Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Novo Ano Novo

Estrelas de mil sóis inventados brilham na janela
Saudando o ano que terminou, lamentando o novo ano
Mais um conjunto de dias sob este sol sem motivos
Centelhas de esperanças a serem negadas em seu plano

Salve as alegrias de milhares de horas novas enfim
Que chegam com as bodas prateadas do ano que inicia
Felicidades que cantam por si mesmas seus doces dias
Eis um ano novo, eis o inicío de u'a nova minha alegria!

Olha pros meus sonhos, pois forrei meu chão com eles
Pisa com cuidado, pois meu chão eu cobri com esperança
Alimentada por suspiros e cantos deste meu ser reles

Mas vem comigo pelos salões de meus inspirados cantos
É por um feliz ano novo que inicio mais esta andança
Tristezas e alegrias se alternam entre risos e prantos

sábado, 29 de dezembro de 2007

Marchinha de Final de Ano

Cidade Maravilhosa, que cozinha seus habitantes
Cidade Maravilhosa, és um maldito forno industrial!

Minha Terra

Na minha terra nascem plantas de muitos sabores
Na minha terra resplandescem os cheiros de teus amores
E pensar que em minha terra distante tua flor nasceu
Cercada pelos doces afetos e de ternura que você conheceu

Na minha terra as coisas nasceram conforme o ano
Desde o liso espigar da cevada até o lustro do ébano
E registro nestas linas os versos de um coração ardente
A cantar as belezas todas de uma terra tão diferente

Em minha terra muito pouco arada pelo tempo
Nada impediu nascer as mil rosas que dei pra ti
Como sinceras promessas d'ouro que não se joga ao vento

São os frutos de minha terra as palavras que escrevi
Registrando por meio delas tudo o que senti:
O desejar pela infinitude dos instantes que contigo eu vivi

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Como uma tarde sem graça de sexta-feira...

Caros amigos e inexisentes leitores e visitantes desta cela virtual no manicômio chamado "Casa de Saúde e Repouso Realidade", faz algum tempo que eu não brindo vocês com alguma reflexão espontânea sobre o mundo. Eu digo espontânea porque a que eu escrevi faz uns dias sobre seres perfeitos nada mais foi que um exercício de filosofia analítica - insípida demais para a alma humana, que nunca é pequena. Faz um tempo que eu não paro para cuidar de meu jardim, e sempre quando faço isso saem alguns pensamentos interessantes (ou diarréias mentais, de acordo com algumas pessoas que não saberiam distinguir rebimboca da parafuseta de rebimbeta da parafusoca...), e este faço questão de compartilhar com todos vocês.
Passei a tarde de sexta-feita, dia 21 de dezembro de 2007, na companhia de uma pessoa que me é muito querida, e nesse meio tempo fomos para Ipanema passar a tarde em uma pracinha muito agradável que existe por lá. Não me perguntem o nome da praça, nem o nome da rua em que ela se encontra: só sei dizer que é em frente à igreja de Nossa Senhora da Paz (ou da Glória). Mas o nome não importa nada: como diria o Sábio e Filósofo Antoine de Saint-Exupéry, nós não conhecemos uma pessoa por saber o nome dela. Não é uma praça muito grande, para ser exato... ela é do tamanho de um quarteirão, ou pouca coisa menor do que isso. Mas ela tem um jeitão de pracinha de cidade interiorana, com crianças brincando, um laguinho decorado para o Natal, jardinzinhos, pipoqueiros e floreiros. Enfim, trata-se de um reduto de paz no meio do caos urbano, um lugar especial no qual ainda dá para se entregar ao exercício da suprema vagabundagem que é chamado pelos intelectuerdas de plantão de "filosofar".
Ali eu sentei em um dos muitos banquinhos e me entreguei à vadiagem suprema que é o exercício do pensamento. Fiquei absorto observando algumas crianças jogando futebol, aproveitando uns coqueiros como traves, os casais passando de mãos dadas pelos passeios da praça e o céu nublado, meio cinzento, nem quente nem frio. Uma tarde que pra muitos mortais seria extremamente sem graça para mim e para as crianças estava sendo fantástica. Isso porque nós (eu e as crianças) sabíamos o valor daquela tarde, em que nada importava senão o momento em que se estava. Vivíamos o hoje, sem pensar no ontem e no amanhã. Eu sempre soube que as crianças sabiam viver, e tento resgatar isso em mim o máximo que der - pra isso serve a Filosofia, não a filosofia das academias, mas a Filosofia.
Os dias poderiam transcorrer como tardes sem graça de sextas-feiras. Não todos os dias, senão seria enjoativo demais... um pouco de agitação faz bem pro espírito, e uma espada que fica tempo demais na sua bainha termina por enferrujar. Mas alguns dias, a maioria dos dias, quase todos eles, poderiam ser como essas tardes que passamos nas pracinhas da vida, se soubermos apreciar a graça desse divino presente com olhos de criança. Lembrei-me de Lulu Santos, que diz em um de seus clássicos: "Tudo o que se vê não é/Igual ao que a gente viu há um segundo/Tudo muda o tempo todo/No mundo", ao perceber o quanto era importante aproveitar aquele momento que nunca mais aconteceria neste mundo possível.
Então eu me percebi ali como o único cidadão que estava parado de alguma forma, contemplando aquilo tudo tal como fazemos com os animais no zoológico, mas isso não me incomodou. Os casais estavam passeando, as crianças brincando, tinha até um babaca filosofando e tudo isso estava compondo o belíssimo instantâneo daquele momento de vida. Aquela sensação nunca será esquecida, pois pertence ao mesmo tipo de sensação que eu tive quando parei para ouvir o Samu em Ilha Grande. Hoje eu entendi o que raios eu senti entre as delícias e os regalos de ver aquele camarada dizendo, ao seu próprio modo, que nós, ditos homens letrados, estamos muito longe de qualquer coisa que se possa chamar "vida" ou "verdade" ou qualquer merda que estejamos procurando como nossa principal questão espiritual. Hoje eu posso dizer pra vocês o que eu senti lá e o que eu senti nessa pracinha: a própria presença do Absoluto, ou pelo menos a forma com que ele se mostra aos homens nas mais simples e fundamentais verdades da vida.
Preocupem-se menos. Trabalhem menos. Essas duas coisas gastam o seu tempo de vida, que é mínimo, com assuntos que não lhes farão bem nenhum. Estudem apenas aquilo que vocês quiserem estudar, pois nenhuma erudição do mundo revelará essas grandiosas verdades do Universo (ou, como diria Mestre Heráclito - eu acho -, "muito conhecimento não ensina sabedoria"). Amem mais e brinquem mais, pois essas atividades são as mais sublimes expressões do espírito, e Deus se manifesta na vida de quem se abre para elas. Plantem uma árvore, já que um dia elas vão acabar. Façam mais essas pequenas coisas, elas é que importam. Divirtam-se mais. Escutem os loucos como eu, pois às vezes o que eles dizem pode ser de alguma valia.

Essa é a mensagem de Natal e Ano Novo do louco que escreve aqui no Tarja Preta. Muita Paz Profunda para todos vocês!

Poema anônimo...

Caros amigos e inexistentes leitores deste pequeno não-espaço desvirtualizado. Não sei nem o título, nem o autor... mas este poema veio parar na minha caixa de e-mails, enviado por uma pessoa muito querida para mim, e creio que valha a pena divulgá-lo neste espacinho de piração virtual. Caso um dia o autor apareça, por favor deixe um comentário que eu darei os devidos créditos a quem merece.

Para realmente conhecer uma mulher conheça seus sonhos
Pergunte dos seus medos e dos seus desejos.
Decifre seus olhares e preste atenção nos detalhes...
Porque a mulher quer ser descoberta e ela lhe mostrará o caminho.
Toda mulher é uma casa secreta cheia de portas e janelas
Esconde passados e em cada quarto esconde um mundo novo.
Cada poro tem seu aroma e em cada curva a cor é diferente.
Para conhecer uma mulher precisa saber onde a carne é mais branca
Se quando ela caminha os cabelos balança,
saber como pisa, como ri e como chora.
Saber em que horas acorda, de que jeito dorme.
Uma mulher é feita de mistérios, sem isso não seria mulher.
Esconde os defeitos, esconde as fraquezas, esconde como dança.
Depois ela surpreende, ela dança, ela encanta.
Ela mostra sua força, seu sexo, seu amor.
Ela se abre para o homem que a descobre
E segue com ele por onde ele for

domingo, 23 de dezembro de 2007

Rascunhos sobre os Seres Perfeitos

Existem duas categorias de seres perfeitos: os seres plenamente perfeitos e os seres parcialmente perfeitos. Os seres plenamente perfeitos são aqueles nos quais não se apresenta nenhuma espécie de falha, mácula ou imperfeição: são divinos, homogêneos, imóveis, inascidos, perenes, imutáveis, e sempre são o que são ad aeternia. Já os seres parcialmente perfeitos são aqueles que são reflexos dos seres plenamente perfeitos, isto é, possuem pelo menos um dos, mas não todos, atributos citados acima.
Desta forma, percebemos que existe apenas um ser plenamente perfeito: a divindade - que, dependendo da religião em questão, pode ser a Santíssima Trindade, Alá, Buda -, o Absoluto que rege a existência de todos os demais seres. Da mesma forma, percebemos que existem duas categorias de seres parcialmente perfeitos: os intermediários do Absoluto - onde se lê santos, anjos, ancestrais, e outros mais -, e as mulheres. Se os intermediários não partilham com o Absoluto o atributo imóvel, as mulheres partilham apenas o atributo divino. No entanto, conforme definido acima, isso torna esses seres perfeitos, ainda que parcialmente.

Dança, Zaratustra!

Dança, Zaratustra
Mestre dos Homens e de Si
Dança com a alegria do inascido
Dança co'a beleza das crianças
Dança teu sabor de Deus deídico
Dança teu orgasmo de viver
Dança, oh, Último Homem!

Dança, Zaratustra
Guia dos Sábios e dos Loucos
Dança com a força dos Senhores
Dança com piedade pelos Fracos
Dança co'o gosto de teus sabores
Dança teu prazer de ser Tu
Dança, oh, Assassino de Deus!

Dança, Zaratustra
Hedonista sem cristos n'Alma
Dança com teu andar requebrante
Dança com estupor de Não-Ser
Dança com o teu gozo replicante
Dança teus amores infinitos
Dança, oh, Maior dos Niilistas!

Dança, Zaratustra
Ermitão esquecido pelo Tempo
Dança co'o deleite de Inexistir
Dança com o apreço pelo fingir
Dança teu largo gesto de sumir
Dança teu estar sem estar aqui
Dança, oh, Grande Iniciado!

Dança, Zaratustra
Que eu danço conTigo
Eu Danço em ti

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

In Profundum Expedito

Afundo-me nas densidades de teus sonhos azuis
Navegando nas intensidades de teus suspiros
Com destemor em dangerosíssima viagem sub-luz
Marcando meu passo pelos ecos de teus inspiros

Por cavernas de negro olvido tuas pérolas irão
No anseio de encontrar-se com o rubro carinho
Pelo qual tuas marmóreas colinas se arrepiarão
Por deixares teu porto seguro ao largo sozinho

Abandono-me nas profundezas de teus azuis sonhos
Esquecendo-me de mim a cada instante percorrido
Acalentando a esperança em azuis tão tristonhos

Alcança-me nas distâncias das tempestades tuas
E libera-te em teu seio teu sentimento premido
Enlaça-te em mim pelo gosto de tuas doces luas

Para as amigas chamadas Ana

A Ana - Ana Cañas
(Composição: Ana Cañas / Alexandre Fontanetti)

A ana disse ontem
A ana ficou triste
A ana também leu
A ana não existe

É a ana insiste
A ana não consegue
A ana inventou
Ela também merece

A ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A ana é azeda
Mas muito doce quando é doce

A ana nada sabe
A ana sempre canta
A ana me enrola
A ana me engana

A ana se pintou
A ana não limpou
A ana que escreveu
A ana se esqueceu

Foi a ana que fez
Foi a ana que foi
Foi a ana em fá
Foi a ana, foi

A ana ama
A ana odeia
A ana sonha
A ana canta

Quatro Proposições de uma Prima Philosophia

Primeira Proposição:
A verdade não existe

Segunda Proposição:
O que existe é coerência entre fatos e coisas

Terceira Proposição:
Existe um limite para a coerência entre os fatos e as coisas, e esse limite é dado pelo pensamento

Quarta Proposição:
O que não pode ser pensado, não pode ser dito; o que não pode ser dito, não pode ser um fato

Quatro aforismas

A Arte de dar vida às sombras é mais sombria que a sombra de viver pela Arte.

A Lógica nasce da Ordem, mas a Poesia é a filha do Caos por excelência. Enquanto a Lógica direciona o Homem pelo Pináculo do Conhecimento do Chão da Ignorância aos Céus da Divindade, a Poesia faz com que o Homem olhe para Si, de Si e por Si. A Lógica procura dizer o que o Homem pode ser, a Poesia diz o que o Homem não é.

Conhece-te a ti mesmo, e então conhecerás as respostas sobre o sentido da vida, do universo e de tudo o mais...

Não existe alguém tão burro que não possa ensinar nada, nem ninguém tão inteligente que não tenha nada pra aprender.

Soneto aos Tristes Sonhos Azuis de Dirceu

Muito me agrada ver teus sonhos sorrirem
E vê-los deixar de lado a tristeza sempiterna
Que tanto incomoda as pérolas de teus lábios
Em uma contradição um tanto quanto moderna

Teus tristes profundos sonhos azuis de mar
Que como ondas quebrando falam de tua alma
Sorrindo meio a lembrança de teus temporais
Encontram aqui u'a ilha de voz mansa e calma

Deixa tuas pérolas me contarem tuas calmarias
E encontra em minhas doces mãos teu porto seguro
Nos quebrantos de um mar em que me arrebatarias

E à tristeza do profundo dos belos sonhos teus,
Duas jóias perfeitas entalhadas em bom augúrio,
Nomeou-me corretor meu Senhor, nosso bom Deus

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Hora para um sambinha...

Cantarei contigo

Se tu me perguntares, amor
Cantarei contigo aonde for
A beleza de uma primavera
Outono, inverno à vera
Tua pureza, linda flor
Dos poetas, o teu sofredor
A cantar a velha dor
Que sempre passa
No carinho que me abraça
Nos braços do teu amor
Que nunca acaba
E sempre alcança
Minha alma cansada
Minha voz de cantador
Na vida louca de poeta
Com esperança
E na certeza da lembrança
Que embala um grande amor
Cantarei contigo aonde for

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Parando para pensar...

Caríssimos amigos e inexistentes leitores deste humilde não-espaço virtual perdido em uma não-realidade plasmada apenas em nossas mentes, eu estava a fazer uma reflexão sobre meus escritos e meus interesses. Quem lê o Tarja Preta desde o início ou acompanha o grupo de discussões Chá das Cinco sabe que eu escrevo (e portanto me interesso) sobre praticamente qualquer coisa. Uma hora eu estou escrevendo algo mais sério, com fortes pretensões filosóficas e tal - só pra no momento seguinte descontrair tudo mandando um poema, ou um aforisma irônico.
Não se espantem, meus senhores. Eu cheguei à única conclusão possível: eu sou louco...

Ave Maria (em Latim)

Ave Maria, gracia plena, Dominus tecum
benedicta tu in mulieribuset
benedictus frutus ventris tuus, Iesus
Sancta maria Mater Dei
Ora pro nobis pecatoribus
nunc et in hora mortis nostrae.
Amem.

Hino da República Celeste

Sob o signo da Liberdade
Surgiu um novo Estado
Baluarte da Esperança
Neste mundo atribulado

Sob os brados de Igualdade
Anunciou-se a República
Como Inimiga sacramentada
Da tirania impudica

Sob a lei da Fraternidade
Agora todos são irmãos
Um só Povo, um só Destino
Uma só Vontade e Coração

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Conquistado a duras penas
Foi o direito de sonhar
Querer dias bem melhores
Que só se podia imaginar

Quando o povo se fez um
E aos tiranos disse não
Fez do sonho realidade
Seu desejo de união

Pela Paz se fez a Guerra
Lutou Irmão contra Irmão
Mas a Justiça prevalece
Os Povos Livres vencerão!

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Mas a Verdade triunfou
Enfim os Tiranos cairão
Frente ao Sol Fulgurante
Vivo em nosso Brasão

A Verdade traz a Esperança
Possa a Paz enfim reinar
Sob a égide de Nosso Senhor
Possa a nossa estrela brilhar

Junto à Esperança vem a Fé
Em dias melhores que virão
com a República Celeste
A Paz e a Glória reinarão

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

Hoje olhamos para o horizonte
Pela República a nós aberto
Tudo é novo e possível
Sem tirano algum por perto

Todos juntos ergueremos
Um Estado excelso de paz
Eis que com Fé e Esperança
De tudo o povo é capaz

Tremei de medo oh tiranos
Pois é Livre agora o Povo
Se tentardes nos dominar
Sereis vencidos por nós de novo

Liberdade, Fraternidade
Igualdade são os lemas
Da República Celeste
E também suas bandeiras

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pai Nosso - em Latim

Pater Noster quio est in ceali,
santificetur nomen tuum
Adveniat regnun tuum
Fiat volunctas tua sicut in celo e in terra
Pane nostrae quotidianum danobis hodie
e dimite debita nostrae
sicut noi debitamus pecatoribus nostrae
e ne nos inducas in tentazionen
Sed liberta nos a malo.
Amem.

Credo em Latim

Credo in Deum Patrem Omnipotentem,
Creatorem caeli et terrae;
Et in Iesum Christum,
Filium Eius Unicum,
Dominum Nostrum,
qui conceptus est de Spiritu Sancto,
natus ex Maria Virgine,
passus sub Pontio Pilato,
crucifixus, mortuus et sepultus,
descendit ad infernos,
tertia die resurrexit a mortuis,
ascendit ad caelos,
sedet ad dexteram Dei Patris Omnipotentis,
Inde Venturus est Iudicare vivos et mortuos;
Credo in Spiritum Sanctum,
Sanctam Ecclesiam Catholicam,
sanctorum communionem,
remissionem peccatorum,
carnis resurrectionem,
et vitam aeternam

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Elegia ao Templo da Colina

Pelo Caminho vão ficando
Muitos Homens e Mulheres
Para a Colina todos iam
Ver os Mestres e Buscadores

Lá no topo havia o Templo
De Pedra e Ouro que reluz
Ali estava o Ensinamento
Que ilumina e bem conduz

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Nunca mais escutaremos
Seu shofar a ressonar
Órfãos somos do Pregador
Ali sentado a Ensinar

E arrasado como foi
O Grande Templo da Colina
Foi-se a Fé e a Esperança
Eis a nossa triste sina

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Em seu Fim se levantou
Um Irmão contra seu Irmão
Uma Guerra, um triste fim
A sangrar meu coração

Não há mais, oh Javé
O Grande Templo da Colina
Não há mais esperança
É o nosso fim e sina

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Em meus sonhos lembrarei
E esperarei o quanto for
Para ouvir o seu shofar
E as palavras do Pregador

E hoje espero na Colina
Pelos os que vêm pelo Caminho
Sou o Templo e seu shofar
Sou Pregador e estou sozinho

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Estou a cantar seu triste fim

Eis que ouço seu shofar
No topo da Colina a ressoar
Muitos Homens e Mulheres
Estão de novo a se aproximar

Agora cantam os velhos Mestres
No Grande Templo a Ensinar
Agora há Fé e Esperança
O Caminho volto a trilhar

Oh Templo de puro Bronze
De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Sou tocado por teus Querubins

Lá no topo havia o Templo
Destruído por um Irmão
O Grande Templo da Colina
Trasladou-se ao meu coração

Agora posso me alegrar
Ouço o canto e seu shofar
As pessoas estão chegando
O Pregador volta a Ensinar

Oh Templo de puro Bronze

De Pedra Pura e Marfim
Olhai e vede, sou violino
Sou tocado por teus Querubins

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ateísmo e Espiritualismo - uma Relação Possível?

Vocês podem achar meio estranho o que eu vou falar aqui, mas o ateísmo e o espiritualismo não são mutuamente excludentes, isto é, nada impede um ateu de ser espiritualista. O ateu é aquele que não crê em deus, mas isso não fala nada acerca de outras coisas. Assim sendo, no ipso litteris, um budista (seguidor de uma religião espiritualista) é ateu, já que não há deuses em sua fé.
Filosoficamente falando, é fácil construir uma doutrina espiritualista que não cite deus em nenhum momento. Por exemplo, se definirmos espírito como o somatório entre consciência (capacidade de perceber o mundo) e inteligência (capacidade de lidar com as percepções que se tem do mundo) - como a Filosofia costuma fazer -, chegamos a um embrião de doutrina reencarnacionista. Não precisamos do corpo para perceber o mundo nem para lidar com essas percepções, visto que mesmo sonhando estamos sujeitos às impressões sensoriais. Se o espirito não depende do corpo para existir, ele pode existir sem um. Se o corpo e o espirito são de natureza distinta, nada impede que um espírito se acople a um corpo (o contrário é impossível, pois o corpo é apenas matéria inerte e sem vontade).
Esse protótipo de teoria reencarnacionista é só um dos exemplos de que ateísmo e espiritualismo não são mutuamente excludentes. Seria uma atitude tacanha negar a existência de um espiritualismo, já que filosoficamente ele é viável: até o primeiro Wittgenstein (1919), em qualquer autor você pode encontrar as bases para uma doutrina espiritualista (e às vezes toda). O ateu que nega o espiritualismo é tão mentecapto quanto o fanático religioso que diz que apenas a sua fé é correta.
O ateísmo também lida com o lado material, tanto quanto qualquer doutrina ou sistema religioso, mas de uma maneira mais imediata, pois é a partir do mundo material que o ateísmo chega a outros niveis. Tipicamente, o ateu, quando filósofo ou cientista, é um empirista lógico, isto é, parte dos fatos do mundo para chegar aos estados de coisas que suas teorias visam representar, sem se permitir a crença ou a fé sem bases.

sábado, 17 de novembro de 2007

Nas areias de Lopes Mendes, sentei e curti o feriado de Finados

Caros amigos e companheiros leitores deste pequeno refúgio de insanidade virtual tão desprovido de visitantes, hoje vamos sentar e contar uns causos. Eu sei que está meio desatualizado, mas só agora eu tive tempo pra sentar e escrever, então... é como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
Tudo começou quando minha irmã pergunta se eu quero ir acampar com alguns amigos dela. Isso foi final de outubro, mês em que, convenientemente, eu estava desfrutando as devidas férias da minha ocupação de vagabundo público. Só que descanso de pobre falido é uma merda, então imaginem os senhores como eu estava de mau humor na hora que ela fez essa proposta. Mas por alguma inspiração divina eu resolvi aceitar o convite, e lá fomos nós comprar tudo o que seria necessário para uma viagem dessas (e se endividar no processo, mas isso faz parte da cultura, da sociedade e da psicologia do brasileiro). Foi no meio das compras que eu fiquei sabendo qual seria o destino: Ilha Grande, na Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro.
"Ótimo", eu pensei. Com certeza eu ficaria bem relaxado e poderia tentar descansar. Não parece muito, mas ser vagabundo público cansa e deixa muito estressado, e eu já estava querendo dar um murro no primeiro idiota que me aparecesse pela frente - o que significa que eu tinha que ficar em casa para não agredir ninguém, pois quando eu estou nesse nível de estresse pra mim qualquer um é um idiota. Então nos preparamos todos e partimos para a ilha.
Lá chegando ficamos em uma área de camping, já que ninguém ali teria culhões para acampar no meio do mato, como se deve fazer. Isso não impediu que conhecêssemos o lugar, é claro, mas cortou ao meio a graça da bagaça. Enfim, chegamos lá na sexta-feira, e já fomos conhecer uma praia lá qualquer - eu não lembro o nome, mas é perto das ruínas de um antigo leprosário aproveitado pelo regime militar como prisão política. O lugar é sinistro, sem contar que atrás dele tem um desses corredores sem fim que ninguém sabe como foi construído, nem pra quê, nem porra nenhuma. É claro que o covarde do seu escritor de bordo não entrou ali: um médium em um lugar obviamente carregado de sofrimentos e outros resíduos psíquicos similares não ia prestar. Depois disso fomos visitar o aqueduto que levava água para esse presídio - carinhosamente chamado pelos amigos da minha irmã de Lapa no Dia Seguinte. As semelhanças são interessantes. Demos mais uma volta naquela parte da ilha, e voltamos para o camping. Nesse dia eu fiquei tão cansado que acabei dormindo por essa hora mesmo, mas a galera foi curtir um forró na praça vila do Abrãao - ainda bem que eu dormi, já que eu não gosto de forró.
Mas foi no dia seguinte que a viagem valeu a pena: fomos para Lopes Mendes. Três horas e meia de trilha (o que por si só já teria feito valer o dia) coroadas por uma praia como não se vê em lugares onde a praga-homem fixou mais firmemente suas moradias. O banco de areia da praia seguia raso por pelo menos duzentos metros, com nível de água (cristalina, é bom que se diga) não superior à cintura de um adulto. Fiquei idêntico a um camarão (nota: eu não fico bronzeado, por mais que eu me esforce. Minha pele fica vermelha e descasca depois, mas mesmo que eu literalmente me queime no sol não fico com um tom de pele diferente do branco fantasma).
Mas na volta é que aconteceu o ó do borogodó da viagem. Estávamos todos mortos de cansaço e ninguém (exceto eu) estava disposto a voltar pela trilha. Mas no tempo em que ficamos na praia fizemos amizade com um dono de barco que aceitou fazer um desconto pra nos levar de volta à Abraão. Vejam o naipe da figura: musculoso, atarracado, queimado de sol, com dois tubarões tatuados pelo corpo e com um cheiro de marola que se sentia de muito, muito longe. Ele é surfista e barqueiro (como o povo em Ilha Grande chama quem faz um serviço de táxi entre as praias), muito gente fina e completamente porra-louca. Durante o caminho de volta ele contou sua história para nós, e é mais ou menos o que se segue.
Samu (ou pelo menos minha irmã jura que o nome dele é esse) era um sargento do exército responsável pela segurança de um desses bunda-moles que levam o nome de oficiais. Isso foi antes do movimento Diretas-Já, para vocês sentirem a responsabilidade do cargo. Um belo dia, ele estava num completo estresse: a noiva dele pressionava pra rolar o casamento, a faculdade estava dando nós na cabeça dele e o oficial iria ser transferido pra Brasília e iria levar o segurança dele junto. O cara ao invés de pirar catou os dois cachorros dele e uma barraca de acampamento e foi pra Ilha Grande. E nunca mais voltou. Isso ele contando ao mesmo tempo que conduzia o barco e fumava um baseado apertado ali por uma lourinha - e que tesão de lourinha! -, namorada do primo dele.
Eu aqui não vou conseguir reproduzir (e por isso nem vou tentar) toda a emoção que sentimos ao ver esse cara contando a história dele - que pode ser falsa, mas que foi tão bem contada que dá vontade de acreditar. Pra mim, ele fez isso tudo. Hoje eu penso que pessoas como Samu é o que falta para nós, homens modernos: pessoas que nos façam acreditar em suas histórias, pessoas que nos façam acreditar em algo. Pessoas que mostrem pra gente que as nossas verdades, as nossas crenças, são tão verdadeiras quanto as histórias de um barqueiro - que podem ser falsas (e todas elas, as nossas e as do barqueiro, são), mas nas quais acreditamos e, por isso, elas são verdadeiras para nós. Como full-time filósofo de plantão, simplesmente adorei ter ouvido a história desse cara. Se ele estiver mentindo, ele compreendeu - melhor que muita gente que se diz culta - que a verdade é só mais uma históra tão bem contada e repetida que as pessoas não se questionam mais quando a ouvem. É questão de paradigma, como eu estou tentado a começar a dizer.
Depois desse momento mais-que-filosófico fomos tomar um banho e passear a noite pela vila do Abraão. Eu estava particularmente cansado nesse dia, mas a história do Samu me fez pensar uma outra coisa que me deu ânimo pra mandar o cansaço pra casa do caralho e ir pra pracinha: seja lá o diabo que for, a vida é uma só e está aí por algum motivo, além de ser objeto da contemplação filosófica. Só que estava rolando duas coisas que nem combinadas nem separadas me agradam: forró e muvuca. "Agora fudeu de vez", eu pensei. "O que eu vou ficar fazendo a noite toda?"
Nisso eu ouvi um rock tocando, baixinho que não dava pra identificar o que era - mas era rock. Foi assim que eu descobri um bar muito legal, que toca música ao vivo e coisa e tal - mas que eu não me lembro qual é o nome, e por isso eu vou chamar do nome que eu, cheio de cerva na mente (ainda que a cerveja custasse R$ 4,00) cunhei na hora: Bar do Fiel. Enquanto todos os amigos da minha irmã ficaram naquele tumulto dos infernos, eu fui o misantropo que eu sou e fiquei sozinho enchendo os cornos de cerveja e curtindo a música - só pra registrar, eu era o único ali com menos de trinta anos.
Enfim, foi uma dura pena quando o domingo chegou e tivemos que ir embora. Mas a viagem valeu a pena, eu ainda vou voltar.

Ilha Grande, I'll be back!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Momento filosofia de botequim

A vida é longa o suficiente para percebemos que ela existe mas curta demais para que possamos definir o que ela é. Então, por que deixá-la passar entre palavras ocas e motivações vãs? Por que gastá-la procurando uma verdade, uma necessidade lógica, uma causa primeira, uma razão? No seio de Deus não há a necessidade de verdades - mas existe tal seio? E se não existir tal seio, de que vale estarmos aqui? De que adianta ser livre como um hamster ou vítima de um cachorro-do-mato se sequer sabemos se aqui estamos ou não? Por que procurar verdades onde elas menos podem existir?
Abram a caixa de fantasias, peguem suas máscaras e vamos brincar de teatro. O nome da peça é "Vida" e nela você pode interpretar o papel que quiser, desde que tenha relação com a máscara que você pegou - mas nada o impede de trocar a máscara se essa não lhe agrada. O importante aqui não é procurar coisas que não existem, mas deliciar-se com a falsidade de toda a encenação. Pegue a máscara de um anjo e durma nos braços do Absoluto - ou pegue os bigodes de um rato e corra pela roda infinita da sua gaiola. Divirtam-se, pois estão livres para fazerem e serem o que quiserem. Proibida está apenas uma coisa: achar que essa brincadeira é algo verdadeiro, achar que o que estamos fazendo é mais do que encenação.
No final das contas, a brincadeira uma hora acaba e você tem que devolver a máscara à caixa. É hora de cuidar do meu jardim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Espírito Livre

E tu que te aproximas, quem és,
Tu, que pelas sombras te esgueiras
Com olhos a me olhar de través?

Pode me chamar de Espírito Livre
Pois espírito livre eu sou
Dançando e cantando nas noites
Indo e vindo ao sabor de meus pés
Voltando pelos caminhos que quero
Sendo e não sendo como eu desejo
Sou aquele que é e aquele que passou

Sois Espírito Livre, como quiseres
Mas dizei a mim, Espírito gracejo,
Quem sois de verdade e o que fazes?

Sou muitas coisas e nada sou, nobre
Não me perguntes aquilo que não sei
Sou homem, sou mulher, sou criança
Sou tudo de uma vez e cada coisa
Cada coisa ao seu devido tempo
Aquilo que faço eu não penso sobre:
Ajo como quero, eis como responderei

Mas Espírito Livre, por quem eu sou
Responda sem rodeios e sem falsidades
Quem és, pelo Alto Deus que te criou?

Sou boêmio cativo das noites e bares
Sou devoto das igrejas mais sagradas
Danço, bebo, seduzo, profano como sou
Rezo, apiedo-me, oro, sagrado como sou
Sou todas as coisas e o nada de uma vez
Como você me prefere: o tudo ou o nada,
A casa de meu pai tem muitas moradas!

Podes dizer muitas coisas de uma vez
Mas nada dizes assim, Espírito Livre
Responde-me quem és, e o que queres

Nada quero que já não seja todo meu
Nas sombras de pura luz de minha vida
Já disse que nada sou e que nada tenho
Já disse que tudo sou e que tudo tenho
Já disse que nada sou e que tudo tenho
Já disse que tudo sou e que nada tenho
Por que insistir na pergunta repetida?

Mas por quem eu sou, responde a mim,
Espírito Lívre que nada diz de direto
O que queres dizer para mim assim?

Eis o que quero dizer, jovem efebo:
O nada e o tudo são o mesmo e nenhum
Ai de ti, que procura respostas na vida!
A vida nada tem a te responder, jovem
Ela só tem as perguntas, e nada mais
Mas ninguém possui as respostas prontas
O zero se faz um no instante do algum

Se queres uma resposta, abre teus ouvidos
Pois a vou dizer uma única vez, efebo:
Eu sou você

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O Padre e a Súcubo

Uma vez, há muitos anos, quando a raça dos homens mortais ainda possuía reis da mais alta e pura linhagem, e que os heróis caminhavam pela face desse planeta, per­guntaram-me quem eu sou. Ainda hoje lembro-me da face do homem que me perguntara isso: lisa e imberbe, angelical até. Uma face como havia anos que eu não via. Ele olhou-me com timidez, temendo possivelmente que as histórias que cercam meu nome fossem verdadeiras, que eu fosse uma sedutora devoradora de homens, e que os devotos fiéis do Crucificado estavam obrigados a se afastarem de mim como fugiriam de meu mestre demoníaco. Olhou para mim como um fraco, uma criança pedindo aprovação de seu pai para fazer alguma coisa que ela mesma sabe que não poderia fazer. Ele tremeria de medo, se seu medo não fosse tão intenso. Mas ainda assim ele ousou tirar-me de meu festim de alegria e auto-satisfação para perguntar-me, uma insolência que desde o alto rei Kaavi eu nunca tinha visto. Ele mereceria uma resposta, uma boa resposta.
Tomei-lhe as mãos entre as minhas e perguntei-lhe o nome. Disse-me ele que uma vez tivera um nome pagão e bárbaro, mas agora se chamava Christian e obrava pela Glória do Senhor. Meus lábios mostraram-lhe o sorriso felino de um predador e senti que isso pesou em seu coração, pois ele quis recolher para si as partes de seu corpo que me tocavam e que me desejavam. Eu lhe disse que não temesse, que nada iria lhe acontecer de ruim ou errado. Ele me olhava, com um misto de desejo e medo que seria algo por demais risível, se ele não vestisse as amaldiçoadas vestes dos sacerdotes do Deus Morto. Ele queria tomar de volta as próprias mãos, mas eu as prendi com força, e seu espírito fraco cedeu às minhas vontades. "Não há o que temer em mim, Christian", eu lhe disse. "Não sou essa criatura que seus padres insistem em dizer que sou." O trêmulo noviço reagiu: "Como não? Eles dizem que você e todos os outros que dançam e cultuam os falsos deuses cultuam e louvam o próprio Único Abaixo, e que todos receberão a Danação Eterna!"
Emudeci por um momento. Demorou-me a ser compreensível que alguém usasse tais palavras para os Gloriosos Senhores. Esse pensamento fraco e covarde estava tomando a mente dos jovens como esse falso santo em minha frente, e fazendo com que esses jovens cuspissem na face daqueles que os criaram e fizeram deles os homens que um dia foram. Precisava mostrar a ele o quão distante da Vida Eterna a vida eterna prometido por esse deus romano estava. Lentamente coloquei as mãos deles, ainda firmemente presas entre as minhas, sobre meus seios, e mais lentamente ainda levei a mão direita dele para meus lábios. Brinquei com as mãos deles sobre meu torso, enquanto seu rosto se convertia na mais pura expressão do desejo carnal.
Minha voz tornou-se o próprio sussurro da brisa matinal em um fiorde, quando os valorosos guerreiros embarcavam em suas drakkars para mais um dia digno de um homem, e meus lábios falaram a Christian nessas palavras: "Seu deus pode lhe dar alguma sensação tão prazerosa quanto essa? Seu deus pode lhe dar uma fagulha de vida que seja mais intensa do que essa que suas mãos tocam agora?" Pus meu dedo em seus lábios, e como uma altiva andorinha pairei nos céus rubros num momento eterno de lentidão absoluta. Seus olhos buscavam a deus, mas apenas se detinham em meus olhos. "Mostra-me um deus que não esteja vivo, jovem efebo", eu lhe disse, "e mostro-te a Divindade entre as curvas e relevos do corpo de uma mulher Divinizada por si só."
Sua vontade fraquejou ante meu espírito, e curvei-lhe a fronte enquanto meus lábios se achegavam para um cálido toque e trocar de carícias, tímidas a início mas aquecidas pelo próprio ardor do jovem cristão. Como criança confusa ele se deixou conduzir pelos meus movimentos, hipnóticas flautas Divinas ante a víbora estupefata cristã. Mostrei-lhe a glória que aguarda os guerreiros de grande valor a adentrar os festins eternos do além-vida. A brisa noturna dançava o Kumpala em nossas peles, eriçando nossos pêlos corporais de frio e um temor mais antigo que a noite... o temor da paixão. Sentia nos olhos do jovem padre o desejo carnal por um demônio, e o padre entregava-se aos seus desejos como se sobre seu corpo estivesse o próprio Cristo a levá-lo ao paraíso. Mas aparece-lhe um demônio, um demônio que drena lentamente sua alma até que apenas ossos e peles ressequidas restem.
O jovem padre, agora ardendo pelo pecado ao qual se entregara e com certeza se lamentando por ter se deixado seduzir por uma mulher tão santa como eu, em um primeiro momento lutou contra seus instintos, mas lentamente se entregou ao meu beijo, e à morte confortante que ele traz. Senti em seus lábios o quanto ele se lamentava agora por ter deixado de ser um homem como seus ancestrais, mas nada poderia eu fazer por ele. Com minhas unhas rasguei a túnica esfarrapada que os servos desse deus, deixando-o entregue aos rigores do inverno, e guiei sua mão até os botões que mantém minhas vestes sobre meu corpo. Mas ele não era um homem, e eu não poderia encontrar nele o que eu procurava. Por mais que eu sentisse a necessidade de prazer, a fome é muito maior. Seria, não nego, uma chance para torná-lo um homem, mas eu estava ali para livrá-lo dessa não-existência tortuosa que ele nomeia “cristianismo”. Era hora de, com um beijo, selar a existência dele neste mundo, e levar sua alma comigo. Finalmente o beijo dele se tornaria doce, mas seria seu último beijo.
Seu corpo agora jaz sem vida, frio como minha alma, há muito morta. Caminho eu para longe daquela casca vazia. Deixe-me sair dessa tarde, por piedade. A noite é ainda uma criança.



quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Todo Mundo Explica - Raul Seixas

Não me pergunte por que
Quem-Como-Onde-Qual-Quando-O Que?
Deus, Buda, O tudo, O nada, O ocaso, O cosmo
Como o cosmonauta busca o nado, o nada
Seja lá o que for, já é

Não me obrigue a comer
O seu escreveu não leu
Papai mordeu a cabeça
Do Dr. Sugismundo
Porque sem querer cantou de galo
Cada cabeça é um mundo Gismundo
Antes de ler o livro que o guru lhe deu
Você tem que escrever o seu

Chega um ponto que eu sinto que eu pressinto
Lá dentro, não do corpo, mas lá dentro-fora
No coração e no sol, no meu peito eu sinto
Na estrela, na testa, eu farejo em todo o universo
Que eu to vivo
Que eu to vivo
Que eu to vivo, vivo, vivo como uma rocha
E eu não pergunto
Porque já sei que a vida não é uma resposta
E se eu aconteço aqui se deve ao fato de eu
simplesmente ser
Se deve ao fato de eu simplesmente

Mas todo mundo explica
Explica, Freud, o padre explica, Krishnamurti tá
vendendo
A explicação na livraria, que lhe faz a prestação
Que tem Platão que explica, que explica tudo tão bem vai lá que
Todo mundo explica
protestante, o auto-falante, o zen-budismo,
Brahma, Skol
Capitalismo oculta um cofre de fá, fé, fi, finalismo
Hare Krishna, e dando a dica enquanto aquele
papagaio
Curupaca e implica
Com o carimbo positivo da ciência que aprova
e classifica

O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha prá depois apagar
Você já foi ao espelho, nego?
Não?
Então vá!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Lembrança das minhas ex...

Versos Fúnebres nº 1

O cavaleiro com sua espada
aos pés da dama se ajoelha
e beija seus brancos pés

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Versos Fúnebres nº 2

O tempo me leva no colo
A morte me beija os lábios
Os olhos se fecham

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Versos Fúnebres nº 3

O ser se tornou não-ser
A lógica nunca explicou
O existir acabou

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Versos Fúnebres nº 4

O vento passou e levou
As folhas caíram de secas
O tempo passou

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Versos Fúnebres nº 5

Sei que você não me amou
Mas ao teu lado fui feliz
Pra sempre, te amo

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mais um poema

A Morte do Leproso

Parafusos soltos
Chacoalhando ao vento
Singrando na vida
Aguardando o momento
Vivendo a morte
Dentro dum sentimento
Sangrando na alma
Dormindo ao relento

Caem as chagas
Eu me reinvento
Nascido da lepra
Sem novo lamento
Morreu o leproso
Fim do sofrimento
Nasceu o Homem
Do Divino rebento

Abandono a Caverna
Vazia de alento
Buscar os homens verdes
Esse é meu intento
Mas não sou como eles
Não mais me contento
Chega de lepra
Acabou meu tormento

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Mais poemas

Liberdade

Eu tenho tudo e tenho nada nesta nova canção
É o princípio de uma vida na minha emoção
É o início de um tempo para o meu coração
É o final de um sofrimento para minha razão

Eu tenho tudo e tenho nada e tenho tudo na mão
Vivo a promessa de alegria para esta estação
Esperando minha alma encontrar direção
Nos lábios frios de argila dessa vil sensação

Estou cansado de negar sem encontrar solução
Por mais que tente não falar sei que vocês saberão
Por mais que tente não chorar sei que vocês cantarão
A minha viva fria morte em cruel situação

Eu vou e venho num disparo em destempero do não
Com alegria e com leveza canto nova oração
De louvor e de orgulho dessa bela pulsão
Pois enfim me libertei dessa tirana paixão

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Elegia do Leproso aos Homens

Eis que me sinto novamente sozinho...
Em minha caverna solitária eu vejo o fogo
Enquanto as sombras dançam na pedra
Tomando a forma de um galho de azevinho

Triste é o silêncio em minha caverna
Só o fogo ri crepitando enquanto morre
Tudo parece condenado ao nada um dia
Mesmo o alento da cerveja na taverna

Já é noite quanto olho pra mim
Nu em chagas sou como todos os homens
Que escondem em peles falsas sua beleza vazia
E negam seu horror com púrpura e carmesim

Sei que entre eles sou apenas um leproso
Terrivelmente parecido com suas almas
Podres e vazias como minha pele verde
Mas isso me deixa ainda mais orgulhoso

Não minto nem me escondo do fato:
Sou um leproso em uma caverna fria
Igual a todos os homens podres de verde
Dos quais o exílio eu sabiamente acato

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Tópicos Existencialistas

Caros amigos e inexistentes leitores desta pequena cela acolchoada do manicômio virtual da vida, eis que pela primeira vez o seu veículo predileto de desinformação, o Tarja Preta, parece que vai falar de alguma coisa séria! Este vagabundo que vos fala finalmente tomou vergonha na cara e vai tentar ser uma pessoa séria e respeitável! Três vivas pra ele!
Ledo engano.
Tópicos Existencialistas não é pra falar de filosofia sartriana, ou de qualquer filosofia que seja. Eu quero apenas compartilhar algumas questões sobre a existência em sociedade, e apenas isso.
1 - por que as pessoas complicam tudo?
2 - por que as pessoas se recusam a aceitar que a sociedade se vê como um grande tabuleiro e que premia quem age assim?
3 - por que as pessoas odeiam sinceridade?
4 - por que as pessoas têm medo de viver um amor, ou ainda, por que elas têm medo de amar?
5 - a pergunta mais importante, por que as pessoas que lerem isto não levarão a sério?

sábado, 1 de setembro de 2007

ENC: Mais Poemas

Amados amigos e inexistentes leitores deste humilde trovador de opiniões nesta virtual terra meã de sofrimentos e dificuldades. Não é segredo para os senhores que eu tenha uma certa veia artística... então estou fazendo a compilação dos poemas meus que eu acho menos piores – divirtam-se com o momento poesia ruim.

Tua Sombra

Por que foges de tua própria sombra?

Será por que temes a face de tua alma
A se refletir na prata lisa e espelhada
E a contar a teus olhos tuas verdades?

Não tens coragem para ver a ti mesma
Com os olhos de tua beleza cinzelada
A prata lisa cheia de tuas falsidades?

Por que foges de tua própria sombra?

Será por que sabes a face de teus medos
A se espalharem pela meia-noite das almas
Cobrando de ti o preço de teus pecados?

Não tens a força para ter teus segredos
E para escondê-los no âmago de tuas palmas
Daqueles que nunca poderão ser perdoados?

Por que foges de tua própria sombra?

Será por que temes ver em mim tua danação
A se desenhar em meus olhos de demônio negro
Mortos e vazios e secos como tua alma fria?

Não tens em tuas sombras a força da emoção
A proteger a ti das forças à qual integro
Os corações trevosos que minh'alma seduziria?

Por que foges de tua própria sombra?

Será por que queres alimentar teus desejos
Com a vida roubada dos lábios dos homens
Que se deixam seduzir pelos teus encantos?

Não tens vergonha de teus atos imundos
Com os quais ofendes os arcanjos nas nuvens
Ao sacrificares almas para teus íncubos?

Por que foges de tua própria sombra?

Será por que temes conhecer tua real sombra
A dizer para ti verdades de prata espelhada
Que teus olhos jamais serão capazes de ouvir?

Não tens medo de amar com tua alma magra
A se esquivar de tua luz arcanja azulada
A face de uma deusa que está ainda por vir?

Por que foges de tua própria sombra?

Por que foges de mim?

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Lamento do Leproso

Tudo o que eu quero é um pouco de carinho,
mas não tem ninguém para me acarinhar.
Sou um humilde leproso amaldiçoado
condenado a pelo mundo sempre errar

Sou filho da vergonha e do desamparo
maldito rebento de entranhas malignas
numa mundana abjeta pelo demo feito
expulso e marcado por línguas ferinas

As marcas de minhas vergonhas me seguem,
a tristeza e o desamparo são minhas vias.
Sou um humilde leproso sem um lar,
sou velho, e privado de minhas alegrias

Possa haver perdão para mim aqui
em minha humilde caverna e solar.
Sou apenas carente em carinhos,
mas não há ninguém para me acarinhar

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Dama da Noite

Vieste como luz numa caverna para mim
Divino anjo redentor dos meus pecados
Trazendo em tuas asas de puro carmesim
A salvação a este teu servo humilhado

Tragas a paz para as trevas que habito
Divino ser feito por tua vontade mulher
Dá a mim a deusa de que tanto necessito
Perdoa-me, que preciso disso para viver

As palavras de perdão não nublam a ti
Nem teu perfeito talhe em alvo mármore
Saído do cinzel louco dum Buonarotti

Mesmo o tom exangüe que marca tua tez
Não impede que em mim o Amor comemore
Teus caninos em meu pescoço em nudez

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Beleza sem Forma

Bondade tua cobrir-me com tão belos elogios, minha cara.
Mas, perto de ti, nada pode ser bom ou belo,
pois tu já és o que há de mais puro e pleno pode existir neste mundo.

Não falo da beleza da face, essa ingrata ilusão
que os anos roubam-nos incontinenti.
Não falo dessa bondade mesquinha
que os infelizes praticam entre si como troca de favores.

Mas eu falo da beleza de uma verdadeida dama,
a beleza eterna que nunca acaba,
nem deixa de ser bela em momento algum.
Falo da beleza do teu espírito,
beleza que transparece em tuas bondosas palavras,
a maior beleza que há entre as maiores belezas.
Falo da bondade que apenas o belo conhece,
essa bondade tua de ver as coisas belas
onde apenas o ressequido cansaço cotidiano existe e sobre-existe,
num contínuo ir e vir de possíveis eterno.

Perto de ti, beleza ou bondade não pode haver,
pois tu és a beleza e a bondade feitas mulher.
E de mim, sem bondade, que se o diga,
que apenas cresto tuas belezas com minha presença.

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Versos a Ele

Dança o sorriso nos lábios teus
De ternura e desejo ali tensos
Brinca comigo teu corpo de deus
Sou tua serva por todos os tempos

Amo-te a ti como nunca amei
Não haverá para mim mais vida
Se com quem o coração deixei
Deixar-me com um amor sem saída

Venha a Morte, infame inimiga,
Daquele que a dois corações liga
Eterno por além das mil eras

Morra eu se a ti a Morte vier
Serei para sempre tua mulher
Tua amante, e tua serva eternas

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Sonhos de uma Noite de Amor

[Rondó à duas vozes, Ele e Ela]

Ele:
Minha sombra arranha nos teus azulejos
Duma maneira estranha aos teus desejos
Vai bailando solta nos teus devaneios
Dançando o baile negro de meus pesadelos

Ela:
Minhas memórias vagam sem rodeios
Passando por lembranças em volteios
Minha sombra arranha nos teus desejos
Minha mente vaga em teus devaneios

Ele:
No baile negro de teus azulejos
Na vida morta solta em teus rodeios
Nas palavras mudas em meus volteios
Nas minhas sombras em teus pesadelos

Ela:
Nas memórias tristes de meus desejos
Minha mente vaga pelos azulejos
Traçando sombras tristes em teus rodeios
Lembrando bailes velhos em seus volteios

Ele:
Nas palavras ditas em meus pesadelos
Nas minhas vidas em teus desejos
Pelas nossas sombras em devaneios
Minha mente dança em teus azulejos

Ela:
Minhas memórias apagam em volteios
Minha mente vive em teus desejos
Tua sombra rege meus devaneios
Minha vida entrego aos teus azulejos

Ele e Ela:
O amor brilha em nossos volteios
Querendo ser uno em novos rodeios
As vidas se unindo em nossos desejos
Duas sombras em uma nos azulejos

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À Dois

[Balada à duas vozes, Ele e Ela, que se revezam alternadamente estrofe a estrofe]

Tua voz se perde em meus ventos
Meus afagos pedem os teus alentos
Meus braços querem o teu calor
Teus lábios pedem o meu amor
Meus dedos correm em tuas curvas
Teus olhos enxergam coisas turvas
Meus dentes tocam suas pontas
Tua voz geme alegrias lentas
Tuas mãos dançam em meus cabelos
Meus prazeres brincam em teus pêlos
Teu sorriso brilha nas estrelas
Teus prazeres marcam minhas pernas
Embolados juntos nos lençóis
Aguardando o brilho dos sóis
Bebendo juntos da mesma alma
Abençoando a noite com nossa chama

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Amor Nas Alturas

Não há limites para o meu amar
Pois para ele não existe um fim
Por muitos nomes vão me chamar
Mas eu não vivo se não for assim

Ele vai até a lua, mãe-sorridente
Pra abraçar ali o teu coração
Pra fazer de ti minha confidente
Pra ser ali minha maior emoção

Se assim teu coração me pedisse
Se assim teu amor me exigisse
Eu daria a ti as estrelas todas

Mas a nenhuma delas do rosto teu
O brilho e a beleza lhes ascendeu
De ti, que és a deusa das deusas

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Atrevido

Ardo de vontade de ter a ti
Entre meus braços e beijá-la
Eu vivo desde que te conheci
E viverei apenas para amá-la

Quero a ti nua em meu quarto
E nu realizar meu maior querer
Em mil meus sofreres eu parto
Quando em meus braços eu te ter

Sobre mim teu corpo tu deitas
Plena de amor os lábios me beijas
Ardendo tu e eu de amor cansados

Juntos então visitamos o prazer
E em meus braços teu corpo ter
Eu dentro de ti e ti em mim, a sós

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Eu e Você

Eu e você, nós dois sempre
Um amor assim tão profundo
Como esse não há quem lembre
De ter visto outro no mundo

É um Amor simples e direto
Não nos diz o que não sente
Não nos faz o que não é certo
Não nos engana ou mente

Não tenho mais nada de meu
Pois meu coração já é teu
No Amor puro e antigo nosso

Não te deixes nunca pensar
Se um dia irei te abandonar
Pois sem ti viver não posso

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Lembranças da Minha Morte

[Canção de versos pareados]

Meus olhos se abrem e desperto
Do curto sonho eu estou liberto...
Mas tu dormes na longa noite...
Vives tu na vida, eu na morte
Contemplo tua face perfeita
Teus cabelos sobre aquela jaqueta
Que te dei naquele Natal...
Admiro tua beleza sem igual

Fico parado olhando a ti
Mesmo sabendo que te perdi
Para a longa noite eterna...
Olho para o corpo que hiberna
Sento ali e aguardo teu despertar
Para que juntos possamos ficar

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O Contador de Histórias

Agora uma história devo contar
Para nossas esperanças tentar embalar
Venho eu tecendo sonhos em tua mente
Nos éons da imaginação venho potente

Ouça: uma história vou contar
E dela você vai participar
Conto eu a trama da aventura
Tëu personagem trança a urdidura

Vem e me conta teus sucessos
Teus medos, tuas idas e recessos
Mostro a ti o mundo no ar
Tu o coroas quando nele entrar

Tu és um comigo no devaneio
Aproveita e guia nosso passeio
Em negras cavernas hei de entrar
Para contigo o velho tesouro encontrar

Nas nossas mentes, o inconsciente
Nas brumas fortes, a nossa mente
O inconsciente perdido, as brumas
Na força do inconsciente tu sonhas

Dorme em paz, amigo de viagens
Estarei te esperando nos mesmos éons...

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Rosas

Quando tento escrever
Saem só versos mancos
Umas poucas palavras
Um poema em branco

Quando tento escrever
As palavras não sabem dizer
Todas aquelas minhas rosas
Que eu tenho guardadas para você

Mas não sou poeta, você sabe
E antes que este verso acabe
Vou lhe contar o que quero escrever

As rosas do amor eterno e da paixão
Que eu amei no fundo do meu coração
Eu as guardei apenas para você

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Saudade

Danço nas voltas do ciclo
Minha vida na noite reciclo
Meus medos nos sonhos replico
Meus temores nas sombras aplico

Tua voz nos ventos escuto
Meus desejos no espelho permuto
Dançando na bruma noturna
Nos volteios da alma soturna

Nossas mãos se estendem no intento
De se fazerem unas pelo vento
A antiga união que tanto almejo

Então tua imagem esmaece
Nas brumas do espelho amanhece
Nos meus lábios teu furtivo beijo

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Soneto da Perda

O eco do silêncio é assustador
Um lugar sem medo ou dor
O som do nada no vazio
O todo mudo num assobio

No escuro nada posso ver
Mas sei que nada pode haver
Sem o brilho dos teus olhos
Para iluminar meus sonhos

Mas tu te escondes no nada
A luz dos teus olhos apagada
Me deixando só no escuro

E eu sozinho e isolado
Espero que voltes pro meu lado
O brilho de teus olhos em meu futuro

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Tuas Dores

Tantos segredos, tantas sombras
Luzes que não querem sair de ti...
Por que te escondes de ti mesma,
E em teu coração não te deitas?

Senhora das Trevas, dona de mim,
Por que te permites tantas dores
E tantos sofreres em ti guardas
Sabes que nao precisa ser assim...

A ti ofereço a minh'alma eterna
Pois minha vida de nada me vale
Se tuas dores não puder aiviar

Em minha solidão sempre superna
Não existe dor em mim que iguale
Ao sofrer de minha dama a chorar
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