco, e trazia umas duas rosas na mão.
- Isso é para a senhora, doutora, disse ele colocando as rosas sobre a mesa.
- Não precisa disso, Adrian. Você precisa me contar sobre aquilo que você falou há duas semanas.
- Agora acredita?
- Não, mas também não desacredito mais.
- Um começo. Não tenho casa aqui, e sei que seu filho mora muito longe e não dá a mínima para a senhora. Eu sei que isso é pedir muito, mas a senhora poderia me hospedar em sua casa por uns dias, até eu achar um lugar para morar?
Sinceramente, eu não tinha como dizer não. Adrian me conhecia melhor do que o seu padrasto, com quem dormi por quase vinte anos. Além disso, seria por apenas alguns dias.
- Espere o fim de meu plantão, Adrian. Quando eu sair iremos para minha casa.
Não aconteceu nada de importante durante esse meu plantão, de modo que Adrian e eu pudermos ir para minha casa no horário. Adrian permaneceu mudo durante todo o trajeto, revirando algumas anotações muito estranhas e murmurando algo incompreensível para mim. Ao chegarmos em casa, pude perceber que ele estava muito suado e levemente tenso. Ofereci água e comida, e ele recusou a ambos. Então nos sentamos na mesa da sala de estar. Ele espalhou seus papéis sobre a mesa, e agora, dispostos dessa forma, pude perceber que as estranhas anotações eram o esquemático de algum dispositivo desconhecido para mim.
- Lembra daquelas dimensões sobre as quais conversamos, doutora?
- Sim, Adrian.
- Esta máquina vai permitir que entremos em contato com elas, de modo a combater o mal diretamente em sua origem.
- Escute, Adrian. Você disse que me explicaria mais sobre aquelas coisas de dimensões, realidades paralelas. Eu acreditei em você e consegui que você saísse do hospital, então eu acredito que talvez seja a hora de você começar a falar.
- A senhora tem razão. Anos antes de ser internado, achei um livro de minha mãe escondido debaixo de uma tábua no piso da sala. Era um livro com figuras estranhas, descrevendo uma sociedade de seres alienígenas, sua psicologia, sua história e suas capacidades sobre-humanas. Li que esta realidade é apenas uma entre muitas outras que convivem no mesmo espaço-tempo sem no entanto se sobreporem ou se comunicarem naturalmente. No entanto, esses seres são capazes de viajar entre as dimensões, e seus poderes naturais faz com que se tornem deuses para os seres nativos – Adrian fez uma pausa e olhou para o lado, como se procurasse algo.
- Aqui nesta realidade foi diferente, continuou Adrian. Não havia vida nativa inteligente o bastante para ser útil a esses seres supremos. Então eles criaram a humanidade a partir do refugo de muitas outras experiências deles nas outras dimensões, concederam a ela a inteligência e depois se revelaram como deuses.
- Mas isso nega completamente a história que conhecemos, tanto a história científica quanto a religiosa!
- Sim. O deuses gregos, egípcios, babilônico, astecas e até mesmo o deus cristão são na verdade membros dessa espécie de supra-seres. Eles vieram para cá, criaram a humanidade e depois exigiram culto. Veja que nas religiões pré-judaísmo os deuses são cruéis e caprichosos, enquanto o deus descrito no Antigo Testamento é cruel, vingativo e mesquinho. Apenas Jesus Cristo, dentre todas as grandes divindades, falou de amor.
- Você vai querer dizer que Jesus é membro dessa raça de seres superiores a nós?
- Não. Existem muitas outras dimensões, e em nem todas essa raça se fez presente. Em uma delas existem seres igualmente superiores a nós, mas pacíficos e sinceramente interessados em levar seu conhecimento, paz e sabedoria para todas as dimensões. Jesus e João Evangelista eram desse povo. Infelizmente os seguidores de Jesus foram absorvidos pelo mar de crueldade destilado por esses seres supremos, e o resultado está aos olhos de todos.
- No entanto, existem homens que conhecem esses seres supremos mais diretamente, por assim dizer, doutora. Eles não cultuam deus algum, pois os deuses são máscaras criadas pelos seres supremos para facilitar a adoração humana, mas eles cultuam os próprios seres em sua crueldade, maldade e horror. Nossa realidade está sendo lentamente absorvida pela dimensão da qual esses seres supremos são nativos, e esses tolos acreditam que cultuando-os podem garantir lugares de destaque quando o inevitável acontecer.
- Adrian, se isso é verdade, não há como deter isso
- Sim, doutora. Precisamos destruir os seres supremos. São eles que controlam, por meio de seus poderes, o processo de absorção. Para isso desenvolvi esta máquina, que nos permitirá não apenas entrar na dimensão deles como também destruí-los.
- Tudo bem, Adrian. Mas se isso for verdade, como você pode me provar isso?
Adrian procurou algo dentro das suas coisas até achar algo que me pareceu uma lupa feita com um cristal vermelho sangue e presa a uma armação cheia de botões, luzes e alguns componentes eletrônicos visíveis. Ele me estendeu a lupa e disse:
- Olhe pela janela.
Fiz o que Adrian mandou, mas por Deus, como eu gostaria de não ter feito isso! Ao invés dos prédios vizinhos e casas e árvores que podíamos ver, vi um mundo escuro, com construções negras das quais gotejavam um fluido verde viscoso. Deixei a lupa cair, amendrontada.
- Entendeu o que eu disse, doutora? Agora você acredita?
Não havia mais como dizer não.
- Vamos montar sua máquina, Adrian.
Eu estava com férias vencidas, então decidi pedi-las para poder me dedicar totalmente ao projeto. Passamos duas semanas construindo o dispositivo, que caberia facilmente sobre um relógio de pulso. Construímos dois dispositivos e elaboramos um plano de ação. No entanto não os testamos, pois não queríamos chamar atenção sobre nosso projeto.
Em uma certa noite, porém, fui acordada por uma grande luminosidade e um barulho muito forte. Corri para a sala e vi o Adrian envolvido por aquele fluido viscoso verde que eu vi pela lupa. Aparentemente ele tentou ativar o dispositivo, e provavelmente estava tendo sucesso. Ele sorria muito, como uma criança que realmente aprendeu a usar o brinquedo novo. Aquele fluido se espalhava pela sala, e um grande tremor derrubava os livros da estante e tirava os móveis do lugar. Um barulho ensurdecedor tornava impossível ouvir qualquer coisa sendo dita pelo Adrian, mas certamente ele estava falando comigo. Parecia muito preocupado com algo.
Foi quando eu entendi o desespero do Adrian. O fluido verde começou a se solidificar e tomar forma. Uma criatura alta, de pele negra e textura aparentemente emborrachada, saída de algum pesadelo lovecraftiano, saía daquele fluido e agarrava Adrian. Meu apartamento começou a tremer violentamente, aparelhos eletrônicos começaram a queimar e explodir. De repente o fluido verde tomou toda a sala, tudo ficou quieto, morno e opressivo. Não conseguia respirar, sentir meu corpo. Nada fazia sentido, parecia ter sido jogada no nada primordial que antecedeu toda a existência.
Então tudo parou. Existia uma pilha de cinzas no lugar onde estava o Adrian, e os dois dispositivos sumiram. Meu peito ardia como se tivesse sido marcado à brasa. Procurei um espelho, e para o meu desespero vi escrito “não procure” marcado no meu seio esquerdo. Até hoje tenho essa cicatriz, e nenhuma tentativa de cirurgia plástica consegue removê-la – ela simplesmente volta depois de uns dias.
Após esse dia pedi exoneração do hospital em que trabalhava. Aleguei necessidade de tratamento, e desde então eu tento conviver com isso. Mas a cada vez que olho para as sombras vejo o Adrian, vejo essas criaturas, vejo aqueles prédios. E no escuro e nos meus sonhos vejo aquele fluido verde, como se eu estivesse sendo vigiada. Meu filho, eu não sei o que fazer. Se você me ama, por favor venha morar com sua mãe. Tenho medo até de dormir. Tomo muitos remédios, mas não sei mais o que é verdade, o que é realidade.
Com amor, sua mãe.

Carta Aberta de um Brasileiro em Apoio ao General Santa Rosa

Caro leitor

Acredito que você não me conheça pessoalmente e esteja se questionando sobre como esta carta foi chegar em sua caixa de entrada, portanto apresento-me antes de começar. Meu nome é Luís Fernando Carvalho Cavalheiro, 24 anos, cidadão brasileiro e professor de Filosofia formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É na qualidade de cidadão brasileiro que eu tomo a liberdade de me dirigir a você, caro leitor, para desabafar.
Eu há muito tempo jurei não falar ou escrever mais sobre política a não ser por exigência da profissão. Em minha adolescência tive meus ideais e participei de movimentos políticos, mas a decepção inerente ao amadurecimento conduziu-me a um exílio auto-imposto durante o qual tratei de cuidar de minha vida. Decidi escrever poesia ruim, literatura de má qualidade e outras coisas cuja função nada mais era que distrair minha cabeça do rumo político que nosso País vem tomando nos últimos dez anos. Ao leitor atento da História é possível perceber os muitos abusos aos quais nosso povo foi submetido, mas nunca se percebeu o requinte de crueldade e a sutileza verificada nos últimos tempos. Aguentei mudo muito mais que Atlas suporta em seus ombros de acordo com o poeta Homero, tudo em nome do meu bem-estar e, por que não dizer, aquela "consciência" covarde, passiva e inativa de que, para citar Aristóteles em sua Etica, "uma andorinha só não faz verão". Argumentos como "o povo tem o que merece" serviam para silenciar-me e cuidar de outras coisas, ou pelo menos me justificavam a minha inação.
Mas não posso mais suportar ver um governo democraticamente eleito manobrar a lei para instaurar um totalitarismo da pior espécie. O caso do general Santa Rosa (leia em http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1485711-5601,00-GENERAL+QUE+CRITICOU+PROGRAMA+DE+DIREITOS+HUMANOS+E+EXONERADO.html e http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/10/brasil,i=172690/GENERAL+DO+EXERCITO+E+EXONERADO+POR+CRITICAR+PROGRAMA+DE+DIREITOS+HUMANOS.shtml, só pra citar duas fontes) foi, para mim, a culminância de uma profunda indignação que se acumula desde que nós vimos um popular assumir o governo e limitar-se ao populismo e ao paternalismo getulista barato. Para os que não sabem, o general Santa Rosa foi exonerado da chefia do Departamento Geral de Pessoal do Exército Brasileiro por uma nota atribuída a ele (ver a nota no Anexo I a esta carta). Pesquisei a internet e não achei nenhum site que explicitamente fosse mantido pelo citado general e que contivesse a tal nota, mas admito que posso não ter procurado o suficiente e portanto não vou me estender sobre a veracidade da atribuição da autoria. Fato é que a exoneração foi feita a pedido do senhor ministro da Defesa, Nelson Jobim (um civil). Decidi ler a tal nota para descobrir o que de fato poderia ser considerado tão ofensivo ao ponto do senhor ministro pedir a exoneração do general.
Sabem o que eu encontrei? O texto de um homem culto apontando fatos históricos e questionando a idoneidade do atual governo para analisar os crimes cometidos pelo regime militar. A argumentação do general Santa Rosa parte de uma análise e de um paralelismo e encadeia logicamente proposições de tal modo a concluir que se os beneficiados da Lei da Anistia integrarem a Comissão da Verdade, esta não atingirá seus objetivos.
Vamos por parte. Não é segredo para o leitor atento da História de nosso País que muitos membros da alta cúpula do Partido dos Trabalhadores participaram de atos no mínimo suspeitos para combater o regime militar. Assaltos a bancos, sequestros e até mesmo atos de terrorismo e guerrilha foram usados pelos inimigos do regime então vigente. A Lei de Anistia, assinada pelo general Figueiredo (se me lembro bem), veio para corrigir algumas injustiças, mas acabou beneficiando também aqueles que lançaram mão da sedição e da violência para conseguir seus objetivos. Acabou-se o período do regime militar em 1984, e desde então a presença desses getulistas doutrinados pela foice e martelo de Moscou tornou-se praticamente um fator comum nos corredores do poder.
Na época eles se colocavam como defensores das liberdades individuais, coisa que supostamente não havia durante os governos militares, mas a prática deles hoje é diferente. Por dizer a verdade um general foi exonerado de seu cargo de chefia. Minorias barulhentas - quase todas coordenadas ou controladas por esses mesmos senhores que trocaram as AK-47 pelas Medidas Provisórias - impõem suas vontades até mesmo sobre o processo democrático, esquecendo que o Estado Brasileiro é um Estado de direito, plural, democrático e proponente da isonomia. A transparência dos atos públicos (outro ponto defendido por esses senhores hoje no poder) permaneceu no campo do discurso. Leis e medidas provisórias aprovadas na surdina implantam um chavismo declarado na administração pública, e quando um cidadão se insurge contra isso essa curriola lança a máquina pública (já devidamente controlada) sobre o pobre e indefeso coitado. Todos sabem como os principais cargos da administração pública são distribuídos entre os membros da camarilha ignorando o critério da competência mas o critério da participação nas lutas contra o regime - de outro modo, como alguns ministros chegaram às cadeiras que ocupam hoje? O que impede o governo de colocar ex-guerrilheiros, ex-terroristas e ex-criminosos de qualquer espécie, hoje membros das altas cúpulas dos princpais partidos de esquerda no Brasil, para chefiar a Comissão da Verdade?
Não posso me silenciar mais, caro leitor. Esse aviltre, esse achincalho aos direitos mais básicos de um cidadão sob governo democrático não pode ser bovinamente tolerado pelo povo de nosso País. Um homem, cidadão brasileiro, é punido severamente por dizer a verdade! Será que o governo tem medo de quem diz a verdade? Peço ao caro leitor que me diga em que parte da nota supostamente escrita pelo general Santa Rosa encontra-se uma inverdade? Vejo antes um texto arrazoado e muito bem fundamentado demonstrando que é preciso idoneidade para formar a tal Comissão, e que muitos membros do alto escalão do governo não a tem. Manifesto aqui, explicitamente, meu total apoio ao general Santa Rosa neste caso. Vejo-o aqui como um homem injustiçado, pois disse a verdade e foi duramente punido. Seu exemplo inspirou-me a sair de meu auto-imposto silêncio sobre política, e imploro ao caro leitor que também se mire nele, um homem que foi punido por dizer a verdade, por querer o melhor para o nosso País.
Ao caro leitor que acompanhou meu desabafo, peço muito obrigado por ter lido esta carta e peço também desculpas pelo tempo que lhe tomei. Sei que posso fazer pouco e que este texto não terá a amplitude que eu gostaria, mas autorizo ao caro leitor retransmiti-lo. Este é o pequeno esforço de um brasileiro para construir o País em que ele deseja sinceramente viver.

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2010
Luís Fernando Carvalho Cavalheiro

Anexo I

Comissão da calúnia.
A COMISSÃO DA “VERDADE”?

A verdade é o apanágio do pensamento, o ideal da filosofia, a base fundamental da ciência. Absoluta, transcende opiniões e consensos, e não admite incertezas.
A busca do conhecimento verdadeiro é o objetivo do método científico. No memorável “Discurso sobre o Método”, René Descartes, pai do racionalismo francês, alertou sobre as ameaças à isenção dos julgamentos, ao afirmar que “a precipitação e a prevenção são os maiores inimigos da verdade”.
A opinião ideológica é antes de tudo dogmática, por vício de origem. Por isso, as mentes ideológicas tendem naturalmente ao fanatismo. Estudando o assunto, o filósofo Friedrich Nietszche concluiu que “as opiniões são mais perigosas para a verdade do que as mentiras”.
Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa.
A História da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar trinta mil vítimas por ano no reino da Espanha.
A “Comissão da Verdade” de que trata o Decreto de 13 de janeiro de 2010, certamente, será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder.
Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou.
Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma “Comissão da Calúnia”.
General do Exército Maynard Marques de Santa Rosa"

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Testando

Gente, após muito tempo estou tentando voltar à ativa com o Tarja Preta. Este teste é só pra verificar se as configurações que eu testei funcionaram.
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