Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

sábado, 31 de março de 2007

Não é que essa tal de máscara de massagem para cabelo funciona?

Por idéia da minha irmã, eu decidi fazer um tratamento de choque em meu cabelo. Ele andava ressecado e sem brilho, amuado que ele só, coitadinho. Também, eu não tenho tempo para cuidar dele como ele merece, graças à vida louca de trabalhador, estudante e "escrivinhador de besteiras" para este blog. O resultado final tem um nome muito conhecido pelas senhoritas de cabelos mais cacheados: palha.
Então eu resolvi arriscar. O estresse já está me deixando careca, então eu não tinha muito a perder. Ela me convenceu a usar um desses produtos novos para o cabelo, uma tal de máscara de chocolate. O creme tem um cheiro de chocolate amargo tão bom que até o cachorro aqui de casa achou que fosse alguma coisa de comer - e só sossegou depois que deram uma gota do creme para ele provar. Até minha irmã provou o creme para saber se ele tinha gosto de chocolate (ou seja, sanidade mental questionável é marca registrada da família).
Então fui eu, arriscando-me a jamais ver o sol nascer novamente com estes olhos dos quais me sirvo para revisar o que digito nesse momento. Ela passou o creme e depois enfiou um saco plástico e uma toalha molhada sobre meu cabelo ("é pra abafar, em dez minutos você tira isso"). Eu me sentei na frente do PC e fui jogar o meu bom e velho Age of Empires III (cópia barata, é claro!), e fiquei nessa durante uns trinta minutos, até arrasar com a colônia inglesa. Claro que ela e eu nos esquecemos que eu só podia ficar com aquilo na cabeça por dez minutos... mas para o diabo com a burocracia!
Quando eu enxagüei o cabelo e sequei, surpresa: estava ele, macio e sedoso como havia anos que eu não via. Não é que o danado do creme de chocolate funcionou?

quinta-feira, 29 de março de 2007

A arte e a sociedade - conspiração ou paranóia?

Pois é, voltei a escrever algumas coisas mais sérias... Só que agora eu estou mais acostumado com o estilo do Tarja Preta e por isso não vou abusar de formalismo na escrita. O que me inspirou dessa vez foi a monografia de uma amiga minha, que trata da chamada arte para consumo pelas massas. Tem um termo específico para isso, mas não me perguntem qual é; o meu negócio na Filosofia não é estética, é Lógica. Mas enfim, o nome da vaca não muda o gosto do leite, e quero discorrer um pouquinho do que ela estava me explicando um dia desses.
Teve um tempo, antes das Guerras Mundiais, que a Arte tinha propósitos muito maiores do que a simples estética: era uma forma do homem transcender sua realidade mortal e atingir um outro plano de existência, no qual pudesse compartilhar com o artista a experiencia do sublime, do divino. Meio afrescalhado isso mas é um fato, pois mesmo o mais insensível dos homens é capaz de sentir alguma coisa quando ouve um Bach ou vê uma tela de Humboldt ou uma escultura de Michellangello. Ele pode não saber explicar, mas é uma sensação sublime, de deixar o animal por alguns tempos e ser plenamente humano. A arte não se propunha outra coisa que não fosse convidar o homem à contemplação e à reflexão, e ela fazia isso muito bem.
Aí vieram as Guerras, e com elas (na verdade, um pouco antes, mas isso não me importa muito) o simbolismo, o surrealismo, o dadaísmo (este é bem velho!), o modernismo e outras escolas que atiraram o estilo neoclássico do século XIX pela janela e despejaram um penico em cima. Simplesmente a arte deixou de simplesmente evocar a contemplação, ela passou a apelar para a interpretação e a imaginação da pessoa que visse a obra. Ou seja, mandaram para o espaço o ideal platônico de beleza e trouxe a coisa toda para um plano mais subjetivo, mais introspectivo. Isso se deve principalmente à fenomenologia husserliana, heideggeriana e sartriana, fora o segundo Wittgenstein e sua filosofia analítica subjetiva. Essas escolas filosóficas simplesmente lançaram um basta (um f*&@-se seria algo mais preciso) ao idealismo de racionalismos como o cartesiano ou o kantiano, e levantaram a importância do sujeito que conhece, que percebe o mundo.
Só que depois dessas escolas veio a pork-art, quero dizer, a pop-art e sua idéia de vender arte para as massas. Mas fica a tal questão: entender arte não é pra qualquer um, exige uma educação, um refinamento que (na maior parte dos casos) os membros das classes operárias não têm tempo para adquirir. A arte para as massas tem que ser esvaziada de qualquer conteúdo intelectual senão encalha, pois ninguém compra uma coisa que não sabe como usar. Aí entra o conceito que ela estava me explicando. A arte para as massas não evocaria o sublime, mas seria simplesmente bonita - atraente para os olhos de quem não entende paratingós de seregeticas - e descartável - como toda e qualquer coisa destinada ao consumo pelas massas. E esse conceito se estende a toda e qualquer coisa que tenha uma imagem para vender, desde um programa de televisão a uma escova de dentes.
Aí eu me perguntei na hora mas deixei quieto porque... bem, eu não sei o porquê dessa minha decisão. Mas é fato que eu não perguntei para ela se isso não propiciava a manipuação das massas pela mídia que vende essa arte "popular". Pois se é a mídia que vende essa arte, e ela se vende pela imagem, logo pra mídia determinar que tais e tais coisas são bonitas e por isso todo mundo tem que ter é um pulo. Para piorar, vivemos em uma sociedade que cultua o bonito mas que aceita a definição midiática para beleza. Será que é paranóia minha achar que estamos sendo vítimas de uma grande conspiração?

Amigos e Reflexões

Uma amiga inspirou-me a pensar sobre a seguinte questão: o problema do Brasil é o brasileiro que não quer saber de p*&$a nenhuma; os pais que não sabem como criar seus filhos; ou os intelectuais que nada fazem pela nação?

quarta-feira, 28 de março de 2007

Questão filosófica

Se a mulher é mais perfeita que o homem, e deus é o máximo da perfeição, esse cidadão é homem, mulher ou transexual?

Voltando ao normal

Desculpa a crise de diarréia mental, mas agora eu quero deixar uma perguntinha séria: por que sempre pensamos que o mundo está conspirando contra nós no exato momento que antecede nossos maiores sucessos?

Comentem, por favor!

Gente, satisfaçam o meu ego: escrevam qualquer coisa nos comentários, mesmo que seja apenas para perguntar em que favela eu compro uma erva tão forte...

Pulgas e carrapatos

Por que ter cachorro é algo tão trabalhoso? Ainda mais quando se trata de um cachorro tão mimado quanto essa pelucinha aí da foto... quem olha acha até que ela se acha gente. E o pior é que ela se acha gente mesmo, mais filha da minha mãe do que eu ou minha irmã.
Bem, fazer o quê? Ela está aí do jeito que ela está, e ponto. Educaram errado o cachorro, e deu no que deu. Hoje neguinho reclama que ela é mimada...

Pensamentos impensáveis

Conversando com as pessoas eu percebi uma coisa: quanto mais eu as conheço, mais eu gosto de meus cachorros. Tem exceções, como toda máxima tem, mas as pessoas como um todo têm me decepcionado. Cadê a humanidade entre os homens? O que esperar para nossos dias futuros? Será que vivemos o melhor dos mundo possíveis? Será que o maniqueu e o metafísico estão mais certos do que o cético? Rosseau ou Hobbes?

"É preciso cuidar do meu jardim"
(Voltaire, in: Candido, ou o Otimismo)

terça-feira, 27 de março de 2007

Será que possuímos algo?

Eu estive pensando nesta noite algumas questões acerca do sentimento de posse que sentimos pelas coisas. Será mesmo que as coisas nos pertencem? Será que elas apenas estão conosco, e que pertencem a nós tanto quanto a Torre Eiffel me pertence hoje? Questão estranha, se considerarmos principalmente que se trata de uma pessoa esbanjadora e perdulária que a está levantando...

Não sei se nossa formação capitalista nos educou da maneira correta, ensinando que a propriedade é a mais nobre virtude que o homem pode exercer sobre o mundo. Não sei se existe sabedoria em pessoas que se acham donas do mundo. Não sei sequer se existe um mundo que possa ser propriedade de alguém.

Pensando nisso, eu me lembrei da carta enviada pelo chefe Seattle ao presidente Pierce, em 1854, quando o presidente interessou-se em comprar as terras dos nativos. Eu fucei um pouquinho a Internet e achei essa carta. Li, refleti e admirei-me como homens auto-denominados "civilizados" não possuíam metade da sabedoria de um "selvagem". Pergunto-me, com isso, se o selvagem não era o presidente e o homem sábio e civilizado, Seattle...


Carta feita pelo Chefe Seattle (foto) ao presidente Franklin Pierce em 1854


O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.

Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.

Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem.

Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.

O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertecem à mesma família.

Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.

Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.

Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.

Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.

O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.

O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensivel ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragância das flores campestres.

Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os índios ) matamos apenas para o sustento de nossa vida.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.

Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.

De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.

Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adoçicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.

Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.

Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.

Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteje-a como nós a protegíamos. "Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse": E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.

(fonte: http://www.geocities.com/rainforest/andes/8032/page16.html)

segunda-feira, 26 de março de 2007

Introdução ao Livro da Lei, traduzida e musicada por Raul Seixas

Eis a verdadeira Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão:

Todo homem tem direito
de pensar o que quiser
Todo homem tem direito
de amar a quem quiser
Todo homem tem direito
de viver como quiser
Todo homem tem direito
de morrer quando quiser

Direito de viver
viajar sem passarporte
Direito de pensar
de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar,
Como e com quem ele quiser

A lei do forte
Essa é a nossa lei e a alegria do mundo
Faz o que tu queres ah de ser tudo da lei
Fazes isso e nenhum outro dirá não
Pois não existe Deus se nao o homem
Todo o homem tem o direito de viver a não ser pela sua própria lei
Da maneira que ele quer viver
De trabalhar como quiser e quando quiser
De brincar como quiser
Todo homem tem direito de descansar como quiser
De morrer como quiser
O homem tem direito de amar como ele quiser
De beber o que ele quiser
De viver aonde quiser
De mover-se pela face do planeta livremente sem passaportes
Porque o planeta é dele, o planeta é nosso.
O homem tem direito de pensar o que ele quiser, de escrever o que ele quiser.
De desenhar, de pintar, de cantar, de compor o que ele quiser
Todo homem tem o direito de vestir-se da maneira que ele quiser
O homem tem o direito de amar como ele quiser, tomai vossa sede de amor, como quiseres e com quem quiseres
Há de ser tudo da lei
E o homem tem direito de matar todos aqueles que contrariarem a esses direitos
O amor é a lei, mas amor sob vontade
Os escravos servirão
Viva a sociedade alternativa
Viva Viva

Direito de viver, viajar sem passaporte
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar, como e com quem ele quiser

Todo homem tem direito
de pensar o que quiser
Todo homem tem direito
de amar a quem quiser
Todo homem tem direito
de viver como quiser
Todo homem tem direito
de morrer quando quiser

Tempo, louco tempo, tempo é tempo...

Eu estive pensando: estou ficando velho.
Percebi isso hoje, quando voltava da casa de um amigo. Uma igreja particularmente bonita havia desabado, e isso me motivou a refletir como o tempo pode ser cruel com as coisas. Decrepitude, entropia, são princípios tão elementares e verdadeiros que todos os seres, desde o cisco de areia à colossal sequóia, conhecem o início e o fim da existência, e entre esses extremos há um intervalo que é desconhecido pelos seres existentes.
Cruel, isso... pensar que um dia tudo o que amamos virou pó perante nossos olhos, e serão substituídas por outras coisas que também virarão pó quando for a hora, e assim ad infinituum. Pensar que a existência é um curto sonho na noite eterna do tempo, e muito curto mesmo: o que são setenta ou oitenta anos para um planeta que tem cinco bilhões? Ou para um universo que tem pelo menos vinte vezes mais tempo de existência do que esse cisco meio molhado ao qual chamamos Terra? E pensar que nos achamos muito importantes por tudo aquilo que fazemos nesse tempo hediondamente curto, nossa! Que coisa estapafúrdia! Eu sou o que sou e isso serei por sessenta anos, e depois disso - caput, finit! Meu corpo deixará de existir, e será como se nunca tivesse existido.
Tenho alguns segundos de vida a menos agora do que quando comecei a escrever este post. E estou proporcionalmente mais velho, mais próximo da verdadeira liberdade.

sábado, 24 de março de 2007

Fé e fanatismo no cristianismo

Eu costumo dizer que Paulo pegou o que havia de melhor em Platão e conciliou com o cristianismo, já que a abordagem que eles fazem de deus e da bondade são muito parecidas. Para mim, é algo possível de ter sido feito, já que há muitas semelhanças e Paulo era uma pessoa instruída (naquela época, pessoa que dominava a filosofia de Platão e Aristóteles, mais alguns nomes). Para ambos, o ser supremo é bondade pura, além de pregarem a humildade, a paz, o amor e todas as belas virtudes que o cristianismo prega mas a maior parte dos cristãos esquece. Por isso que você tantos ateus piedosos, no sentido de serem mais bondosos do que a maioria dos cristãos. Não creio que seja paradoxal, mas sim uma necessidade.
Hoje em dia (aliás, hoje em sempre) muitas pessoas encaram a religião como uma espécie de caderneta de poupança: se eu agir como a divindade quer, eu sou recompensado. Logo, se esse tipo de pessoa pratica o bem, não é por interesse intrínseco em fazê-lo, mas sim para ganhar créditos com sua divindade. Ademais, esse tipo de pessoa é a primeira a se esquivar de prestar auxílio aos necessitados, alegando que para receber ajuda o pobre coitado deve antes receber/aceitar/se converter à mesma divnidade que ele segue. Não creio que isso seja agradável aos olhos de um deus bom, ainda mais aquele sobre o qual .:Christos falava. Sinceramente, na minha opinião esses hipócritas devem ganhar um lugar priviliegiado no inferno que eles acreditem existir.
Já o ateu não: se ele pratica uma ação ética ou moral qualquer, ele faz porque assim ele quer. Se ele é bom para com uma pessoa, se deve ao fato de que ele se sentiu inclinado a agir dessa forma e possivelmente ele possui uma inclinação a ser uma pessoa bondosa; e se ele é mau para com uma pessoa os motivos e as conclusões são parecidas. O ateu não espera ganhar nada em troca do que faz, já que não defende a existência de um sistema cósmico de pontos ou coisa similar. No máximo um ateu pode colocar as coisas como causas e conseqüências umas das outras, tal como em uma grande demonstração lógica (se eu me lembro bem, você é engenheira. Se você for engenheira eletrônica, lembre-se das tabelas para funcionamento de flip-flops e sua belíssima álgebra booleana), mas isso seria mais um proncípio mecânico (tal como a lei da gravidade) do que um sistema cósmico qualquer.
Reitero mais uma vez: não tenho problema algum com religiões, mas com os fanáticos e com os hipócritas. As religiões são doutrinas que partem da fé para explicar o mundo - essa explicação pode não primar pelo rigor científico, mas é uma encadeação de pensamentos em muitos casos bonita. Quando a maior parte das religiões foi codificada não existiam métodos como o carbono-14 e a medição do resíduo radioativo do chumbo. Isso quer dizer que eles (os homens da época) tiveram que dar um jeito para explicar o mundo e seus diversos fenômenos estranhos, como um arco-íris, um trovão, um eclipse, a passagem das estações e outras coisas que hoje a ciência diz o que é, mas não dizia na época. As religiões possuem uma beleza e uma singeleza tais que até hoje, mesmo com o advento e a evolução das ciências naturais, as pessoas ainda se sentem inclinadas a terem uma - sinal de que não há baboseiras nelas.
O problema são os fanáticos, aqueles que acham que sua visão, sua interpretação particular é a única correta de um dado livro sagrado e decidem perseguir todos os que discordam dele. Não sei se você vai concordar comigo mas tenho para mim que todo excesso não é bom - chutar a imagem de Nossa Senhora para dizer que se trata de um ídolo falso é abuso, por exemplo. É contra esses que eu tenho meus problemas. No caso do cristianismo, o caso é muito mais sério, pois alguns neopentecostais (os fanáticos mais comuns nos dias de hoje) jogaram o seu livro sagrado pela janela e se baseiam nas interpretações distorcidas de um homem a quem chamam de pastor (geralmente o mais semianalfabeto e o que grita mais alto) para fundamentar sua fé. E, não satisfeitos em distorcer a belíssima doutrina que .:Christos ensina, acham que devem perseguir, combater e por fim converter todos aqueles que tem pensamentos diferentes dos deles (isto é, todos aqueles que não pertencem às mesmas igrejas que eles). Eu tenho pena de pessoas assim, que subaproveitam todo o potencial que este corpo e esta mente possuem. Tenho mais medo ainda de um país que se deixa influenciar por tais pessoas...

Coisas que meus longos anos de vida ainda não me explicaram...

Meus assíduos leitores (isto é, eu, eu mesmo e eu de novo, já que só eu pra gostar de tanta besteira), nunca ocorreu a nenhum de vocês como são engraçadas as coisas? De repente você está sentado enchendo a cara de café e escrevendo uma bobagenzinha como esta que vocês estão lendo quando passa pela sua cabeça: como eu conheço tanta gente sem conhecer nenhuma pessoa! Eu estava justamente pensando no que escrever hoje, então eu vou colocar algumas palavrinhas sobre o assunto conhecer pessoas.
Convivemos com muitas pessoas diferentes ao longo de nossas vidas. Começamos pelos nossos pais e irmãos, que podem ser ao mesmo tempo .:Christos e Satã, e nós os amamos por isso. Mas não interessa o quanto vivamos com eles, sempre haverá algum traço novo na loucura inerente aos homens que até o momento não havíamos percebido. Seja que nunca tenhamos notado que um irmão bebe leite direto da caixa, seja que nunca tenhamos percebido que nossas mãe usam sempre o mesmo brinco, ou qualquer coisa assim... o tempo passa e cada vez percebemos que conhecemos pouco nossas próprias famílias! A prova disso é que eles nos surpreendem de vez em quando, fazendo coisas que ninguém esperaria deles.
Depois os coleguinhas de escola. Gente muito esquisita, para se falar sinceramente, mas que serve de parâmetro para as loucuras maiores que a idade mais adulta nos reserva. Desses, só interessa falar dos colegas de segundo grau, pois a probabilidade de se manter algum contato com estes é muito maior. Todos os tipos juvenis, desde a lolita que queria se enamorar (engravidar?) do professor até o gênio esquisito e recluso do fundo da sala, podem ser encontrados nesse ambiente insalubre para o desenvolvimento intelectual de uma pessoa (a sala de aula). Não é nada saudável misturar projetos de filósofo e projetos de pastor no mesmo recinto, pois a maturidade e o bom senso que nasce dela ainda não estão plenamente desenvolvidos.
Depois os mais esquisitos de todos: os colegas de faculdade. Bem, esses eu só conheço da sala de aula para fora, pois aos 18 tomei consciência de que sala de aula é um local inadequado para se aprender o que quer que seja e deixei de freqüentá-la... Mas voltando ao assunto, numa universidade típica você encontra de tudo, desde advogados padrão (canalhas mentirosos, sem querer ofender) ao pensador "aéreo" com toda a erva que conseguiu mandar pra mente. Cambada de esquisitos, que você não chega a conhecer nem o nome na maioria dos casos...
Por fim, temos o caso mais estranho ainda: ninguém conhece a si mesmo. Podem chiar o quanto for, mas ninguém vai conseguir falar algo de definitivo (isto é, dizer o que é) sobre si mesmo. Vai falar nomes, títulos, feitos, tudo influenciado pelo estado emocional do momento em que a pessoa fala. Os homens não conhecem as próprias essências, dando uma de aristotélico aqui com vocês. Por isso que eu considero psicologia e psiquiatria uma enganação só: os caras que dizem que entenderam a mente não fazem nada que não seja categorizar as pessoas em virtude do que elas pensam... Eu não sei quanto a vocês, mas tentar enfiar as pessoas em modelos baseados em seu comportamento mental é conversa pra boi dormir...
Ao mesmo tempo, somos capazes de nos relacionar com pessoas que não tem nada a ver conosco, ou mesmo que não teríamos motivo de trocar uma palavra com elas se não fosse um acaso feliz. Gente que, sob outras circunstâncias, não daríamos um bom dia são nossas companheiras de diálogos e eventos - ainda que não as conheçamos mais do que conhecemos a nós mesmos. Como por exemplo meus leitores, que eu não sei se existem e não se manifestam com comentários - mas me lêem, e por isso nos relacionamos dessa forma. Tem gente que não teríamos sequer a chance de dar bom dia em circunstâncias normais, mas algum acaso feliz fez com que elas entrassem em nossas vidas. Algumas saem muito rápido, mas outras ficam.

Depois eu que sou esquisito...

quinta-feira, 22 de março de 2007

Como são as coisas...

A internet é um meio de comunicação fantástico. Aliás, ela é mais do que isso: ela possibilita uma segunda vivência, ainda que virtual, na qual você pode estar em contato simultâneo com um belga, um russo e um polinésio sem sair da comodidade de sua escrivaninha. Eu, por exemplo, converso com pessoas que sei que, talvez, nunca verei pela minha frente. Pessoas que eu nunca apertarei a mão, nunca convidarei para um café, nunca espirrarei acidentalmente sobre elas...
Ao mesmo tempo como é uma coisa fantástica esse negócio de blog. Posso ler o que qualquer pessoa no mundo escreveu em um, desde uma receita de bolo até os problemas afetivos; eles estarão ali, compartilhados com milhões de pessoas, serão lidos por milhões de pessoas, comentados por algumas pessoas (poucas pessoas comentam blogs)... Eu creio que vou me demorar a acostumar com esse pensamento.

Mais um pensamento da ordem do irrespondível...

Estive pensando... se o Brasil é um país sério, por que seu povo só é patriota em época de Copa do Mundo?

quarta-feira, 21 de março de 2007

Tem gente que acha que crença é certeza...

Mais uma vez eu me fiz uma pergunta daquelas que ninguém se faz porque nunca terão resposta: por que será que existem pessoas que querem que suas crenças (principalmente as religiosas, mas qualquer crença serve) sejam tratadas por todos como certezas?

Esotérico ou Exotérico?

Descobri a utilidade do pessoal do serviço social: incitar-me o pensamento ou me lembrar de coisas que há muito eu dizia mas tinha esquecido. Trata-se da questão do conhecimento esotérico e do conhecimento exotérico. De acordo com o dicionário Aurélio, "exotérico" é relativo a um ensinamento que pode ser aberto ao público, enquanto "esotérico" é relativo a um ensinamento que não o pode. Essas palavras foram mais usadas no passado sobre o ensinamento de ordens e fraternidades secretas, mas hoje reaparece em um outro contexto: a academia, ou melhor dizendo, o meio acadêmico.
Tem gente dentro de uma universidade (principalmente nos cursos de humanas) pensando que as discussões que ali se levantam são apenas para os "iniciados", isto é, para aqueles que a academia reconheça serem seus membros plenos: graduados, pós-graduados, professores e intelectuerdas de plantão. É fácil reconhecer esse povo: reúnem-se em grupos para discutir cinema francês, arte contemporânea e o "pós-modernismo" (seja lá o que raios queiram dizer com essa expressão absurda), fazem caras de desprezo quando olham para pessoas que não pertençam a grupos como os deles e possuem um comportamento um tanto afetado. Quando você pergunta o que quiseram dizer, apelam para pessoas como Deleuze, Sartre, Heidegger e outros filósofos de difícil compreensão apenas para transmitir a aparência de erudição. Eu me pergunto se eles realmente leram esses autores ou apenas citam porque acham os nomes bonitinhos - e, se eles leram, me pergunto se eles realmente entenderam...
O resultado dessa prática estapafúrdia é o isolamento do pensador com relação ao objeto pensado. Como os monges medievais, esses "santos doutores" versados no alemão e treinados no exterior se enclausuram nos muros de um estado de coisas irreal chamado universidade e esquecem que a realidade, que o mundo, está lá fora e não tem mais nada a ver com o que se está fazendo. De que me adianta ser capaz de definir com precisão o que Sartre disse sobre a responsabilidade do homem se eu não sou capaz de por isso em prática e tentar fazer alguma coisa pela sociedade? São seres que não devem ter coragem de expor-se ao mundo, e por isso construíram um mundo só para eles. Isso seria admirável se esse mundo novo fosse para todos e fosse melhor do que este aqui de fora.
Na Antigüidade, as humanidades eram ensinadas de uma maneira muito diferente do que é feito hoje. Nada de prédios ou salas fechadas, mas sim um passeio pela cidade ou por um jardim. Nada de um professor todo-poderoso que se vale do princípio da autoridade (eu sou professor, logo o que eu falo está certo) para ensinar, mas uma conversa informal entre amigos. Nada de uma pauta rígida e calcificada que atende a muitos interesses menos os do aluno, mas uma conversa inspirada por algo que fosse visto na hora. Nada de diplomas, títulos e toda essa parafernália, mas sim os singelos títulos de mestre e discípluo. Mesmo Platão, o primeiro reitor e administrador escolar de toda a História, teria um ataque cardíaco só de ver em que a instituição que ele idealizou se tornou. Até Aristóteles (um dos santos desse povinho esquisito) ricularizaria a academia, a universidade dos dias de hoje.
Não adianta nada termos muitos pensamentos bonitos e coloridos se eles ficam trancados e enclausurados nos mosteiros de nossos tempos. O Pensamento é uma força viva, capaz de mudar a vida de qualquer um com quem entre em contato. Muitos amigos meus se tornam outras pessoas depois que lêem alguma bobagenzinha que eu escrevo ou digo ou então lêem algum dos livros que eu citei, e percebo que o mesmo se dá com todas as pessoas que eu conheço e partilham a opinião que diz que "o conhecimento quer ser livre". O Pensamento é capaz de permitir a pessoa melhorar de vida, pois mostra a ela que uma condição melhor está ao seu alcance e ensina como proceder para atingi-la. O Pensamento permite a pessoa a compreender melhor a si mesma e ao mundo que a cerca, e a aproveitar melhor esse conhecimento.
"Qual seria a tarefa dos estudiosos de todas as áreas?" é uma pergunta que pode ser feita agora, e a qual eu respondo com muita certeza (ainda que essa senhora seja caprichosa e enganosa): "leve o Pensamento às pessoas, pois elas precisam muito mais dele do que nós." Principalmente os acadêmicos das ciências humanas, bases necessárias para todas as outras, mas todos os acadêmicos deveriam se tornar peripatéticos, isto é, ensinar ao povo enquanto anda pelo meio dele. Só assim poderíamos vencer a inércia do nosso mundo e aspirar a realidades melhores.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Tomou?

Uma carrocinha de cachorro quente... bem, quem é fã do cara já conhece como termina essa estrofe. Trata-se de uma das músicas mais conhecidas de Rogério Skylab, um dos maiores expoentes da cena underground do Rio de Janeiro.
Neste domingo, dia 19/03/2007, ele fez sua apresentação no All Rock Point, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Para quem não conhece, é um lugar na Vila São Luiz onde várias bandas covers fazem suas apresentações aos domingos. Pra quem gosta do gênero, eu recomendo, gostei muito e quando tiver alguma coisa tocando lá que eu goste eu pretendo voltar, sem dúvida.
Como costuma acontecer nesse tipo de evento, ele foi o último a tocar, mas ele não foi sozinho. Espiem só a carrocinha de cachorro quente, a tendinha onde a produção dele estava vendendo CD's, camisetas e o livro de poesias Debaixo das Rodas de um Automóvel. Sinceramente, eu achei os preços um pouquinho salgados, mas os caras têm que viver, não é? Não deixei de comprar minha camisa, aquela que eu vestia na foto que eu postei no preview desta reportagem.
Já estava de noite quando ele começou a tocar. Rolou um atrasozinho básico por conta de algumas bandas que haviam se atrasado, mas isso não diminuiu o entusiasmo da galera. Destaque para Kreuzebec, o cover dos Mamonas Assassinas, que estejam em bom lugar agora rindo da minha cara e responsável por deixar o povo em ponto de bala. Estava um calor degraçado, cumpre-se registrar, mas este amigo de quem não pôde ir resolveu abusar do celular que tinha no bolso e fazer uma fotoreportagem amadora. Confiram comigo!
Esta é uma das melhores fotos que eu consegui do palco (a p$#*a do celular não tinha flash, as fotos ficaram uma m%$#a). Apesar da escuridão dá pra ver que tinha muita gente mesmo (ainda mais se a gente considerar que era domingo à noite). O Rogério tocou muito de seus sucessos, principalmente os do novo CD (desculpem, senhores, mas eu não lembro o nome de algumas músicas...), mas alguns são mais antigos como Convento das Carmelitas, Carrocinha de Cachorro Quente e Matador de Passarinho.
O espetáculo foi muito bom, sem sombra de dúvidas, mas muita gente estava pastando legal por causa do calor. Até o Skylab não aguentou: quem teve a cara de pau de ir pra detrás do palco como eu percebeu que as muitas idas dele para trás eram pra enxugar o rosto e beber água - ele virou uma garrafa de dois litros sozinho. Teve uma hora que ele voltou pro palco com a toalha nas mãos, como vocês podem ver na foto abaixo.

Quem não foi, só tenho a lamentar, infelizmente. Quem conhece sabe que perdeu um dos músicos mais irônicos, engraçados e irreverentes de todos os tempos, sendo comparável nesses quesitos ao grande Raul, que em bom lugar descansa na cidade de Thor. Os pontos altos do espetáculo foram justamente a interação entre fãs e artista nas músicas Carrocinha... e Matador de Passarinho. Na primeira o próprio cantor não esperava que o povão fosse se manifestar: quando ele começou a estrofe O elefantinho pergunta pra vaquinha:, quase todos os que estavam no lugar perguntaram em alto e bom som Tomou?... no cu?. O Rogério gostou e se animou, deixando ao cargo da galera essa parte dos versos da estrofe. Em Matador de Passarinho, as pessoas cantavam os fechos das estrofes - e o Rogério, muito perfomático, recantava em outro ritmo e outro tom os mesmos versos finais, além de fazer a sonorização dos tiros da música. No final, como não podia deixar de ser, ele encerrou com o tiro na própria cabeça - mas não sem fazer uma cena, graças a um grupo de fãs que em frente ao palco pediram para que ele não fizesse isso. Realmente, houve uma grande interação do Rogério com o público, como a gente pode ver na foto abaixo.
É, minha gente... o meu post ainda não acabou. Tenho que falar ainda das pessoas que estavam presentes, dos reles mortais como este que escreve (e que ficou todo arrebentado em produzir essa reportagem bem amadora). Eram roqueiros de todas as tribos, que estavam ali desde o início do evento. O local é bem eclético, toca todo tipo de rock, e isso favorece uma coisa bonita que não se vê em eventos como bailes funks: as galeras (é esse o termo que se usa?) se misturam numa boa e ninguém se estranha - pelo menos antes do álcool fazer efeito... Mas o meu destaque da noite vai para o casal que eu nunca esperaria de estar ali. Vejam com seus próprios olhos na foto abaixo. Não sei se vai dar pra ver, mas é um casal de coroas que estavam curtindo muito o show.
Mas foi isso que vocês viram. Para resumir bem, pois o saco de vocês já deve estar inchado, eu repito o que eu devo ter dito em algum lugar (e se eu não disse eu digo agora): o show foi f$%a, lamento por quem perdeu. Nas palavras de Daniela Cavalheiro, 19 anos, "foi muito bom, prova de que a música brasileira tem futuro". Bem, pelo menos alguma coisa no Brasil tem futuro, e isso me enche de esperança. É bonito ver que os nossos jovens e nossos adultos parecem concordar pelo menos em alguma coisa.
No final teve o troféu merecido: o autógrafo e a foto com o cara. Eu não vou postar aqui de novo porque seria uma pagação de pau do c%$#*@o, e eu não estou a fim disso. Vou encerrar por aqui, sem colocar a metade das fotos que eu tirei. Quem quiser, me manda um e-mail que eu mando.
Valeu, Skylab! Continua assim, cara!

Eu prometi pra hoje, mas fica pra amanhã

Queridos leitores, eu sei que eu prometi escrever sobre o show do Skylab hoje ainda, mas acabei de chegar e estou sem condições de escrever algo mais sério do que este pedido de desculpas. Eu escreverei amanhã, sem falta. Mas segue-se uma amostra do que vai vir para vocês:
Momento fã: Skylab (o de branco) e eu (o de preto)
Eis o troféu de uma noite de trabalho!

domingo, 18 de março de 2007

Como tem gente esquisita no mundo....

Nunca ocorreu aos senhores que na maior parte das vezes as pessoas fazem perguntas querendo ouvir respostas as quais já sabiam e com as quais concordam totalmente? E depois eu que sou estranho...

Pergunta que não quer calar

Na minha opinião, somos seres bem dotados de Razão - ainda que alguns de nós não a use. Desta forma, com o uso correto dela, somos capazes de responder a qualquer pergunta que nos seja proposta.
Por que então as pessoas que querem defender racionalmente posições esdrúxulas mas não sabem como qualificam a questão como mistério: "os homens são pequenos demais para compreender a grandeza de não-sei-o-quê"?

[Momento papo de NERD]Essa é somente para os jogadores de RPG: algumas palavras sobre o AD&V

Para quem não sabe, RPG é um misto de wargame e teatro de improviso, cujo objetivo é simplesmente criar e contar uma história em conjunto - uma versão mais adulta de brincadeiras como Polícia e Bandido. Existem regras para evitar aquelas discussões do "não morri, não!", mas em última análise é a mesma coisa.
Quem conhece sabe que existem muitos sistemas de regras, cada um enfatizando alguns tipos de ação ou história. A discussão de hoje é sobre o sistema Storyteller(r), aquele dos d10 e do Vampiro: a Máscara. O ST (como eu vou abreviar o nome do sistema, em parte para não infringir nenhuma lei autoral) dá ênfase sobretudo na interpretação dos personagens e na narração da crônica, quase deixando subentendido que quando acontece alguma rolagem de dados é porque alguma coisa deu errado. De fato, a interpretação é posta em um pedestal pelo Mark Hein-Hagen e seus companheiros de trabalho, e muitas revistas especializadas sustentam que eles criaram uma nova forma de jogar RPG. Quando elas falam isso é em contraste aos dois sistemas mais usados na época: o Rolemaster (que é quase rolar dados e consultar tabelas apenas) e o D20 (o sistema do D&D, que seu personagem só evolui se espancar algumas coisas de vez em quando).
Vampiro aproveita da subcultura gótica dos anos 80 e cria uma ambientação sombria e arrepiante de nosso mundo, conveniente renomeado para Mundo das Trevas. Assim sendo, não é difícil compreender por que ele fez sucesso entre os roqueiros, luficeristas, satanistas, pagãos e similares de todas as partes do mundo em que chegou. A questão é que até hoje tem gente que não aprendeu a jogar o jogo. Aqui no Brasil são vistos grupos de RPGistas que jogam Vampiro mas, ao se olhar atentamente para anarração, percebe-se que a diferença entre o que eles jogam e o D&D é a ficha, pois a história segue o mesmo padrão: entrar em algum lugar - matar tudo - recolher tesouros - gastar pontos de experiência. Sem muitas variações.
Um amigo meu, o Guilherme, chegou a dizer certa vez que "no Brasil se joga AD&V: Advanced Dungeons & Vampires". Todos nós rimos longamente, e eu até hoje rio só de lembrar da cara séria que ele fez ao dizer isso, como se estivesse discorrendo longamente sobre as contradições da teoria aristotélica dos sentidos. Tem gente da minha época (nçao de idade, mas de experiência acumulada) que não joga mais ST por causa desses grupos de hack & slash. É uma pena, pois é um sistema que favorece jogos densos e interessantes.

Skylab é amanhã!!!

Amanhã tem show do Rogério Skylab em Caxias, a cidadezinha em que eu moro atualmente - tem gente que diz que em Caxias não se mora, mas se esconde. Mas não se preocupem: para quem não for, amanhã eu escrevo aqui contando como foi.
Morram de inveja!

Rosas são vermelhas, violetas são azuis

Eu estive pensando sobre um fato que aconteceu comigo hoje: fui visitar um amigo que sofreu grave acidente, mas ainda está vivo. Não é engraçado como os homens se achem tanta coisa quando suas vidas sempre estão pelo fio da espada de Dâmocles?

sábado, 17 de março de 2007

Religião - uma questão de fé?

As pessoas entram para uma religião por causa da fé que sentem, isto é, por encontrarem nela respostas que satisfazem seus anseios? Ou será que uma pessoa pertence a uma fé ou religião apenas pelas vantagens que lá encontra? Não creio que uma criança tenha escolhido pertencer à religião de seus pais, por exemplo, assim como não creio ser fiel uma pessoa que se aproxima de uma igreja porque esta lhe promete ganhos materiais.
O problema é que o mundo está cheio de gente que acha que é uma pessoa de fé viva e verdadeira só porque pertence a esta ou àquela igreja. Elas acham que escolheram de fato estar ali única e exclusivamente por causa da fé. Eu sempre pensei que as pessoas em geral fossem bobo-alegres, mas essa galera me surpreende, de tão iludidos que eles são...

Por que as pessoas perguntam as coisas óbvias?

Parece meio engraçado, mas quando você pára para considerar seriamente o assunto você fica estarrecido: por que as pessoas perguntam somente as coisas óbvias? A questão fica ainda mais engraçada quando se pensa que o grau de obviedade da pergunta é inversamente proporcional ao grau de complexidade da fonte da questão.
Não tenho a menor idéia do porquê disso se dar dessa forma, sinceramente. Penso que as pessoas devem ficar tão preocupadas em entender como o teto da casa deve ser feito que se esquecem de construir os alicerces, se me permitem uma metáfora. Sim, as pessoas afirmam ter compreendido um Nietzsche mas não são capazes de entender algo tão simples quanto um poema do João Cabral ou um livro do Machado de Assis.
Vai entender...

sexta-feira, 16 de março de 2007

Palavra e conhecer - o conhecimento é absoluto?

Existe uma relação muito estreita entre palavra, conhecimento e objeto: conhecer um objeto é ser capaz de descrevê-lo em palavras, isso é empiricamente tautológico. Podemos ver facilmente na vida cotidiana que ao pedimos a uma pessoa demonstrar seu conhecimento sobre determinado assunto ou objeto ela começará a descrevê-lo, e que podemos consultar manuais de instruções para aprender sobre o funcionamento de outros objetos, ou ainda podemos nos valer de livros didáticos para aprender algumas coisas. Facilmente percebemos então que não existe conhecimento que não possa ser registrado em palavras, pois todo conhecimento é uma descrição de algum objeto. Mesmo todo o conhecimento de fonte empírica ou sensorial deve poder ser transformado em uma descrição.
Mas percebemos que nem sempre as pessoas concordam no uso das palavras. Na vida cotidiana percebemos várias situações de falha de comunicação simplesmente porque uma palavra significava uma coisa para quem a falava e outra coisa para quem a ouviu, como quando se pede uma coisa e é trazida outra. Isso sem contar os casos em que o falante usa palavras que o ouvinte não conhece, seja por pertencer a um outro idioma ou a um outro grau de instrução. Percebemos que as palavras não possuem significação fixa, devendo esta ser pré-fixada antes de seu uso. É esse o papel, em parte, de um idioma: pré-fixar significações para as palavras. Quando as palavras têm sua significação fixada, o ato de comunicação pode ocorrer normalmente entre duas pessoas que partilhem das mesmas convenções pré-fixadoras de significações para as palavras.
Mas parece que temos uma questão escondida aqui: se as palavras têm que ter suas significações pré-definidas por convenções lingüísticas e se o conhecimento só pode ser em palavras, o conhecimento teria que ser relativo às convenções que pré-fixam as significações das palavras? Ou, dizendo mais claramente, o conhecimento é relativo à pessoa que conhece? O objetivo deste texto é tentar oferecer uma resposta a essa pergunta, bem como discorrer sobre as implicações das mesmas.

1. O conhecimento é relativo ou absoluto?
Peguemos uma palavra qualquer, por exemplo "rato". Será que ela tem a mesma significação em todas as vezes em que ela é usada? Podemos perceber facilmente na nossa vivência que não: por vezes ela é empregada para se referir a um animal pequeno, por vezes a uma pessoa de caráter duvidoso e mesquinho, e por vezes para um freqüentador muito assíduo de um dado local. Com isso podemos concluir facilmente que uma mesma palavra, em um mesmo conjunto de convenções lingüísticas, pode vir a ter significações diferentes, dependendo do uso que se faz dela.
Se a significação da palavra depende do uso que se faz dela, logo devemos analisar um pouco sobre como se dão esses usos. Como podemos perceber no exemplo acima, a mesma palavra foi usada em contextos diferentes pela mesma pessoa e por isso recebeu significações distintas. Mas como saber qual significação a palavra recebeu em cada contexto? Observando a reação das pessoas que ouviram a palavra sendo usada: se elas reagiram da maneira que o falante esperava que elas reagissem, então elas usaram a mesma significação para a palavra. Para ilustrar o que eu digo: se o falante espera que as pessoas corressem quando ele gritar "há um rato ali!", ele gritar e uma pessoa não correr, essa pessoa que não correu não conferiu igual significação às palavras ditas por quem gritou.
Assim sendo, percebemos que antes de haver conhecimento deve haver uma convenção lingüística que pré-fixe a significação das palavras. Mas somente isso não basta: se conhecer um objeto é ser capaz de descrevê-lo, é preciso que pelo menos uma outra pessoa partilhe das mesmas convenções lingüísticas que as minhas, para que eu seja capaz de descrever meus conhecimentos para ela. A implicação disto é: se eu usar uma palavra a que meu ouvinte não dê a mesma significação que eu, então não haverá conhecimento, pois para ele não terá significação o que foi dito. Uma implicação menos direta, mas que eu analisarei em outro texto, é: o conhecimento nunca é para-si, mas é ex ego.
Sendo assim, podemos concluir facilmente que o conhecimento não pode ser absoluto, pois depende de uma convenção que deve ser aceita por pelo menos duas pessoas. Mas, ele poderia ser relativamente absoluto, isto é, ser absoluto dentro das mesmas convenções lingüísticas? Nesse ponto cabe a pergunta: será que mesmo dentro de uma mesma convenção lingüística as palavras terão significação uniforme? O exemplo da palavra "rato" mostra que não, mas isso poderia ser facilmente contornado afirmando que em contextos diferentes as convenções pré-fixariam significações diferentes para as palavras. Mas se pudermos encontrar uma situação em que não haja como afirmar que as pessoas que partilham uma mesma convenção lingüística atribuíram a mesma significação às palavras, poderemos derrubar a relativa absolutidade do conhecimento.
Pensemos na seguinte situação, que pode ser difícil de acontecer mas não é impossível: duas pessoas que vivem sob as mesmas convenções lingüísticas estão de frente para um saleiro e um açucareiro. Uma delas diz: "Passe o sal" e a outra entrega-lhe o açucareiro, porque atribuiu a palavra "sal" a significação que a outra atribuiu à palavra "açúcar", e vice-versa (talvez porque no pote de açúcar estivesse escrito "sal", e vice-versa). Isso mostra que mesmo dentro de uma mesma convenção lingüística as pessoas podem atribuir significações diferentes para as palavras. A implicação disso é que o conhecimento só pode ser relativo ao falante, visto que somente ele sabe com certeza a significação do que diz. Ao mesmo tempo, isso implica que nem sempre as pessoas conseguem se comunicar eficientemente, pois nem sempre atribuem as mesmas significações às mesmas palavras.

2. Existe comunicação entre as pessoas?
Vamos nos ocupar um pouco com o que vem a ser comunicação entre pessoas. Na vida prática percebemos que qualquer ato de comunicação entre pessoas ocorre quando elas estão falando umas com as outras e reagindo das maneiras esperadas pelos falantes. Ou seja, só pode haver comunicação entre pessoas quando elas compartilham as mesmas convenções lingüísticas que pré-fixam as significações das palavras.
Como vimos na parte anterior do texto, não se pode afirmar com certeza que sempre as pessoas que se comunicam usarão as mesmas convenções: podemos pedir sal e receber açúcar. Não temos como garantir que as pessoas em ato de comunicação usarão as mesmas convenções, o que equivale a dizer que nem sempre a interação de pessoas envolvendo palavras será uma comunicação. Se usarmos a definição do parágrafo anterior, vamos concluir que simplesmente em alguns casos em que pessoas conversaram longamente não houve comunicação, e isso parece absurdo: pessoas que não se entendem não conversam muito. Isso indica que a definição de comunicação parece precisar ser revista, e que adotar as convenções do senso comum não vai resultar em bons efeitos aqui.
Vamos enfraquecer ao máximo a definição de comunicação: diremos que esta ocorre quando pessoas falam e pessoas escutam o que está sendo dito. Essa definição de imediato não serve, pois podemos imaginar um mexicano e um japonês falando suas línguas natais e se ouvindo mutuamente, mas se eles usaram somente palavras creio não ser possível ter havido comunicação aqui. Percebe-se que é necessário algum elemento a mais para que se haja comunicação de fato.
Como esse elemento não pode envolver o igual uso das significações das palavras, podemos tentar definir comunicação como sendo o ato em que pessoas que partilham uma mesma convenção lingüística falam e ouvem umas às outras. Ainda assim percebemos faltar alguma coisa, senão um diálogo como: "a cor cadeira do número cinco é verde?" e "sim, chovendo estou" seria uma comunicação - obviamente não é. Conclui-se que ser capaz de proferir frases com significação e que o ouvinte atribua a mesma significação à frase que o falante é um requisito fundamental para a comunicação, não obstante pareça absurdo se analisado pelo senso comum.
Assim, concluímos que a comunicação entre pessoas só pode se dar quando elas partilham uma mesma convenção lingüística e estão atribuindo as mesmas significações às mesmas palavras usadas nas mesmas situações. Isso implica em que, se conhecer é ser capaz de descrever, nem sempre será possível a comunicação de conhecimentos, visto que nem sempre estará sendo atribuída a mesma significação pelo falante e pelo ouvinte à frase.

Com isso concluímos que o conhecimento é relativo à pessoa que conhece, bem como não há garantias que uma pessoa atribua a mesma significação aos conhecimentos de uma outra.

Em defesa da reencarnação

O meu argumento a favor da reencarnação se divide em dois: uma parte é meia religiosa, mas serve justamente contra religiosos que negam a existência do mundo dos espíritos; a segunda parte é mais filosófica, e mesmo os ateus materialistas podem julgá-la digna de crédito. Assumamos que deus é infinitamente bom e justo, que ele criou a humanidade e que ela é sua obra mais amada. Assumamos que pessoas boas recebem recompensas e pessoas más recebem punições após a morte. Se ele é infinitamente bom, a vontade de deus é que todos nós recebamos as recompensas, já que se ele desejasse a punição para nós haveria nele alguma parcela de maldade.

Agora eu pergunto: seria justo para com seus filhos amados que ele desse apenas uma chance de tentar acertar o que é para ser feito? Seria bom da parte dele que ele recompensasse apenas quem o seguisse, não quem fosse de fato bom? Imaginemos duas situações que ilustram essas perguntas: a primeira é a do pecador que se arrepende no final, e a outra é a do ateu piedoso.

Imaginemos uma pessoa que seja a epítome do mal sobre a terra, cometendo atrocidades inomináveis. Certo dia, ele recebe uma luz qualquer e entra para uma religião à escolha do leitor, convertendo-se sinceramente. Dois dias depois, ele morre. Ele merece uma recompensa ou um castigo?

Imaginemos agora o ateu piedoso, um exemplo de bondade e amor pelo próximo tão grande ou maior do que São Francisco de Assis, se é que isso é possível. Poucas pessoas de fé equiparam-se ao nosso ateu em questões de zelo, sacrifício pelo próximo e as outras virtudes tão estimadas pela boca dos religiosos. Esse nosso ateu morre atropelado. Pergunto: ele merece uma recompensa ou um castigo?

Parece-me crucial que, se deus existe, é infinitamente bom e justo e ama os homens como sendo a melhor de suas obras, que existam coisas como outros planos de existência, espíritos e reencarnação. Deus, se ele possuir esses atributos que eu enumerei, permitiria aos seus filhos amados uma segunda chance para tentar receber as recompensas assim que uma oportunidade se fizesse possível. É claro que os espiritos precisariam ficar em algum lugar enquanto não reencarnam, e esses lugares seriam os outros planos de existência, ou mesmo andando entre nós, o que permitiria que pessoas mais sensiveis os percebessem de alguma forma.

Esse foi o argumento religioso: se deus existe, é infinitamente bom e justo e ama os homens como filhos queridos, é necessário que exista um mundo dos espíritos, reencarnação e outras coisas do tipo. Negar isso é negar os atributos que são atribuídos a deus, ou seja, dizer que ele não é infinitamente bom e justo ou que ele não ama os homens como filhos prediletos.

Vamos ao argumento não-religioso. Os atributos que diferenciam os homens das demais criaturas são sua consciência e sua inteligência (ainda que algumas pessoas não as usem, mas elas estão lá, acreditem). Com consciência quero dizer a capacidade de perceber a si mesmo e a tudo aquilo que está fora do si mesmo (isto e, o mundo exterior ao indivíduo) e com inteligência quero dizer a capacidade de analisar e utilizar os dados obtidos pela consciência. Não dependemos do corpo para termos uma consciência e uma inteligência, visto que muitas vezes sonhamos com tanta intensidade que nos parece uma vivência real. Sendo assim, se não parece ser o corpo uma exigência necessária para que o homem tenha consciência e inteligência, então a consciência e a inteligência de um homem pode existir sem um corpo, o que implica em que a consciência e a inteligência de um homem continua existindo independentemente após a morte do mesmo. Logo, existe vida após a morte, que seria justamente a continuação da existência da consciência e da inteligência do homem. Se estar vivo se caracteriza por possuir um corpo, uma consciência e uma inteligência, nada impede que uma consciência e uma inteligência se liguem a um novo corpo para que possam ter uma outra vida. Logo, é necessário não só que espíritos (isto é, consciências e inteligências) existam, mas é necessário que a reencarnação seja possível.

Ateísmo e Espiritualismo - uma relação impossível?

Vocês podem achar meio estranho o que eu vou falar aqui, mas o ateísmo e o espiritualismo não são mutuamente excludentes, isto é, nada impede um ateu de ser espiritualista. O ateu é aquele que não crê em deus, mas isso não fala nada acerca de outras coisas. Assim sendo, no ipso litteris, um budista (seguidor de uma religião espiritualista) é ateu, já que não há deuses em sua fé.

Filosoficamente falando, é fácil construir uma doutrina espiritualista que não cite deus em nenhum momento. Por exemplo, se definirmos espírito como o somatório entre consciência (capacidade de perceber o mundo) e inteligência (capacidade de lidar com as percepções que se tem do mundo) - como a Filosofia costuma fazer -, chegamos a um embrião de doutrina reencarnacionista. Não precisamos do corpo para perceber o mundo nem para lidar com essas percepções, visto que mesmo sonhando estamos sujeitos às impressões sensoriais. Se o espírito não depende do corpo para existir, ele pode existir sem um. Se o corpo e o espírito são de natureza distinta, nada impede que um espírito se acople a um corpo (o contrário é impossível, pois o corpo é apenas matéria inerte e sem vontade).

Esse protótipo de teoria reencarnacionista é só um dos exemplos de que ateísmo e espiritualismo não são mutuamente excludentes. Seria uma atitude tacanha negar a existência de um espiritualismo, já que filosoficamente ele é viável: até o primeiro Wittgenstein (1919), em qualquer autor você pode encontrar as bases para uma doutrina espiritualista (e às vezes toda). O ateu que nega o espiritualismo é tão mentecapto quanto o fanático religioso que diz que apenas a sua fé é correta.

O ateísmo também lida com o lado material, tanto quanto qualquer doutrina ou sistema religioso, mas de uma maneira mais imediata, pois é a partir do mundo material que o ateísmo chega a outros níveis. Tipicamente, o ateu, quando filósofo ou cientista, é um empirista lógico, isto é, parte dos fatos do mundo para chegar aos estados de coisas que suas teorias visam representar, sem se permitir a crença ou a fé sem bases.

Powered By Blogger