Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Parando para pensar...

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste humilde não-espaço virtual perdido em uma não-realidade plasmada apenas em nossas mentes, eu estava a fazer uma reflexão sobre meus escritos e meus interesses. Quem lê o Tarja Preta desde o início ou acompanha o grupo de discussões Chá das Cinco sabe que eu escrevo (e portanto me interesso) sobre praticamente qualquer coisa. Uma hora eu estou escrevendo algo mais sério, com fortes pretensões filosóficas e tal - só pra no momento seguinte descontrair tudo mandando um poema, ou um aforisma irônico.
Não se espantem, meus senhores. Eu cheguei à única conclusão possível: eu sou louco...

Ave Maria (em Latim)

Ave Maria, gracia plena, Dominus tecum
benedicta tu in mulieribuset
benedictus frutus ventris tuus, Iesus
Sancta maria Mater Dei
Ora pro nobis pecatoribus
nunc et in hora mortis nostrae.
Amem.

Hino da República Celeste

Sob o signo da Liberdade
Surgiu um novo Estado
Baluarte da Esperança
Neste mundo atribulado

Sob os brados de Igualdade
Anunciou-se a República
Como Inimiga sacramentada
Da tirania impudica

Sob a lei da Fraternidade
Agora todos são irmãos
Um só Povo, um só Destino
Uma só Vontade e Coração

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Conquistado a duras penas
Foi o direito de sonhar
Querer dias bem melhores
Que só se podia imaginar

Quando o povo se fez um
E aos tiranos disse não
Fez do sonho realidade
Seu desejo de união

Pela Paz se fez a Guerra
Lutou Irmão contra Irmão
Mas a Justiça prevalece
Os Povos Livres vencerão!

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Mas a Verdade triunfou
Enfim os Tiranos cairão
Frente ao Sol Fulgurante
Vivo em nosso Brasão

A Verdade traz a Esperança
Possa a Paz enfim reinar
Sob a égide de Nosso Senhor
Possa a nossa estrela brilhar

Junto à Esperança vem a Fé
Em dias melhores que virão
com a República Celeste
A Paz e a Glória reinarão

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Hoje olhamos para o horizonte
Pela República a nós aberto
Tudo é novo e possível
Sem tirano algum por perto

Todos juntos ergueremos
Um Estado excelso de paz
Eis que com Fé e Esperança
De tudo o povo é capaz

Tremei de medo oh tiranos
Pois é Livre agora o Povo
Se tentardes nos dominar
Sereis vencidos por nós de novo

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pai Nosso - em Latim

Pater Noster quio est in ceali,
santificetur nomen tuum
Adveniat regnun tuum
Fiat volunctas tua sicut in celo e in terra
Pane nostrae quotidianum danobis hodie
e dimite debita nostrae
sicut noi debitamus pecatoribus nostrae
e ne nos inducas in tentazionen
Sed liberta nos a malo.
Amem.

Credo em Latim

Credo in Deum Patrem Omnipotentem,
Creatorem caeli et terrae;
Et in Iesum Christum,
Filium Eius Unicum,
Dominum Nostrum,
qui conceptus est de Spiritu Sancto,
natus ex Maria Virgine,
passus sub Pontio Pilato,
crucifixus, mortuus et sepultus,
descendit ad infernos,
tertia die resurrexit a mortuis,
ascendit ad caelos,
sedet ad dexteram Dei Patris Omnipotentis,
Inde Venturus est Iudicare vivos et mortuos;
Credo in Spiritum Sanctum,
Sanctam Ecclesiam Catholicam,
sanctorum communionem,
remissionem peccatorum,
carnis resurrectionem,
et vitam aeternam

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Elegia ao Templo da Colina

Pelo Caminho vão ficando
Muitos Homens e Mulheres
Para a Colina todos iam
Ver os Mestres e Buscadores

Lá no topo havia o Templo
De Pedra e Ouro que reluz
Ali estava o Ensinamento
Que ilumina e bem conduz

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Nunca mais escutaremos
Seu shofar a ressonar
Órfãos somos do Pregador
Ali sentado a Ensinar

E arrasado como foi
O Grande Templo da Colina
Foi-se a Fé e a Esperança
Eis a nossa triste sina

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Em seu Fim se levantou
Um Irmão contra seu Irmão
Uma Guerra, um triste fim
A sangrar meu coração

Não há mais, oh Javé
O Grande Templo da Colina
Não há mais esperança
É o nosso fim e sina

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Em meus sonhos lembrarei
E esperarei o quanto for
Para ouvir o seu shofar
E as palavras do Pregador

E hoje espero na Colina
Pelos os que vêm pelo Caminho
Sou o Templo e seu shofar
Sou Pregador e estou sozinho

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Eis que ouço seu shofar
No topo da Colina a ressoar
Muitos Homens e Mulheres
Estão de novo a se aproximar

Agora cantam os velhos Mestres
No Grande Templo a Ensinar
Agora há Fé e Esperança
O Caminho volto a trilhar

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Sou tocado por teus Querubins

Lá no topo havia o Templo
Destruído por um Irmão
O Grande Templo da Colina
Trasladou-se ao meu coração

Agora posso me alegrar
Ouço o canto e seu shofar
As pessoas estão chegando
O Pregador volta a Ensinar

Oh Templo de puro Bronze

De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Sou tocado por teus Querubins

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ateísmo e Espiritualismo - uma Relação Possível?

Vocês podem achar meio estranho o que eu vou falar aqui, mas o ateísmo e o espiritualismo não são mutuamente excludentes, isto é, nada impede um ateu de ser espiritualista. O ateu é aquele que não crê em deus, mas isso não fala nada acerca de outras coisas. Assim sendo, no ipso litteris, um budista (seguidor de uma religião espiritualista) é ateu, já que não há deuses em sua fé.
Filosoficamente falando, é fácil construir uma doutrina espiritualista que não cite deus em nenhum momento. Por exemplo, se definirmos espírito como o somatório entre consciência (capacidade de perceber o mundo) e inteligência (capacidade de lidar com as percepções que se tem do mundo) - como a Filosofia costuma fazer -, chegamos a um embrião de doutrina reencarnacionista. Não precisamos do corpo para perceber o mundo nem para lidar com essas percepções, visto que mesmo sonhando estamos sujeitos às impressões sensoriais. Se o espirito não depende do corpo para existir, ele pode existir sem um. Se o corpo e o espirito são de natureza distinta, nada impede que um espírito se acople a um corpo (o contrário é impossível, pois o corpo é apenas matéria inerte e sem vontade).
Esse protótipo de teoria reencarnacionista é só um dos exemplos de que ateísmo e espiritualismo não são mutuamente excludentes. Seria uma atitude tacanha negar a existência de um espiritualismo, já que filosoficamente ele é viável: até o primeiro Wittgenstein (1919), em qualquer autor você pode encontrar as bases para uma doutrina espiritualista (e às vezes toda). O ateu que nega o espiritualismo é tão mentecapto quanto o fanático religioso que diz que apenas a sua fé é correta.
O ateísmo também lida com o lado material, tanto quanto qualquer doutrina ou sistema religioso, mas de uma maneira mais imediata, pois é a partir do mundo material que o ateísmo chega a outros niveis. Tipicamente, o ateu, quando filósofo ou cientista, é um empirista lógico, isto é, parte dos fatos do mundo para chegar aos estados de coisas que suas teorias visam representar, sem se permitir a crença ou a fé sem bases.

sábado, 17 de novembro de 2007

Nas areias de Lopes Mendes, sentei e curti o feriado de Finados

Caros amigos e companheiros leitores deste pequeno refúgio de insanidade virtual tão desprovido de visitantes, hoje vamos sentar e contar uns causos. Eu sei que está meio desatualizado, mas só agora eu tive tempo pra sentar e escrever, então... é como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
Tudo começou quando minha irmã pergunta se eu quero ir acampar com alguns amigos dela. Isso foi final de outubro, mês em que, convenientemente, eu estava desfrutando as devidas férias da minha ocupação de vagabundo público. Só que descanso de pobre falido é uma merda, então imaginem os senhores como eu estava de mau humor na hora que ela fez essa proposta. Mas por alguma inspiração divina eu resolvi aceitar o convite, e lá fomos nós comprar tudo o que seria necessário para uma viagem dessas (e se endividar no processo, mas isso faz parte da cultura, da sociedade e da psicologia do brasileiro). Foi no meio das compras que eu fiquei sabendo qual seria o destino: Ilha Grande, na Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro.
"Ótimo", eu pensei. Com certeza eu ficaria bem relaxado e poderia tentar descansar. Não parece muito, mas ser vagabundo público cansa e deixa muito estressado, e eu já estava querendo dar um murro no primeiro idiota que me aparecesse pela frente - o que significa que eu tinha que ficar em casa para não agredir ninguém, pois quando eu estou nesse nível de estresse pra mim qualquer um é um idiota. Então nos preparamos todos e partimos para a ilha.
Lá chegando ficamos em uma área de camping, já que ninguém ali teria culhões para acampar no meio do mato, como se deve fazer. Isso não impediu que conhecêssemos o lugar, é claro, mas cortou ao meio a graça da bagaça. Enfim, chegamos lá na sexta-feira, e já fomos conhecer uma praia lá qualquer - eu não lembro o nome, mas é perto das ruínas de um antigo leprosário aproveitado pelo regime militar como prisão política. O lugar é sinistro, sem contar que atrás dele tem um desses corredores sem fim que ninguém sabe como foi construído, nem pra quê, nem porra nenhuma. É claro que o covarde do seu escritor de bordo não entrou ali: um médium em um lugar obviamente carregado de sofrimentos e outros resíduos psíquicos similares não ia prestar. Depois disso fomos visitar o aqueduto que levava água para esse presídio - carinhosamente chamado pelos amigos da minha irmã de Lapa no Dia Seguinte. As semelhanças são interessantes. Demos mais uma volta naquela parte da ilha, e voltamos para o camping. Nesse dia eu fiquei tão cansado que acabei dormindo por essa hora mesmo, mas a galera foi curtir um forró na praça vila do Abrãao - ainda bem que eu dormi, já que eu não gosto de forró.
Mas foi no dia seguinte que a viagem valeu a pena: fomos para Lopes Mendes. Três horas e meia de trilha (o que por si só já teria feito valer o dia) coroadas por uma praia como não se vê em lugares onde a praga-homem fixou mais firmemente suas moradias. O banco de areia da praia seguia raso por pelo menos duzentos metros, com nível de água (cristalina, é bom que se diga) não superior à cintura de um adulto. Fiquei idêntico a um camarão (nota: eu não fico bronzeado, por mais que eu me esforce. Minha pele fica vermelha e descasca depois, mas mesmo que eu literalmente me queime no sol não fico com um tom de pele diferente do branco fantasma).
Mas na volta é que aconteceu o ó do borogodó da viagem. Estávamos todos mortos de cansaço e ninguém (exceto eu) estava disposto a voltar pela trilha. Mas no tempo em que ficamos na praia fizemos amizade com um dono de barco que aceitou fazer um desconto pra nos levar de volta à Abraão. Vejam o naipe da figura: musculoso, atarracado, queimado de sol, com dois tubarões tatuados pelo corpo e com um cheiro de marola que se sentia de muito, muito longe. Ele é surfista e barqueiro (como o povo em Ilha Grande chama quem faz um serviço de táxi entre as praias), muito gente fina e completamente porra-louca. Durante o caminho de volta ele contou sua história para nós, e é mais ou menos o que se segue.
Samu (ou pelo menos minha irmã jura que o nome dele é esse) era um sargento do exército responsável pela segurança de um desses bunda-moles que levam o nome de oficiais. Isso foi antes do movimento Diretas-Já, para vocês sentirem a responsabilidade do cargo. Um belo dia, ele estava num completo estresse: a noiva dele pressionava pra rolar o casamento, a faculdade estava dando nós na cabeça dele e o oficial iria ser transferido pra Brasília e iria levar o segurança dele junto. O cara ao invés de pirar catou os dois cachorros dele e uma barraca de acampamento e foi pra Ilha Grande. E nunca mais voltou. Isso ele contando ao mesmo tempo que conduzia o barco e fumava um baseado apertado ali por uma lourinha - e que tesão de lourinha! -, namorada do primo dele.
Eu aqui não vou conseguir reproduzir (e por isso nem vou tentar) toda a emoção que sentimos ao ver esse cara contando a história dele - que pode ser falsa, mas que foi tão bem contada que dá vontade de acreditar. Pra mim, ele fez isso tudo. Hoje eu penso que pessoas como Samu é o que falta para nós, homens modernos: pessoas que nos façam acreditar em suas histórias, pessoas que nos façam acreditar em algo. Pessoas que mostrem pra gente que as nossas verdades, as nossas crenças, são tão verdadeiras quanto as histórias de um barqueiro - que podem ser falsas (e todas elas, as nossas e as do barqueiro, são), mas nas quais acreditamos e, por isso, elas são verdadeiras para nós. Como full-time filósofo de plantão, simplesmente adorei ter ouvido a história desse cara. Se ele estiver mentindo, ele compreendeu - melhor que muita gente que se diz culta - que a verdade é só mais uma históra tão bem contada e repetida que as pessoas não se questionam mais quando a ouvem. É questão de paradigma, como eu estou tentado a começar a dizer.
Depois desse momento mais-que-filosófico fomos tomar um banho e passear a noite pela vila do Abraão. Eu estava particularmente cansado nesse dia, mas a história do Samu me fez pensar uma outra coisa que me deu ânimo pra mandar o cansaço pra casa do caralho e ir pra pracinha: seja lá o diabo que for, a vida é uma só e está aí por algum motivo, além de ser objeto da contemplação filosófica. Só que estava rolando duas coisas que nem combinadas nem separadas me agradam: forró e muvuca. "Agora fudeu de vez", eu pensei. "O que eu vou ficar fazendo a noite toda?"
Nisso eu ouvi um rock tocando, baixinho que não dava pra identificar o que era - mas era rock. Foi assim que eu descobri um bar muito legal, que toca música ao vivo e coisa e tal - mas que eu não me lembro qual é o nome, e por isso eu vou chamar do nome que eu, cheio de cerva na mente (ainda que a cerveja custasse R$ 4,00) cunhei na hora: Bar do Fiel. Enquanto todos os amigos da minha irmã ficaram naquele tumulto dos infernos, eu fui o misantropo que eu sou e fiquei sozinho enchendo os cornos de cerveja e curtindo a música - só pra registrar, eu era o único ali com menos de trinta anos.
Enfim, foi uma dura pena quando o domingo chegou e tivemos que ir embora. Mas a viagem valeu a pena, eu ainda vou voltar.

Ilha Grande, I'll be back!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Momento filosofia de botequim

A vida é longa o suficiente para percebemos que ela existe mas curta demais para que possamos definir o que ela é. Então, por que deixá-la passar entre palavras ocas e motivações vãs? Por que gastá-la procurando uma verdade, uma necessidade lógica, uma causa primeira, uma razão? No seio de Deus não há a necessidade de verdades - mas existe tal seio? E se não existir tal seio, de que vale estarmos aqui? De que adianta ser livre como um hamster ou vítima de um cachorro-do-mato se sequer sabemos se aqui estamos ou não? Por que procurar verdades onde elas menos podem existir?
Abram a caixa de fantasias, peguem suas máscaras e vamos brincar de teatro. O nome da peça é "Vida" e nela você pode interpretar o papel que quiser, desde que tenha relação com a máscara que você pegou - mas nada o impede de trocar a máscara se essa não lhe agrada. O importante aqui não é procurar coisas que não existem, mas deliciar-se com a falsidade de toda a encenação. Pegue a máscara de um anjo e durma nos braços do Absoluto - ou pegue os bigodes de um rato e corra pela roda infinita da sua gaiola. Divirtam-se, pois estão livres para fazerem e serem o que quiserem. Proibida está apenas uma coisa: achar que essa brincadeira é algo verdadeiro, achar que o que estamos fazendo é mais do que encenação.
No final das contas, a brincadeira uma hora acaba e você tem que devolver a máscara à caixa. É hora de cuidar do meu jardim.
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