Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Tarja Preta agora tem contador de acessos!

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste pequeno manicômio chamado vida real, agora eu posso saber quantos são os senhores: eu adicionei um contador de acessos ao nosso querido serviço de desinformação virtual. Qualquer coisa, só vou precisar colocar o AdSenses e fazer dinheiro com isto.
Abraços e me ajudem a fazer $$$!!!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Alguns versos humildes de Dirceu para Marília

Para as flores, os mais doces cuidados
Para meu anjo, os mais belos afetos
Celebrando a certeza de um novo tempo
Cantando a alegria de um novo alento

Eis a canção de Dirceu para Marília...

Para as musas, os versos do poeta
Para minha deusa, a admiraçao sincera
Louvando em versos o sentir sem fim
Orando pela graça que chegou enfim

Eis a oração de Dirceu para Marília...

Para as fadas, os devaneios no real
Para Marília, o deleite no surreal
Gozando em cantos a alegria em ser
Compondo sem prantos versos de viver

Eis o compor de Dirceu para Marília
Querer estar junto ao teu puro seio
Clamando em versos de mel todo dia
Essa felicidade que por ti me veio

Dos "direitos" dos criminosos: uma breve discussão sobre quais os direitos de um ofensor do contrato social

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste condomínio de insanidade virtual, eis o momento para um assunto sério. De acordo com uma teoria amplamente aceita no meio acadêmico e considerada como pilar fundamental da Teoria do Direito, a sociedade e o Estado só são possíveis porque os homens, por meio de um acordo mútuo, abrem mão de partes de sua liberdade em troca da segurança e proteção ao conferir poder ao Estado. O contratualismo social, que é o nome dado a essa teoria, diz que por meio desse acordo as pessoas aceitam certas restrições (como, por exemplo, obedecer às leis que impedem que certas ações sejam tomadas) em troca de direitos garantidos por meio do poder do Estado. Então a relação entre cidadãos e Estado pode ser resumida a um contrato em que ambas as partes devem cumprir o acordado para se beneficiarem mutuamente: o cidadão com proteção, segurança e outros direitos; e o Estado com poder, recursos e outras riquezas. Assim, se qualquer uma das partes do contrato desobedecer a alguma das cláusulas a outra fica imediatamente desobrigada de seus deveres para com a parte ofensora do contrato.
Isso posto, a questão que quero levantar aqui é se o criminoso pode possuir algum direito. Vamos caracterizar antes o que vem a ser criminoso: criminoso é aquele que comete um crime, segundo a maioria dos dicionários. E crime é uma infração contra alguma lei estabelecida, de acordo com as mesmas fontes. Quem faz as leis é o Estado, por meio dos representantes do povo eleitos para esse (e outros) fim. De acordo com o contratualismo social, obedecer às leis do Estado é uma das cláusulas do contrato entre cidadãos e Estado. Então podemos caracterizar criminoso como sendo aquele que desobedece a pelo menos uma das cláusulas do contrato social. Se o criminoso é um ofensor do contrato, então a outra parte, isto é, o Estado fica desobrigado de sua parte do acordo, isto é, garantir-lhe direitos. Portanto pelo contratualismo social o criminoso não tem direito a nenhum direito legalmente estabelecido. Considerando que os direitos humanos são normalmente incorporados à qualquer constituição que se preze, então um criminoso não tem direito sequer a direitos humanos. E mesmo que os direitos humanos não fossem incorporados à constituição, cabe ao Estado assegurá-los - mas como o criminoso é um descumpridor do contrato social, então o Estado não deve assegurar direitos humanos a esse perjuro.
Se os criminosos não têm direito sequer a direitos humanos, então cabe aqui a pergunta: por que um cidadão de bem sujeita-se a degradantes condições de trabalho, saúde, educação, segurança e moradia em troca de um salário mínimo e um presidiário custa pelo menos dois salários mínimos aos cofres públicos? Cabe aqui ainda mais uma pergunta: por que a morte de um criminoso suscita revolta por parte dos grupos de defesa dos direitos humanos e a morte de um trabalhador honesto sequer rende uma nota oficial lamentando a morte? Cabe aqui outra pergunta: por que assistentes sociais defendem os direitos dos criminosos mas ninguém defende os direitos de uma pessoa honesta assaltada, estuprada ou morta por esses mesmos criminosos que os assistentes sociais defendem? Cabe ainda aqui mais uma questão: por que gastar dois salários mínimos com um preso e não melhorar as condições dos hospitais e escolas públicas que atenderão ao cidadão honesto e trabalhador? Cabe à sociedade e ao Estado defender quem: o criminoso, um ofensor do contrato social e portanto um perjuro, ou o cidadão de bem?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sobre Mulheres e Homens

Não é qualquer um que nasceu pra ser
Um ser divino como as mulheres nasceram:
De adoradores e servos dedicados e fiéis
Elas, como as deusas que são, precisam

Não falo aqui de senhores de escravos
Como a maioria dos homens as quer ter
Fomos feitos iguais pelas mãos de Deus
E iguais a elas os homens devem ser

Esquecido deve ser o velho discurso
Que tanto santifica e exalta o homem
E reduz a mulher a um mero item de uso

Graças e louvores sejam dados sempre
À nova era e aos ventos que dela surgem
Com a igualdade para que o Homem se lembre

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Pensamentos sobre o Cinturão de Órion - com colaboração da Light

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste irreal botequim pé-sujo totalmente fora do consenso que pelos mortais comuns e ignorantes é chamado de realidade objetiva. Por esses dias faltou luz aqui em casa e nas vizinhanças lá pelas altas horas da noite. A maior parte das pessoas (isto é, todas aquelas que um psícólogo encaixaria na categora "pessoa normal e comum") acha isso um incômodo, liga pra concessionária de energia elétrica local (no meu caso a Light) e fica conversando com seus vizinhos, que, em sua maioria, puxam uma cadeira para a calçada e ficam esperando a iluminação voltar. Mas este ser insano que trabalha como cicerone de suas próprias loucuras prefere fazer coisa melhor, e por isso aproveita o céu claro e sem nuvens e iluminação artificial para observar as estrelas.
Logo de cara o Cinturão de Órion, popularmente conhecido com as Três Marias, ganha destaque aos meus olhos. Órion é uma constelação visível de todo o Rio de Janeiro, e tanto que eu observo os céus já sei determinar a posição relativa da minha casa com uma simples olhadela a esse notório ente celeste. Mas nesse dia tinha alguma coisa me chamando atenção para essas estrelas, e portanto eu decidi tentar decifrar esse enigma que me veio aos olhos (literalmente). Como vocês devem ter percebido, este ser insano aqui não tem uma noção "padrão" do que vem a ser passatempo - tanto que, antes de admirar Órion eu tentei escrever (desisti porque não tinha vela em casa no dia) e fazer crochê (desisti pelo mesmo motivo). Enfim, enconsto-me na parede deliciando-me com a fresca noturna e com o quebra-cabeça que eu me pus nas mãos.
A primeira coisa que eu notei é que o homem urbano, via de regra, não tem o hábito de olhar para os céus, e por isso mesmo não entende o que pessoas como eu vêem nas estrelas. Já disse Raul, "as estrelas, elas brilham como eu", em uma música sua que eu não lembro o título. Eu percebi isso porque as pessoas estranhavam quando reparavam que tinha alguém olhando pro céu (se bem que no meu caso as pessoas estranham quase tudo o que eu faço...), provavelmente se perguntando o que este maluco que vos escreve tinha perdido entre as estrelas. Bem, Mestre Pitágoras diria facilmente que o que perdi (eu ou qualquer pessoa) entre as estrelas tinha sido nada mais, nada menos do que a Paz Profunda e Eterna e por isso anseamos em voltar pra lá, a Pátria Celeste. Como comentário, acrescento que essa é a origem da idéia cristã de um paraíso no céu.
Mas as estrelas têm algo mágico que só é percebido por quem realmente as admira. Quando você começa a olhar uma estrela sem nenhum interesse que não seja olhar para estrela, ver como ela é bonita, você começa a fazer uma viagem para dentro de si mesmo, e por causa disso é difícil você desviar sua atenção de uma estrela que se está admirando. Fui fazendo esse mergulho que Órion mais de uma vez me convidou e que eu sempre atendo, mas desta vez com um motivo especial. Existe uma pessoa que está sendo um motivo de muita felicidade e alegria para mim (e que com certeza lerá este trecho e saberá que é ela - a propósito, eu já disse que gosto de você hoje?), e que está me fazendo sonhar com coisas mais alegres e interessantes que os pesadelos usuais que se convencionou chamar vida. Pequena digressão: falem o que quiser, mas quando se gosta de uma outra pessoa o mundo fica mais colorido, mais mágico e tudo fica mais fácil e mais bonito, e aí se entende por que vale a pena viver. Qualquer um que tenha gostado de uma outra pessoa sabe disso, não é segredo pra ninguém.
Pois bem, fiz esse mergulho para dentro de mim e encontrei muitas coisas legais ali. Normalmente eu evitava esse tipo de coisa porque o que eu via não era muito legal. Sempre tive pouca esperança nas coisas boas do mundo, por mais que eu vendesse um outro peixe, e quando eu mergulhava nessa introspecção eu acabava vendo essas coisas todas e ficava desanimado. Sei que é normal se decepcionar com a vida, mas se eu ficasse contemplando essas decepções eu iria dar um tiro na cabeça, ou coisa assim, tal é a carga deprê. Ou melhor, era. Como eu disse, quando se gosta de uma pessoa tudo fica mais bonito, mais colorido (pessoas debochadas e céticas diriam mais gay, e eu concordo com elas se traduzirmos a palavra gay para português: alegre), e isso se reflete na forma que você vê o mundo e no que você espera dele. Comecei a pensar em coisas que eu normalmente não penso, temas ditos mais sérios mas que pra mim não significam normalmente muita coisa: futuro, medo da solidão, importância do planejamento a longo prazo... e o engraçado, e isso é uma das coisas legais de se estar gostando de alguém, é que você invariavelmente inclui essa pessoa em todas as coisas felizes que você vê durante essa introspecção. Racionalmente sabemos que isso acontece porque gostamos da pessoa, estamos sendo felizes com ela e por isso associamos a imagem dela aos momentos de felicidade - mas é aí que eu digo que se foda a racionalidade, eu quero aproveitar a magia desse momento, porra!!! Ficar divagando sempre foi o meu esporte preferido, mas eu ficar divagando em coisas boas é raro. Não vou dizer o que pensei aqui porque é muito pessoal e não sei se a pessoa que eu imaginei junto de mim gostaria desse nível de exposição (tadinha, ela é tímida - nada que com o tempo eu não dê um jeito...), mas pra ela saber o que eu andei vendo vou dar uma pista: foi aquilo que estávamos conversando quando eu saí com aquela piada totalmente sem graça.
Depois de um tempo divagando eu me vi ali, como um simples "escrivinhador" de emoções com muitas idéias na cabeça. Sempre que eu volto de uma introspecção dessas eu fico um tempo pra organizar as idéias e depois eu sento meu traseiro gordo em uma cadeira e ponho tudo no papel (ou no computador, o que for melhor). Agradeço a Órion por ter estado ali nesse dia e a essa pessoa muito maravilhosa por estar comigo. Não agradeço à Light porque ela falhou com o cumprimento de seu trabalho e por isso não merece nem um tapinha nas costas - mas não merece esporro porque acabou vindo pro bem essa falha.

Tudo bem, eu estou ficando meio bobo, mas eu estou gostando de alguém e por isso eu tenho esse direito, ok? Quem estiver incomodado que encontre uma pessoa pra gostar.

Beija-Flor Dirceu

Bato minhas asas pequenas de mansinho
Permitam que eu me apresente: sou Dirceu
Um gracioso beija-flor cantor sem ninho
Procurando nas árvores um galho pra ser meu
Voando entre as flores da vida com carinho
Seguindo em frente com a sina que Deus me deu
E asim vou vivendo e cantando bem sozinho
As mágoas d'um coração que amor não viveu

Mas para um cantor sem ninho sou exigente
Pois não quero aninhar-me em qualquer canto
Eis que para ser sincero comigo e toda gente
Digo saber o que quero na busca por meu recanto
Nesse ponto dos outros pássaros nada sou diferente
Busco minha Marília, fonte do meu acalanto
E que longe dela resta-me apenas o pranto

De minha Marília muitas coisas eu posso falar
Guiado como sou pela voz doce do seu coração
Mas mesmo assim as palavras falham cantar
Tudo aquilo que a doce Marília me traz à emoção
Com a pureza de seu sentimento a me tocar
Com o gesto nobre de gostar sem obrigação
Deixemos a Paixão por Marília tentar explicar
Pôr em palavras de grandeza o ouro dessa pulsão

Sei que minha viagem é longa e dura
Mas valerá a pena com toda a certeza
Pois para meus males só Marília é cura
Promessa de um novo verão sem tristeza
Com novas canções sem nenhuma lamúria
Compostas no mel bebido com presteza
Colhido por mim em gestos com destreza

Assim que eu chegar eu me aninharei
E junto a minha doce Marília deitarei
Cantaremos juntos versos que escreverei
Com os sonhos dela o futuro sonharei
E cada noite ao seu lado eu dormirei
E doces sonhos que de manhã lembrarei
Acordando junto a ti assim estarei
Enfim a vida que quero com ela terei

sábado, 12 de janeiro de 2008

Versos Artesãos


A imagem fala por si só... não é um belo poema-bolero?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Andrômeda acorrentada

Espera por teu Perseu aí presa na rocha
Presa como foi pelos medos do teu âmago
Ataste a ti com tuas correntes de prata
Como oferenda aos monstros e ao teu ego

Ali, olha prum povo que te jogou ao mar
Vê neles o desejo por teus lábios de mel
E as vergonhas por te desejarem ao longe
Mesmo sabendo que teu destino é o fel!

Até as crianças debocham e te ofendem
Com cacos de conchas ameaçam despedaçar
Tanta beleza pelos deuses reunida aí
Nesse corpo que Poseidon vai se apossar

As mulheres te matam por inveja, anjo
Pois sabem que contra ti não disputam
Por não terem como vencer a tua beleza
E por isso teu sacrífício elas apóiam

Reza por teu Perseu, oh doce Andrômeda
Pois tu não merecias semelhante destino
Mas... quem é aquele heroi ali na praia
Com aquele belo rosto e nariz aquilino?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Digo isso mais uma vez...

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste pedacinho virtual de sanidade louca, eis uma questão que há tempos eu defendo: o capitalismo, como está, vai acabar destruindo a humanidade. Não por uma maldade intrínseca, até mesmo porque é um sistema que em teoria valoriza o esforço das pessoas e historicamente ele recompensou o esforço das pessoas durante sua primeira fase, mas pela própria evolução da coisa: hoje temos, em virtude do desejo de alguns de se apropriarem das riquezas que não foram geradas por ele mas por uma massa de trabalhadores seus assalariados, uma impessoalização das relações humanas. O homem é cada vez mais reduzido à condição de ferramenta viva de trabalho, e isso é preocupante aos meus olhos: essa é a definição que o Filósofo dá para "escravo". Ao mesmo tempo o homem vai se tornando uma ferramenta obsoleta aos olhos do próprio sistema, com o desenvolvimento tecnológico que nós temos. Pense, à guisa de exemplo, quantos funcionários do correio estão sendo subsituídos por um computador enquanto trocamos estas idéias. O capitalismo, que historicamente veio para o bem do homem (na medida que o libertava de vínculos feudais e fazia o reconhecimento do mérito) será a causa de sua ruína se continuar nesse ritmo. O capitalismo hoje não premia mais o esforço, não é mais uma meritocracia, mas sim premia a capacidade que o homem tem de explorar o homem. Você não precisa mais ser o melhor para ser rico, basta ter um pouco a mais de sorte do que seus concorrentes. Veja bem: entre os pobres existem muitas pessoas talentosas e que mereceriam uma recompensa baseada no nível de seus esforços, mas a Academia (vou tomá-la por exemplo por ser uma realidade mais próxima à nós) quis extinguir o curso noturno de Filosofia da UERJ - o mesmo em que leciona um gênio do nível do Luiz Carlos. E esse aviltamento da condição humana que estamos sofrendo não atinge apenas as camadas baixas da sociedade, pois basta olhar o quão neandertal está o comportamento dos filhos das elites, cuja diversão se resume, hoje, a tomar drogas, freqüentar boites e espancar prostitutas e travestis. É um mal estar geral da sociedade, porque o capitalismo já provou que é incapaz, atualmente, de recompensar o esforço das pessoas. Eu, de certa forma, compreendo a mente dessa juventude: se eu não preciso me esforçar como meu pai precisou, vou curtir a vida adoidado!
Neste contexto é até melhor que as pessoas sejam desestimuladas à pensar. Imagine como os terapeutas (esses funcionários do Estado, que se esforçam para reduzir os homens à mediocricidade do que a sociedade espera deles - o chamado "comportamento normal") faturariam se metade das pessoas do mundo tivessem ciência de sua condição miserável. As pessoas, adormecidas como estão, não sofrem com sua condição deprimente e, assim, conseguem ainda cumprirem suas funções na sociedade (como as rodas dentadas destituídas de identidade que são) e conseguem mesmo serem felizes. A ignorância é força, como propôs George Orwell naquele livro de Filosofia Social chamado 1984: "a ignorância é força, pois a consciência traz consigo a consciência da mediocricidade da condição humana, e com isso o sofrimento". Você pode perceber (uma simples pesquisa empírica) que quanto mais alienado for o cidadão, via de regra mais feliz ele consegue (isto é, tem o potencial para) ser. O adormecido típico consegue ficar feliz com praia, cerveja gelada e futebol aos finais de semana - mas será que isso alimenta o espírito desperto? É nesse sentido que eu chamo os terapeutas de funcionários do Estado, pois eles corrigem os problemas psíquicos das peças do sistema, mas prontamente qualifica-se como loucos aqueles que tem o potencial para mudá-la. Nós, estudantes sérios de Filosofia, sabemos que nossa felicidade deve ser construída com muito esforço, pois estamos conscientes dessa mediocricidade que é ser homem nos nossos dias e, como Nietzsche propôs, a felicidade só vai ser encontrada na superação do ser homem, na (agora são minhas palavras) transformação do homem em ser humano. Não sei se você reparou, mas raramente eu uso a expressão "ser humano", e isso é proposital: ser homem é fácil (basta ser um exemplar da espécie Homo sapiens sapiens), mas ser humano é muito mais difícil... a Terra tem mais de seis bilhões de homens, mas nem 1% disso de seres humanos. E é melhor que isso continue assim, haja vista a condição medíocre em que estamos presos neste mundo.
A nossa resistência a este cruel estado de coisas deve se dar agora no plano ideológico e retórico. Não podemos descer ao mesmo nível de barbarismo de nossos oponentes e, de alguma forma, vilipendiar aqueles a quem nos propusermos a ajudar. Nós temos apenas a pena como arma e o pensamento como munição. Andamos ao lado dos poetas e demais artistas, que nos fazem sonhar com um mundo melhor, mais colorido, mas somos nós, os pensadores marginais, a linha de frente da Revolução - que não deve ser uma revolução armada, mas se deve dar nas cadeiras das salas de aula e em outros locais de formação de novos membros da sociedade. E quem quiser mudar o mundo deve ter em mente duas coisas. A primeira é que lutamos não apenas contra uma esmagadora maioria, mas contra um mundo que quer que as coisas continuem como estão. A segunda é que Nosso Senhor veio trazer uma mensagem de paz e amor e acabou numa cruz - qual será o destino de quem pretende mudar revolucionariamente o mundo?
Mas realmente há a contrapartida do meu argumento: a maioria dos pobres querem continuar na pobreza. Por mais paradoxal que pareça, o Caminho está aí, aos olhos de todos, esperando quem quiser trilhá-lo. Hoje, mais do que em qualquer época, existem bibliotecas públicas (que o Estado faz questão de legar ao oblívio do mofo), museus de qualidade (quer dizer, de qualidade até sabe-se lá quando) e outros instrumentos que permitem ao homem tornar-se um ser humano. É claro que não se trata apenas de erudição, pois como disse Heráclito ao criticar Pitágoras (quer dizer, é isso que a minha memória me diz), "muito conhecimento não ensina sabedoria a ninguém", mas o conhecimento é necessário. Ele dá as ferramentas que o homem precisa para operar essa transvaloração que o Nietzsche implora que realizemos em nosso ser. Mas a mudança de atitude é algo mais do que necessário, pois nosso vir-a-ser é planejado no agora, e com certeza é algo além de simples ilustração. Um certo doutor lá da UERJ, que o Homero chamou outrora de Seuqram e assim eu o chamarei por questões particulares, é um ótimo exemplo de que apenas iluminação (no sentido do Iluminismo) não adianta para nada. E os pobres de hoje, em sua maioria, nem a iluminação querem - quanto mais proporem-se a uma mudança de comportamento. Penso que isso seja efeito colateral do "não-pensar" que impera na mente das pessoas de hoje (coisa distinta da "não-mente" dos personagens de um livro a ser publicado do Homero, posto que o "não-pensar" é o estado da morte do pensamento, da mente, a substituição disso pelo vazio), mas que se trata de um grande desperdício da obra de Nosso Senhor, com certeza é. Caímos no koan: os porcos chafurdam na lama porque querem, porque gostam ou porque não conhecem outra coisa?
Como não é segredo para ninguém, todos que tentaram fazer algo de bom pela sociedade ou apelaram para o marxismo (e criaram Estados monstruosos e inimigos de toda gente - principalmente de seus habitantes) ou não conseguiram nada. Infelizmente, parece que a mudança passa por aquele slogan do esoterismo em geral: a sociedade só vai mudar quando cada um de seus membros mudar em seu íntimo. E o que as pessoas menos querem é mudar. Aquela afirmativa do Descartes não deveria rezar apenas sobre o bom senso mas sobre a perfeição, e por isso eu tomo a liberdade de reescrevê-la: "a perfeição é algo tão bem distribuído entre os homens que nenhum deles reclama da parte que recebeu, e se acha o mais bem dotado nessa matéria". Aí entramos em uma situação interessante: a melhoria da sociedade deve ser responsabilidade dessa meia dúzia de quatro (que a sociedade execra, por serem seres pensantes) ou responsabilidade da sociedade como um todo (e acreditarmos em uma utopia maior ainda, isto é, que todos os homens vão se prontificar a mudar para melhor)? Eu não arrisco resposta para essa pergunta. Em primeiro lugar, sou um idealista, não nego, e meus sonhos por um mundo melhor poderiam intervir na resposta. Em segundo lugar, não podemos deslocar uma responsabilidade que deveria ser do Estado para seus cidadãos - agora, que podemos entregar o Estado nas mãos da meia dúzia de quatro, podemos com certeza. Em terceiro lugar, minha resposta poderia realmente ofender algum dos componentes da meia dúzia de quatro que porventura venha a ler este texto.

Feliz Ano Novo (?)

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste espaço microfísico do poder insano da certeza do inexistir na realidade, eis que estamos em um grande novo momento. Quer dizer, de novo ele não tem porra nenhuma, deve estar acontecendo faz pelo menos uns cinco bilhões de anos. Chama-se "ano novo", quando a contagem dos dias de um ano acaba e inicia a contagem dos dias de um outro ano subseqüente ao anterior (bem, pelo menos se espera que seja).
Mas afinal de contas, o que as pessoas vêem no ano novo, senão o início de mais uma contagem da qual todos reclamam e anseiam profundamente pelos mesmos dias: finais de semana, feriados, aniversários... Não tem nada de novo, se pararmos pra pensar, e ao mesmo tempo tem. Na vida do cidadão comum as rotinas não mudam em nada: ele ainda trabalhará para receber seu dinheiro, ainda que mude de emprego; ele descansará nos finais de semana, ainda que o motivo de estar cansado seja diferente; e coisas assim. Mas se mudanças não existissem ainda estaríamos nas cavernas morrendo por causa de uma simples queda de três metros de altura. Que paradoxo, senhores: a vida humana é constante na alternância, e alternante na constância.
Pelo menos eu tenho um motivo pra comemorar o ano novo. Diferente das demais pessoas, loucos como eu saíram faz tempo desse ciclo idiota e ilusório, e agora contemplam a verdadeira vida. Aí sim as coisas mudam, as coisas realmente evoluem e fogem desse paradoxo imbecil ao qual está presa quase toda a humanidade. Para loucos como eu caíram os véus de Maya, Matrix não pode mais me iludir porque escolhi tomar a pílula que (além de impedir gravidez indesejada) me libertou desse mundo esquisito que a maioria das pessoas acredita ser real. E eu comemoro o ano novo porque tenho bons motivos: um por dentro, dois em cima, dois no meio e um embaixo. Simples assim, como uma esfinge a propor um enigma.
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