Manual de Instruções

Caros leitores, após muito tempo decidi quebrar alguns de meus votos de silêncio. Um deles inclui voltar a escrever por aqui. O outro, falar de política. Tarja Preta versão 3.0, divirtam-se!
Caso você encontre em algum dos meus textos algo interessante e queira compartilhar com seus amigos ou em seu site, revista, jornal, etc., sinta-se à vontade. Basta indicar a fonte e recomendar a leitura do blog, e todos os textos que estão aqui estarão ao seu dispor.

P. S.: decifra-me ou devoro-te!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Onze Anos

Onze Anos
(Luís Fernando Carvalho Cavalheiro)

Onze anos de "guerra contra o terror" movida pelos interesses financeiros e pelo terrorismo de Estados imperialistas falidos após tantos anos investindo em armas e não no crescimento econômico. Onze anos de chacinas sem sentido que passarão para os anais da História como o justo combate contra grupos cuja simples existência condena as sociedades "civilizadas" do Ocidente.
Onze anos vividos mergulhados na propagando oficial do medo e do ódio, na legislação absurdamente justificada por eventos ocorridos além-mar. Onze anos vividos e feitos de fatos silenciados, de verdades ocultas, de intenções dissimuladas, de objetivos secretos. Onze anos de restrições das liberdades civis dos inocentes cidadãos de bem, ainda que bem mascaradas e jamais enunciadas. Onze anos caminhando lentamente para ditaduras mascaradas por um sufrágio universal que cada vez mais se desconfia ser fraudado ou de outra forma ilegítimo.
Onze anos vividos sob a influência tangível de mestres titeriteiros secretos. Onze anos perdidos para sempre, perdidos para mais uma guerra sem razão, para mais uma Cruzada, uma Guerra Santa contra os infiéis, do Ocidente justificada pelo ódio ao terror que mascara a sede por petróleo e outras riquezas.
Onze anos vividos na esperança de que Deus esteja do lado de quem vencer. De que Deus exista e nos diga, de alguma maneira, que esses atos todos não foram aleatórios e sem sentido, mas que se encaixam, seja lá como, em Seus planos. De que o Mal não existe a não ser como um argumento fraco para justificar as paixões humanas. De que nós, homens de bem, podemos dormir à noite certo de que nossas ações nos conduzem para a tão sonhada paz de espírito.
Onze anos perdidos, onze anos nos quais a maior necessidade dos homens, o Amor, foi esquecida. Onze anos de um constante e ininterrupto estupro contra a humanidade.

Àqueles que morreram no atentado de 20010911 (Sep. 11th, 2001; 11/set/2001) e às suas famílias, que vocês todos possam encontrar a Paz Profunda no Seio de Deus. Somos todos um nesse momento tão absurdo e até hoje tão desprovido de sentido de nossa história recente. Que vocês todos possam encontrar consolo em Seu nome, não importa qual seja Seu nome para vocês, e que suas almas não sejam usadas para justificar ainda mais violência como esse atentado moral à humanidade.

A músca "A Canção do Senhor da Guerra" cada vez mais faz sentido para mim.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O PSD: “POLÍTICA SEM PRINCÍPIOS E SEM LASTRO SOCIAL”! (fonte: Ex-Blog do Cesar Maia, 12/07/2012)

Nota: em algum momento eu já disse algo assim em um lugar bem peculiar para esse tipo de discussão. Para ser mais exato, foi ontem, durante o conselho de classe da escola em que ministro aulas. Polonini (professor de Sociologia, social-democrata, batista) e eu (outro social-democrata, católico) debatíamos essa mesma questão (para espanto dos demais professores de humanas, esquerdistas de carteirinha), mas concluímos que o PSD levou o fisiologismo e o senso de oportunismo do PMDB às últimas consequências abertamente, e pelo menos por essa sinceridade merece crédito. Outra conclusão, menos trivial mas também óbvia, é que o PSD demonstra de maneira clara que no Brasil o jogo político não passa da disputa pelo poder, o poder pelo poder em si.

Sociólogo Renato Lessa - Caderno Aliás -Estado de SP, 08) 1. O PSD exibe de modo aberto a lógica do presidencialismo de coalizão, por meio de um truque de rara destreza: transformar meia centena de deputados obscuros, condenados às agruras das legendas de oposição, às quais em sua maioria pertenciam, em um conjunto disponível para trocas generalizadas. A sigla partidária, marca fantasia da organização, afirma-se negativamente, no que diz respeito a ideologias: não é de esquerda, de direita ou de centro. Quer isso dizer que se sente à vontade em qualquer ambiente. Ao modelo, em si mesmo generoso, do presidencialismo de coalizão, propicia o acréscimo de potenciais 50 novos clientes, manobra extensiva aos municipalismos e aos "estadualismos" de coalizão.
       
2. O PSD é sobretudo um experimento aberto de hiper-realismo político, em um grau que talvez nenhum dos partidos "relevantes" brasileiros esteja disposto a assumir. Mesmo o PMDB, mãe de todos os realismos, não dispensa, una y otra vez, menções a seus heróis e mitos de origem. Com o PSD, nada disso: eles expõem com clareza ofuscante os fundamentos correntes da política brasileira. É, pois, um empreendimento que elimina toda suspeita a respeito da opacidade das palavras:  as palavras são o que elas são, não escondem, iludem, parafraseiam ou aludem. Pretendem dizer o que a coisa é.
       
3. Na verdade, um pequeno prestidigitador, a exibir o fato grave de que a existência de partidos "relevantes" e "coesos", bem como sua criação, nada tem a ver com o que se passa no plano da vida social. Política sem princípios e sem lastro social: há quem diga que se trata de uma "democracia consolidada".

sexta-feira, 1 de junho de 2012

You can't kill me

Caríssimos

Pouca gente consegue definir meu gosto musical - afinal, vocês conhecem alguém além de mim que aprecia ponto de umbanda com o mesmo prazer estético de Der Ring des Nibelungen? Acho que vocês nem sabiam disso, mas pouco importa. A música é uma arte libertária e transcendente por excelência, e é o mais eficiente caminho (eu diria atalho, se isso não fosse irritar os nietzschianos de plantão) para o sublime - não apenas a sensação, mas apreciação, a contemplação e a experiência do indizível. Ela pode ser vista como o grito silencioso da condição humana, e o gosto musical diz muito sobre uma pessoa.
Falando sobre dizer muito sobre alguém, apresento a vocês um companheiro meu da Igreja dos Subgênios, Mojo Nixon. Esse camarada é um músico velho de guerra cujas canções são um apelo para aquele sentimento que nasceu e morreu nos anos 70 e 80, quando o politicamente correto era apenas ser anti-comunista e a violência era encarada como parte ruim da vida ou entretenimento garantido se mostrada em filmes de ação, e não como algo feio a ser escondido debaixo do tapete e afastado dos noticiários (e eu sei que vou ser muito mal-interpretado por conta disso, mas que se foda - isso mesmo, falo de uma época que palavras de calão inadequado não eram censuradas!). Cigarros, bebida, carne vermelha e comida gordurosa nessa época não faziam tão mal - ou pelo menos não eram os monstros devoradores de almas que vemos na mídia oficial dos dias de hoje. Éramos senhores, e não escravos (na acepção que Nietzsche confere a essas duas palavras em seu, na minha opinião, melhor livro, Genealogia da Moral).
Infelizmente Mojo não é muito conhecido no Brasil. Também, pudera. Nossa mentalidade de colonizados, de escravos de poderes econômica e políticamente superiores a nós não nos permite ter a mente aberta para uma mensagem como a desse cara. A titulo de curiosidade, leiam a letra de Plastic Jesus e me digam se esse cara vai ser divulgado entre nós. Enfim, leiam You can't kill me, e se possível escutem a música também - não apenas as letras são geniais, o som é muito bom.


You can't kill me
Mojo Nixon

You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
Time has come
We will not wait
We storm the gates at dawn
Busting out of here
In the world
Sing our victory song
You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
(Aim-A-Flame Johnson)
I stand alone
Out on the road
I know flesh will rot
But the renegade and crazy free
Will not forget
You can't kill me
I will not die
Not now not ever
No never
I'm gonna live a long, long time
My soul raves on forever
(Ya know, there's people out there who want to ban books
they want to ban my records
they want to tell me what I can drink
and where I can drink....
And a bunch of pissed off people
pontificating about the evils of rules and regulations
Mc Donalds, politics, etc.)
You can shoot my body full of holes
but you can't kill the spirit of rock 'n roll

A BRASILIZAÇÃO DO OCIDENTE! (retransmissão do Ex-Blog do Cesar Maia)

Fonte: Ex-Blog do Cesar Maia, edição de 01/06/2012
Nota: quando sou eu quem fala essas coisas, trata-se de besteira, de paranóia, de "complexo de Cassandra". Quando é um sociólogo europeu que fala, todos aceitam. Mas não importa quem leva o crédito, em breve eu estarei em "complexo do 'eu não disse?'" quando finalmente os palermas de nossa nação entenderem o recado.

A BRASILIZAÇÃO DO OCIDENTE!

(Ulrich Beck sociólogo, professor emérito da Universidade de Munique e professor da London School of Economics - Referência da esquerda alemã e europeia- El Pais, 27).

1. A consequência involuntária da utopia neoliberal é uma brasilização do Ocidente: são notáveis as semelhanças entre como está se configurando o trabalho remunerado no chamado Primeiro Mundo e como é o do Terceiro Mundo. A temporalidade e a fragilidade do trabalho, a descontinuidade e a informalidade estão alcançando as sociedades ocidentais, até agora baluartes do pleno emprego e do Estado de Bem Estar.

2. Assim, no núcleo duro do ocidente, a estrutura social está começando a se parecer com uma espécie de colcha de retalhos que define a estrutura do sul, de modo que o trabalho e a existência das pessoas se caracteriza agora pela diversidade e insegurança.

3. Em um país semi-industrializado como o Brasil, aqueles que dependem do salário de um trabalho em tempo integral representam apenas uma pequena parte da força de trabalho; a maioria ganha a vida em condições precárias. São representantes comerciais, vendedores ou artesãos, e oferecem todo tipo de serviços pessoais ou alternam entre diferentes tipos de atividades, empregos ou cursos de formação.

4. Na Europa, na década de 1960, apenas 10% dos trabalhadores pertenciam a esse grupo. Na década de 1980 esse número ficava em torno de um quarto, e agora é cerca de um terço do total. Se as mudanças continuarem nesse ritmo - e existem muitas razões para acreditar que será assim - em outros dez anos apenas a metade dos trabalhadores terá empregos em tempo integral, enquanto a outra metade será, por assim dizer, empregos à brasileira.

5. Assim, a política econômica da insegurança está diante de um efeito dominó. Fatores que nos bons tempos iriam se complementar e se reforçar mutuamente - o pleno emprego, as pensões garantidas, as elevadas receitas fiscais, a liberdade para decidir a políticas públicas - agora enfrentam uma série de perigos em cadeia. O trabalho remunerado está se tornando precário, os fundamentos do Estado de bem-estar estão se desfazendo, as histórias atuais de vida desmoronam, a pobreza dos idosos é algo programado com antecedência, e, com os cofres vazios, as autoridades locais não podem assumir a demanda crescente de proteção social.

6. Enquanto o capitalismo global dissolve nos países ocidentais os valores essenciais da sociedade do trabalho, rompe-se um vínculo histórico entre o capitalismo, o Estado de bem estar e a democracia. Não se engane: um capitalismo que não busque mais do que o benefício, sem levar em conta os trabalhadores, o Estado de bem-estar e a democracia, é um capitalismo que renuncia a sua própria legitimidade.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pequeno exercício do legado de Francis Bacon para o mundo

Bem pensar é virtude há muito tempo esquecida pelos indivíduos da espécie humana bárbara e amiúde acéfala de nossos tristes, sombrios, pesarosos e negros éons. É penoso um dia entre tantos ignorantes olvidados de espírito. Por certo posso afirmar a solidão impingida a um apaixonado humanista e entusiasta do espírito libertador presente em nossos ancestrais filósofos, amantes e empiristas dispostos a sacrificar um mundo de trevas, preconceitos, medos, paranóias, obscurantismos e outras vergonhas para um futuro de esperança plenamente contido em suas profundas idéias hoje esquecidas em alguma utopia. Basta lembrar um momento de puro ardor dessa chama e eu entrego-me ao mais frenético sonho arrazoado, perdido, idealizando dias em alguma utopia movida pelos delírios e devaneios tolos de um infeliz e infantil. Um dia, talvez, eu e alguns heróis iremos cantar a alegria vitoriosa do refulgir do novo tempo e, quiçá, alguns idealistas se lembrarão um pouco de alguns outros sonhadores e delirantes desse mundo novo, outrora uns doidos vencidos, alquebrados, ditirambicamente levados a crer ser impossíveis sonhos a alguns exageradamente aéreos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Hegemonia, ideologia e paradigma em Karl Marx - um resumo

Prezados leitores.

Há alguns dias fui convidado a dar uma aula particular sobre esse tema. Segue o resumo.

Para Karl Marx, a classe dominante usa sua hegemonia social para impor sua ideologia e paradigma para as classes proletariadas. Para esse filósofo, hegemonia é entendida como um direito auto-outorgado sob o fundamento da propriedade ou posse dos meios de produção e geração de riqueza. Hegemonia, portanto, deve ser entendida não sob um aspecto benéfico, mas como uma justificativa, como uma ferramenta para as classes dominantes se manterem no poder, e ela é imposta às classes proletárias por meio das relações de trabalho dentro do pensamento de Marx.

Faz-se necessária uma pausa para elucidar o conceito dentro do pensamento de Marx. Para ele, desde a queda do Feudalismo, podemos identificar na sociedade europeia e suas derivadas grupos de pessoas, ou classes, caracterizadas por um grupo comum de interesses. Assim, nomeiam-se principalmente:

  • A classe dominante, cujo objetivo maior é manter-se no poder e explorar o fruto do trabalho das outras classes;
  • A classe média, formada, na concepção do autor, pelos profissionais liberais e cujo interesse é assumir o poder detido pela classe dominante;
  • E a classe proletária, caracterizada pela inexistência de ideologia ou objetivos próprios, e por se o principal meio de geração de riquezas na forma dos frutos do seu trabalho.

A interação entre essas classes se dá movida pelo conflito de interesses entre elas, chamada por Marx de Luta de Classes.

Para manter sua hegemonia, isto é, a propriedade exclusiva dos bens produzidos pelo trabalho das outras classes, a classe dominante recorre à criação e manutenção de uma ideologia e um paradigma que lhe sejam favoráveis. Ideologia, no sentido mais comum da palavra, é um conjunto de proposições aceitas acriticamente como verdadeiras por esse grupo social; mas, para Marx, o conceito assume um aspecto ligeiramente diferente: ela é um conjunto de crenças impostas como verdadeiras pelas classes dominantes às dominadas, cuja amplitude varia do puramente social (como o direito de primazia dos dominantes sobre os dominados) às questões metafísicas (como religião e pós-vida). A ideologia, portanto, figura como um instrumento de controle social para que as classes dominantes mantenham sua hegemonia.

O paradigma é mais complexo, pois se refere não só a um conjunto de crenças como a um conjunto de expectativas – a grosso-modo, a ideologia diferencia o verdadeiro e o falso, e o paradigma o certo e errado. Por paradigma, compreende-se, usualmente, um conjunto de teorias e metodologias que norteiam a construção do hábito (no sentido em que David Hume dá a esta palavra em Um Tratado da Natureza Humana). Em Marx, esse “hábito” deve ser compreendido em um sentido mais pavloviano, pois entende-se que as classes dominadas foram devidamente condicionadas pela dominante, incapazes de compreender ou reagir às percepções mentais que estejam fora dos domínios estabelecidos por esta para aquela.

sábado, 24 de março de 2012

Vá em paz, Chico

Não há palavras para descrever o pesar que me tomou quando soube da morte de Chico Anysio, ocorrida ontem. Seus personagens carismáticos, sua crítica ácida não apenas do estilo de vida dito burguês como das críticas a esse estilo de vida... Impossível não se lembrar desse humorista tão genial ao ponto de se tornar onipresente em nossas memórias.
Vá com Deus, Chico. Seu legado fala muito mais eloquentemente do que quaisquer palavras que eu possa escolher. E agora, mais do que nunca, lamentamos muito o egresso de pessoas como Rafinha Bastos no mundo do humor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Quem disse que Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro foi uma boa coisa pro povo?

Fonte: Ex- Blog do Cesar Maia, edição de 12/03/2012

RIO-2016: PROBLEMAS NO PROJETO DE EDIFÍCIOS AO LADO DA RODOVIÁRIA!

    
1. Entende-se a ansiedade da prefeitura do Rio de mostrar qualquer coisa à Comissão do COI, que está chegando para inspecionar o andamento. De prático não há nada, ou quase. Então vai mostrar a praça do Rock'n Rio e a maquete do projeto de edifícios ao lado da Rodoviária Novo Rio, hipotética futura Vila de Jornalistas. Hipotética, pois com o núcleo dos JJOO na Barra vai ser difícil convencer jornalistas de ficarem por ali. Mas há problemas delicados nesse projeto.
    
2. A área na Av. Francisco Bicalho, lado direito no sentido Centro-Área Portuária, onde serão construídos os edifícios, se chama Praia Formosa. Toda a Francisco Bicalho, até a Praça da Bandeira -num sentido- e Campo de Santana -em outro-, era um braço de mar, aterrado na reforma urbana do Rio e construção do novo porto, a partir de 1903, no governo Rodrigues Alves. E ali era uma praia, a Formosa.
   
3. Tudo feito com tecnologia da época. Por isso, a Francisco Bicalho sempre alaga numa chuva mais forte. Seus dois lados são de pequeníssimo adensamento, com a estação Leopoldina, a Usina de Asfalto e o IML de um lado e a praia Formosa de outro. Essa era o pátio de manobras dos trens de carga. Depois, galpões de escolas de samba do segundo grupo.
  
4. Adensar a área sem refazer o sistema de drenagem será a fórmula do caos. Imagine-se uma Vila de Jornalistas cercada de enchente, sem mobilidade, no caso de uma chuva média no período dos jogos?
  
5. E há mais dois problemas tão graves quanto. O primeiro é uma mentira, mais uma: haveria um Hotel 5 estrelas no local onde era a Usina de Asfalto. Todos os hotéis cinco estrelas do Rio estão na orla, da Glória à Barra da Tijuca. O mercado não absorverá um hotel de 5 estrelas ali e nenhum investidor vai jogar dinheiro fora.
  
6. O terceiro problema é a propriedade da área. Esta pertence à RFF -rede ferroviária federal- que se encontra em um complexo processo de liquidação, com um enorme passivo, especialmente trabalhista. A massa falida da RFF terá que ser paga. Aliás, já deveria ter sido paga, pois com o anúncio do projeto, ela será automaticamente valorizada com um valor potencial difícil de precisar.
  
7. E um problema colateral, que é uma espécie de rotina nos projetos da atual prefeitura. Ninguém sabe por que -nem como- a empresa divulgada foi escolhida; ninguém conhece a memória de cálculo dos valores, que valor de apartamentos a serem disponibilizados à venda para posse em 2017, para avaliação de mercado, enfim..., fora os costumeiros croquis coloridos para conseguir espaço na imprensa, nada se sabe. E vai se acumulando trabalho para as investigações de praxe do MP.
           
8. Em tempo. O consórcio Solace, que obteve a concessão do empreendimento é formado pelas empreiteiras OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Menos Marketing, mais qualidade (retransmissão de artigo)

Menos Marketing, mais qualidade

Fonte: http://www.joseserra.com.br/archives/artigo/menos-marketing-mais-qualidade


Ao fim de nove anos de governo do PT, a política educacional brasileira resultou numa verdadeira sopa de pedras. Não tem consistência, e as iniciativas desconexas vão se sucedendo — pedras jogadas na panela aquecida por vultosos recursos públicos, produzindo pouca substância. Os estados e os municípios cuidam da pré-escola, ensino fundamental e médio. Mas a esfera federal detém capacidade legislativa e normativa, além de recursos em grande escala, para atuar no setor. No ensino superior público, o grande agente é o ministério da Educação, com a exceção de uns poucos estados que têm grandes universidades.

O mais recente exemplo dessa inconsistência é o Plano Nacional de Educação 2011-2020, resumido pelo novo titular da Educação no Senado, Aloizio Mercadante. A superficialidade e a confusão das falas do ministro afligem aqueles que consideram a educação o principal desafio brasileiro neste século.

Nem no Plano nem nas falas há qualquer pista para enfrentar o fato de que o ensino superior público no Brasil, na era petista, foi além da estagnação. Acredite se quiser: em 2010, formou 24 mil estudantes a menos do que em 2004, segundo estimativa de Carlos Brito, da FAPESP, destoando da fase de forte expansão no governo FHC e do ministro Paulo Renato.

No momento, a pedra mais vistosa atirada na sopa são os tablets, a serem distribuídos de graça. Ninguém responsável pode rejeitar a chegada das modernas tecnologias às salas de aula. Mas não passa de mistificação barata — ou muito cara, a depender de como se faça — essa história de que a educação só melhora se cada aluno e cada professor tiverem nas mãos um iPad, como promete o ministro. Rejeitar a adoção de modernas tecnologias seria o mesmo que combater a luz elétrica e a água encanada. Mas um professor mal preparado o será em qualquer circunstância. Um aluno que mal sabe escrever e multiplicar não será redimido por um tablet. A distribuição de material eletrônico, sem bons guias curriculares e programas de formação e qualificação dos professores, é dessas firulas atrás de manchetes. O governo Lula fez isso em 2005, com laptops — "Um Computador por Aluno", lembram? O fracasso foi retumbante.

Como noticiou este jornal, 3,8 milhões de crianças e jovens não estão na escola; na faixa dos 15 aos 17 anos, nos oito anos de FHC e P. Renato, o percentual fora da escola caiu de 33% para 18%. Depois disso, a inclusão se desacelerou e 14% ainda não frequentam nenhuma instituição de ensino. Acredite se quiser: em 2010 houve menos concluintes do ensino médio do que em 2003, com um decréscimo anual de 0,5% ao ano.

Com ou sem tablets – eles são uma ferramenta e não uma política pública em si – o Governo Federal deveria se empenhar em pôr na escola essa imensa fatia da juventude e elevar o padrão de ensino, em especial expandindo o ensino profissionalizante. Não é o que se vê. Tome-se o Pronatec, programa copiado do Protec, proposta nossa durante a campanha de 2010, tão combatida pelos petistas. Além do atraso para dar início ao programa, foram excluídas as bolsas em escolas técnicas particulares, precisamente as que atendem a jovens mais pobres. Isso exclui cerca de 50% dos alunos de escolas técnicas.

Em São Paulo, em 11 anos, foram criadas 104 novas escolas técnicas de nível médio, abrindo 150 mil vagas adicionais. É preciso pensar mais no estudante e menos nas manchetes; mais em dar uma resposta aos problemas reais dos alunos e de suas famílias e menos em soluções marcadas pela publicidade e pelo açodamento. A improvisação é tanta que a capacitação técnica de professores e o método pedagógico que deveriam orientar a utilização dos milhões de tablets prometidos só estão previstos para depois da chegada dos aparelhos!

Outra pedra atirada na sopa da educação petista foi a tentativa de transformar o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, numa prova de acesso à universidade. Sob o pretexto de pôr fim ao vestibular nas universidades federais, criou-se o maior vestibular do mundo ocidental. Assistiu-se a um festival de trapalhadas, injustiças, arbitrariedade, subjetivismo e falta de critério na correção das provas. No fim, o aluno nem sabe direito por que tirou essa ou aquela nota. Pior: as críticas corretas e sensatas foram consideradas tentativas de sabotagem. A incompetência flerta freqüentemente com o autoritarismo.

Ao abordar as dificuldades do Enem como "vestibulão", o novo ministro produziu mais uma pérola, dizendo que os problemas decorrem do fato de o Brasil ser muito grande e alegou que isso não é culpa do MEC. Será que o PT vai esperar que o país encolha para começar a governá-lo com competência? Ou quem sabe seus ministros possam se candidatar a cargo de gestores na Escandinávia, cujos países são bem menores do que o Brasil e que solicitam menos dos homens públicos, pois muitas das condições que ainda infelicitam o nosso povo já estão resolvidas por lá. É sempre bom lembrar que o Brasil, afinal de contas, já tinha esse tamanho antes de o PT chegar ao poder.

Em 2009, 65 nações participaram do Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que verifica o conhecimento de estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências. O resultado é vexaminoso: o Brasil obteve o 54º lugar, junto ao Panamá e Azerbaijão, atrás de países como Bulgária, Romênia, México, Chile e Uruguai.

O que nos falta? Tablets? Sem uma política pública conseqüente de valorização e qualificação do professor, eles são inúteis. Servem à propaganda, não aos estudantes; servem à demagogia, não à elevação das sofríveis condições de ensino no Brasil. É possível, sim, mudar essa realidade desde que se façam as escolhas certas. As autoridades nacionais da área educacional precisam perseguir menos a publicidade e mais a qualidade. Se o fizerem, as notícias fatalmente os alcançarão.

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